A eleição no Brasil está dizendo muito do momento que vive este País. Economicamente vamos a toque de caixa sem qualquer disciplina, isto é, sem o mínimo mental de planejamento e de foco futuro. Um acontecimento aqui outro ali que parecem ser planejados ante a nossa necessidade, na verdade frutos de outras intenções e objetivos, menos de uma política de crescimento e de visão administrativa. Assim vem Belo Monte, pré-sal, pólo petroquímico, portos, aeroportos, ferrovias e outras vias terrestres e aquáticas, tudo com um atraso inaceitável e aos trancos e barrancos. Nada, entretanto, é finalizado. Muitos acontecimentos (obras) previstos não saíram do papel, quiçá da boa vontade. Nas esferas estaduais, as diferenças do federal são pontuais.
Os efeitos do endividamento externo oriundos da aquisição de equipamentos começam a ser sentidos na economia brasileira. A indústria nacional melhorou a qualidade dos seus produtos e aumentou a sua capacidade de produção, fato que a possibilitou estimular o consumo interno a preços e condições favoráveis a população. Este incentivo produtivo teve como maior fundamento a possibilidade de compra, via crédito, pelo consumidor nacional, agregado ao fator exportador de alguns produtos que auxiliou o crescimento industrial, mesmo que em pequena escala e setor de produção. Na área de manufaturados, estamos em queda produtiva e mais acentuada na área de exportação que não chega a 1% do bolo mundial de produtos exportados. Isto não vai mudar tão cedo porque nossa produção intelectual, patentes, representa apenas 0,2% no contexto mundial. Estados Unidos e Japão detém 63% das patentes. Tem sido o mercado interno o sustentáculo e sobrevivência de grande parte de nosso parque industrial. Como o domínio deste mercado é de transnacionais, o dinheiro acaba saindo para as matrizes. Fica aqui o quinhão da voracidade do fisco que acaba atingindo, em cheio, as pequenas e médias empresas nacionais.
E que tem a eleição com isso? Até agora não há nenhuma proposta política de governo que contemple com seriedade e conteúdo o que será feito nos próximos anos para mudar a situação vigente e mais, dar consistência industrial e econômica ao Brasil. Retirar da dependência de commodities a nossa economia e direcioná-la ao sistema de produção e fornecimento de produto acabado e com tecnologia. Só assim podemos pensar e esperar por um futuro melhor com empregos de maiores ganhos para então sairmos do subemprego constituído de baixos salários e pouca qualificação. Nada se vê de propostas para retirar o Brasil da economia especulativa e de crédito, que só favorece bancos, financeiras e governo, para uma economia de poupança e investimento. É essa economia em vigor que permite a continuidade de muitos e péssimos serviços tais como saúde e educação.
Outro momento que a nossa eleição nos coloca às claras é a falta de compromisso dos políticos brasileiros em relação ao Estado legal, o Estado de Direito. No Brasil, para os candidatos presidenciáveis e anexos, o de menos é a Lei. É desavergonhada a participação do presidente Lulla e do governador de São Paulo, Goldman. Ambos, como detentores do poder, o mínimo que poderiam fazer pelo respeito às leis, seria observá-las, quando não obedecê-las. Mostram, de forma grosseira e em forma de piadas, inclusive na presença do presidente do TRE, que a lei é mero detalhe na vida da organização social do Brasil. Com essa atitude, me permitem chamá-los de irresponsáveis a serviço da podridão social. Estão no mesmo nível do PCC do Camacho. Não podem reclamar da criminalidade e corrupção que imperam no País. São péssimos exemplos para a cidadania, para a formação da nossa juventude.
Todos os presidenciáveis, em maior ou menor grau, burlaram a lei, inclusive a verde Marina quando de sua filiação ao PV sem a devida e legal justificativa de desfiliação do PT. O que mais impressiona em tudo isso, é a passividade da Justiça eleitoral brasileira ante os fatos e que por meio de pequenas e disfarçadas atitudes, se mostra operante. Em razão dessas bravas “medidas educativas” e “penalizadoras”, percebe-se que a “lei” do ficha limpa vai para o sótão da casa da justiça. É desserviço para todo lado.
Raphael Curvo, Jornalista, advogado pela PUC-RIO e pós graduado pela Cândido Mendes-RJ