Reportagem publicada
domingo
pelo Correio do
Estado mostrou que cerca
de 25 passageiros embarcaram
no dia anterior
no Trem do Pantanal, que
tem capacidade para cerca
de 190 pessoas. E, operando
praticamente vazio,
o "atrativo turístico"
trabalha no vermelho. Os administradores garantem que
isto estava previsto e que serão necessários alguns anos
para que o trem "decole". Para este ano a administração
espera transportar 30 mil pessoas. Para isto seria necessária
uma média de 570 passageiros em cada um dos 52
finais de semana de 2010. Acreditar na prosperidade do
negócio faz parte da vida de qualquer empreendedor.
Porém, esperar que o fluxo de turistas aumente na proporção
anunciada é, ao que parece, um certo exagero.
Qualquer sul-mato-grossense de bom senso
torce para que a iniciativa vingue e ajude a trazer desenvolvimento
não só ao setor de turismo, mas a todo
o Estado. Para isto, porém, o passeio teria que ser estendido
até Corumbá, já que é entre Miranda e a cidade
da fronteira com a Bolívia onde estão os principais
atrativos turísticos pantaneiros. Contudo, por conta da
pressa de determinados homens públicos, o passeio foi
ativado somente pela metade. E, oito meses após o início
das viagens, os vagões continuam praticamente vazios,
embora os administradores garantam que, em média,
130 pessoas tenham pago passagem por fim de semana
durante este período. Quer dizer, era previsível que dificilmente
haveria público suficiente para um passeio
sem grandes atrativos, já que a passagem não é das mais
baratas. Então, com base nisto, o bom senso ensinava
que não se lançasse um produto fadado a ter vida curta.
É mais do que evidente que o poder público
precisa garantir infraestrutura para determinadas atividades
econômicas. Para chegar verdadeiramente ao
Pantanal, seriam necessários investimentos milionários
nos mais de 200 quilômetros de trilhos entre Miranda
e Corumbá. Nem a empresa que transporta passageiros
nem a que atua no transporte de cargas está se mostrando
disposta a fazer o investimento. Então, ao que
tudo indica, para dar longevidade ao Trem do Pantanal,
a saída será injetar recursos públicos, embora a ferrovia
esteja sob responsabilidade da iniciativa privada há
cerca de 15 anos. Que a cidade de Corumbá mereceria
ser contemplada com o retorno do trem não restam dúvidas.
Porém, antes de lançar mão destes investimentos
milionários, as autoridades precisam avaliar se realmente
haverá retorno à sociedade como um todo e deixar
claro de quem é a responsabilidade pela manutenção e
principalmente da recuperação da linha férrea. O que
se viu até agora é que grandes grupos privados exploram
o patrimônio público de olho em lucros rápidos, mas
se recusam a reinvestir parte daquilo que retiram para
garantir o funcionamento a longo prazo. Com a ferrovia
é exatamente isto que acontece. E, para salvar o projeto
do transporte de passageiros, que contou com o aval do
presidente Lula, é provável que agora se injetem milhões
e milhões de recursos públicos que, na realidade, beneficiarão
diretamente um pequeno grupo de empresas que
obrigatoriamente deveriam deixar a ferrovia em boas
condições de uso. Antes de qualquer injeção de recursos
públicos, obrigatoriamente os contribuintes precisam
receber informações minunciosas e detalhadas a respeito
do caso, pois o Trem do Pantanal pode, na realidade,
estar servindo somente como pretexto para repassar
dinheiro público ao grupo responsável pela exploração
do transporte de cargas.