Novidades em medicamentos, equipamentos, exames e técnicas a serviço da Medicina são assuntos que povoam constantemente os noticiários. Felizmente, o desenvolvimento científico vem aumentando a nossa longevidade e promovendo tratamentos cada vez mais eficientes, inclusive para pacientes portadores de doenças extremas como o câncer e a aids, trazendo alento e esperança a um sem número de pessoas que lutam por um mínimo de qualidade em suas vidas. Por outro lado, infelizmente, também acompanhamos um grande número de escândalos na área de Saúde que refletem o descaso por parte de alguns gestores e profissionais para com o sofrimento e a dor da população.
Erros médicos, negligência, carência de profissionais especializados e falta de atenção são reclamações frequentes. Paralelamente ao avanço tecnológico, observa-se a queda na qualidade dos serviços oferecidos e as novidades quase nunca são utilizadas diretamente em benefício dos mais carentes ou da melhoria do atendimento público de saúde. Apesar da notória abnegação de vários profissionais, nota-se um crescente distanciamento de muitos outros em relação ao compromisso de cuidar. É importante reforçar que este problema não é generalizado, mas se repete cada vez mais frequentemente. Esta situação nos obriga, educadores na área de Saúde, a buscar novas estratégias para o enfrentamento de um velho desafio: o de incutir na formação de novas gerações de médicos a preocupação com o outro.
Em um cenário tão competitivo de mercado de trabalho e tantas exigências profissionais, o compromisso com a alteridade, embora seja uma questão óbvia, fica relegado ao segundo plano. A premissa é válida para todas as profissões, mas para as áreas de Saúde e Educação talvez seja um ponto mais sensível na medida em que se busca falar à geração atual, sobre o respeito à vida e ao bem comum.
Os estudantes da área de Saúde, em geral, estão imbuídos desses valores quando ingressam no ensino superior. Têm a expectativa de que podem fazer a diferença. E realmente podem. Mas a dureza dos hospitais nem sempre colabora.
Sem que se deem conta, os jovens se deixam envolver na engrenagem de um sistema que sufoca e automatiza. Situações extremas, maus exemplos de quem menos se espera, falta de ambiente para refletir sobre os acontecimentos trazem como resultado o endurecimento da alma. Por isso, cabe aos educadores prepará-los para a realidade e os estimular a pensar e amadurecer sobre o sentido de suas escolhas e o seu papel para promover mudanças. Estimular a alteridade e evitar que o ânimo e a esperança de fazer um mundo melhor se esvaia devem estar entre os principais objetivos do educador na área de Saúde em um processo humanizador. A formação de qualidade deve ser uma experiência transformadora de vida, criativa e capaz de desenvolver as competências do aluno em prol da coletividade e do bem-estar social. E todos os que optarem pela área da Saúde têm de ter a consciência de que estão se engajando em uma luta pelo bem do próximo, onde já não tem lugar o interesse próprio ou qualquer manifestação de comportamento autocentrado. O profissional da Saúde é um agente do Bem. A ele acorrem, ainda que através do nosso precário sistema público, pessoas que sofrem, na esperança da cura ou da mitigação de seus males. O profissional da Saúde também é um profissional da Esperança. A escola não pode voltar as costas para esta realidade.
A grande inovação nesta área é olhar para o outro de forma integral, entendendo-o como um ser complexo, com medos e desconhecimento acerca de seu problema. A novidade é caminhar junto com o paciente e fazê-lo acreditar que, em parceria com o profissional de saúde, torna-se possível prevenir, ou, pelo menos, entender sua doença com intuito de conviver com ela e até superá-la, independentemente de qual seja.
Abílio Aranha, é coordenador geral de ensino da Faculdade de Medicina de Petrópolis e da Faculdade Arthur Sá Earp Neto.