Embora já esperada pelo mercado financeiro, a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), de manter a taxa básica de juros (Selic) em 8,75% ao ano, dividiu opiniões dentro e fora do Copom. No comitê, cinco votaram a favor e três contra, querendo acréscimo de 0,5 ponto percentual no índice. Do lado de fora, economistas também calculam os prós e contras da medida que, em Campo Grande e outros municípios brasileiros, pode significar inflação anual acima da meta prevista pelo governo federal, ou seja, preços mais elevados ao consumidor, principalmente nos itens da cesta básica. No início de março, quando o Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes) divulgou o Índice de Preços ao Consumidor de Campo Grande (IPC-CG), o coordenador do Nepes, Celso Correia de Souza, afirmou que o aumento da taxa Selic seria a saída mais rápida para conter a inflação na Capital que, apenas nos dois primeiros meses de 2010, chegou a 1,76% – mais de um terço da média inicialmente prevista para todo o ano, de 4,5%. “Com isso (o aumento da Selic), o crédito fica mais difícil na praça e, sem crédito, cai o consumo, reduzindo os preços”, explicou, cogitando a solução. Com a inflação acumulada em 1,76% (1,34% de janeiro e 0,42% de fevereiro), Campo Grande teria que manter o índice em torno dos 0,27% nos próximos 10 meses. Porém, apenas na primeira semana de março, o IPC-CG já verificou alta de 0,52%, puxada principalmente pelo grupo alimentação, que subiu 2,48% – confirmando a tendência de elevação na cesta básica, prevista pelo coordenador se o governo não tomasse uma medida rápida, como o aumento da Selic, para conter os preços. Mas, segundo o economista Thales de Souza Campos, da Federação do Comércio de Mato Grosso do Sul (Fecomércio), a decisão do governo, de manter a Selic em 8,75% ao ano, foi acertada. Ele afirma que a medida provoca estabilidade da lei de oferta de demanda, mantendo o consumo. “O poder aquisitivo da população está estabilizado em relação à atual situação. Se retrair a inflação, haverá crise e aumento do endividamento”, estima. Para Campos, permanecer com a taxa no patamar de antes, embora pareça, não deve implicar índices inflacionários maiores que os atuais. “Vai depender da competitividade do mercado retrair ou aumentar. E como há competitividade, por conta do crescimento, principalmente do setor industrial em Mato Grosso do Sul, dificilmente os preços ficarão muito elevados”, explica, relembrando a lei da oferta e demanda. O presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems), Sérgio Longen, por sua vez, considerou que a manutenção dos juros foi uma decisão acertada. “Isso indica que o Banco Central percebe que as pressões inflacionárias existentes são temporárias e sazonais”, disse. Segundo ele, um eventual aumento nos juros neste momento seria inadequado porque não teria efeito sobre os preços e prejudicaria a retomada da atividade industrial. O presidente da Fiems considera que, apesar dos resultados positivos atualmente observados, a indústria ainda está em recuperação e não alcançou os níveis pré-crise. Em especial, o nível de utilização da capacidade instalada é bem inferior ao de 2008. Por isso, a elevação dos juros aumentaria o custo do capital e diminuiria a oferta de recursos na economia. São Paulo Na cidade de São Paulo, uma das mais importantes da economia nacional e que vive uma situação parecida com a de Campo Grande, com inflação acumulada de 1,5% – exatamente um terço dos 4,5% inicialmente previstos pelo governo federal –, a opinião do economista da Federação do Comércio, Fábio Pina, é a mesma que a de Campos. Segundo ele, subir a Selic encarece e dificulta os financiamentos, o que implica desaquecimento da economia.