AGÊNCIA ESTADO, BRASÍLIA
A Polícia Federal desencadeou ontem a Operação Tormenta, que tem por objetivo desarticular quadrilha que fraudava concursos públicos em todo o País. Foram expedidos 34 mandados de busca e apreensão, sendo 21 na Grande São Paulo, 1 no Rio de Janeiro, 3 na região de Campinas e os demais na Baixada Santista, além de 12 mandados de prisão temporária.
A PF iniciou as investigações através de informações obtidas durante a investigação social realizada no âmbito do concurso para Agente de Polícia Federal de 2009, fase do concurso que faz parte do sistema de proteção adotado pela instituição no recrutamento de novos policiais. A partir daí, identificou que a quadrilha atuava em todo o País mediante o acesso aos cadernos de questões antes da data de aplicação das provas.
As investigações revelaram que, além do concurso da PF, o grupo teve acesso privilegiado às provas do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (2ª fase/2010) e do concurso da Receita Federal (Auditor-Fiscal/1994).
Foram identificados 53 candidatos que tiveram acesso à prova de agente federal, pelo menos 26 candidatos que tiveram acesso à prova da OAB e há indícios de que 41 candidatos tenham tido acesso à prova da Receita Federal.
Mesmo após a notícia do vazamento da prova da OAB pela imprensa, e sabendo que o fato seria investigado pela Polícia Federal, a organização criminosa se articulou para fraudar, sem sucesso, concursos da Caixa Econômica Federal, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do INSS - Perito Médico, da Advocacia Geral da União (AGU), da Santa Casa de Santos - Residência Médica, de Defensor Público da União e da Faculdade de Medicina de Ouro Preto.
Segundo nota divulgada pela PF, foram também constatados indícios de fraudes em outros concursos. Para o órgão, existe no País um esquema de fraudes sistêmicas em concursos públicos.
O grupo criminoso, após identificar os concursos de interesse e a instituição responsável pela realização, atuava de várias formas para auxiliar o cliente: por meio de aliciamento de pessoas que tinham acesso ao caderno de questões, para acesso antecipado às provas; repasse de respostas por ponto eletrônico durante a realização do concurso e a indicação de uma terceira pessoa mais preparada para fazer o concurso no lugar do candidato-cliente. A quadrilha atuava ainda na falsificação de documentos e diplomas exigidos pelos certames quando o candidato não possuía a formação exigida.
Nacional
A quadrilha tinha ramificação nacional e atuava há pelo menos 16 anos. Entre os órgãos cobiçados estavam a Receita Federal e Polícia Federal, cujos salários chegam a R$ 20 mil mensais. Dependendo do nível salarial do concurso, o valor da prova variava de 50 a 150 mil dólares.
Segundo o diretor da Diretoria de Inteligência da PF, Marcos David Sallem e o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, chefe da Operação, a PF prendeu ontem os 12 principais operadores da quadrilha, todos de São Paulo, entre os quais o chefe do esquema, um empresário, dono de uma universidade na capital. Outro preso é um policial da Polícia Rodoviária Federal. Os nomes não foram divulgados por ordem judicial. Todos foram levados para a Delegacia da PF em Santos, onde foram ouvidos.
O primeiro concurso que a PF tem notícia de atuação da quadrilha foi da Receita Federal, realizado em 1994. Quarenta e uma pessoas obtiveram o gabarito da prova. Entre estes estavam a mulher, o filho e a nora do chefe da quadrilha.
Além dos concursos em que foram comprovadas as fraudes, dois outros (Abin e Anac) também serão investigados pela PF porque foram encontrados indícios de irregularidades praticadas pela quadrilha.