Um dos maiores acertos de Gisele
Joras na adaptação de “Bela, a feia” foi
ambientar cada vez mais a trama colombiana
para o clima e os costumes
cariocas. Dessa forma, o história não
tem se distanciado da verossimilhança
necessária para que os personagens,
por mais maniqueístas que possam parecer,
ainda continuem naturalistas.
Até mesmo com a comédia rasgada, que
muitas vezes beira o pastelão, funciona
nessa proposta. Com cenários bem
acabados, uma ágil movimentação de
câmaras e tomadas criativas do diretor
Edson Spinello, a produção também
prende a atenção pelo bom acabamento.
Mesmo em tons fortes e quentes,
explicitamente valorizados a cada capítulo,
a trama tem o respiro necessário
das cenas externas que dão uma leveza
em toda a história. Diferentemente da
maioria das novelas da Record, quase
todas com parcas cenas externas, “Bela,
a feia” é arejada. Cenários como a Praia
de Copacabana, no Rio, ou mesmo a cidade
cenográfica da história, montada
num parque de diversões carioca, conseguem
trazer um respiro que combina
com o clima animado do folhetim.
Nessa proposta de fazer uma trama
solar e jovial, o cenário que mais se
destaca, além da aconchegante agência
Mais Brasil, é o Salão Montezuma, palco
dos personagens mais exagerados e populares,
como Elvira, de Bárbara Borges,
Haroldo, de João Camargo, e a desmiolada
Magdalena, de Laila Zaid. Com uma
diversidade de objetos “kitsch”, garimpados
pela cuidadosa produção de arte,
este ambiente é um dos pontos altos da
produção não só pelo multicolorido e
pela mistura de estilos típica de estabelecimentos
do subúrbio carioca, mas
pelas boas atuações desse núcleo.
Só que todo o colorido da história
não tem sido suficiente para erguer os
parcos 9 pontos de média no Ibope.
Talvez, a drástica mudança no visual
de Bela, de Giselle Itiê, que aparece totalmente
repaginada quando volta a
trabalhar na agência, após sofrer uma
tentativa de assassinato, consiga erguer
os ânimos da Record com um aumento
expressivo da média da audiência da
trama.
Um dos prováveis pontos fracos da
história é a sobriedade que muitas vezes
destoa do resto da produção no núcleo
dos vilões. Simone Spoladore, que
interpreta a diabólica Verônica, Thierry
Figueira, que dá vida ao malvado Dinho,
e Iran Malfitano, como Adriano,
um vilão que pouco convence com seu
semblante constantemente franzido,
ainda não se destacaram. Mais parecem
três patetas atrapalhados. Sempre
rabugentos, em atuações muitos tons
acima em suas vilanias, eles se transformaram
nos erros mais gritantes da
produção.
No entanto, são justamente esses
personagens que menos acrescentam à
história, que permitem uma boa quantidade
de cenas de ação. Com tomadas bem
acabadas, uso de gruas, trilhos e bons
efeitos especiais, as externas são acompanhadas
de um esmero técnico. Afinal,
o que a Record tem feito de mais substancial
em suas recentes produções são
as cenas de ação, fruto de investimentos
na emissora em boas contratações de dublês
e uma competente equipe de efeitos
especiais. Mesmo com bom tempero e ingredientes
necessários para uma trama
de êxito, parece faltar pouco mais que
o reaparecimento de Bela para a novela
realmente engrenar nesta reta final.