SÃO PAULO
A Operação Mãos Limpas, que na semana passada levou para a prisão o governador e um ex-governador do Amapá, só foi possível depois que integrantes dos supostos esquemas de corrupção colaboraram com as investigações. As informações foram passadas por empresários que não receberam sua parte dos possíveis desvios de recursos, por meio de licitações fraudadas, e pessoas que disseram não terem recebido a propina prometida.
Além disso, funcionários públicos obrigados a assinar pareceres para dar aparência de legalidade aos contratos do Estado com empresas também passaram a dar dicas para os policiais, segundo a Folha Online.
Esses depoimentos permitiram aos investigadores ir à frente na apuração, que até agosto deste ano estavam baseadas principalmente em escutas telefônicas e documentos públicos. Agora, a PF vai examinar, em Brasília, o que foi apreendido nos locais que sofreram busca e apreensão.
Na operação, foram presos o governador Pedro Paulo Dias (PP), que concorre à reeleição, o ex-governador Waldez Góes (PDT), candidato ao Senado, e mais 16 pessoas, entre empresários e políticos. Além do governo estadual, um dos principais focos dos policiais e do Ministério Público Federal é a Assembleia Legislativa do Estado.
Nenhum deputado foi preso durante a operação. Mas o presidente da Casa, Jorge Amanajás (PSDB), que também é candidato ao governo, e outro deputado, Edinho Duarte (PMDB), foram obrigados a depor na sexta-feira.
Amanajás deu explicações à PF sobre a folha de pagamento que administra e uma fundação que gerencia. Os investigadores não deram detalhes sobre as suspeitas alegando que o caso está sob sigilo.
Amanajás nega irregularidades na gestão da Casa e disse que a PF não apresentou a ele provas sobre possíveis problemas. “Foi uma conversa normal, tranquila.”
O presidente da Assembleia era um aliado histórico de Góes e rompeu com ele neste ano, após não ter sido escolhido para a disputa pelo governo, em favor do então vice Pedro Paulo.
Dinheiro para campanha
As investigações da Operação Mãos Limpas encontraram fortes indícios de que o loteamento do governo por parentes do ex-governador Waldez Góes e do governador Pedro Paulo Dias garantia a perpetuação do esquema de desvio de recursos públicos descoberto pela Polícia Federal. Além disso, o dinheiro desviado e as propinas cobradas de empresários serviriam, segundo o Ministério Público, para financiar a campanha de reeleição de Pedro Paulo Dias.
Todos os indícios constam de documento do Ministério Público obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, que embasa os pedidos de prisão temporária de 18 pessoas, incluindo o atual e o ex-governador, e de busca e apreensão cumpridos pela PF.
Os documentos e interceptações telefônicas mostraram que Pedro Paulo Dias estaria negociando, com representante de um grupo empresarial da Indonésia, o repasse de R$ 30 milhões para sua campanha eleitoral. A prática, conclui o MP, além de crime eleitoral, caracterizaria a prática de corrupção e peculato.