Para facilitar o dia-a-dia muitos consumidores costumam pedir comida, produtos e serviços por telefone e receber a encomenda sem sair de casa. Hoje, o chamado delivery é muito comum e ganhou popularidade a partir de 2005. O que muitas pessoas não imaginam é que podem ter seus bens cobiçados por marginais, que utilizam-se do serviço de "disque-assaltante" para encomendar roubo a residências, empresas, malotes e veículos, em especial, caminhonetes, que são vendidas ou trocadas por droga na região de fronteira.
O adjunto da Delegacia Especializada de Repressão a Roubo (Derf), André Luiz Novelli, foi o inventor do termo disque-assaltante e explicou que deu esse nome depois de perceber que criminosos encomendavam crimes com a mesma naturalidade que se pede uma pizza. O serviço de delivery do crime é coordenado por internos do Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul e executado por aliados que estão em liberdade. Todo contato entre os criminosos é feito por telefone.
De acordo com o adjunto, todo trabalho começa com o olheiro. Essa pessoa é a responsável por fazer o levantamento da casa, veículo ou empresa que será o alvo.
Organização
O olheiro e o presidiário fazem estimativa do que poderá ser roubado no local. Definido o alvo, é o interno quem organiza a execução. Outros internos indicam pessoas que estão fora dos presídios e que podem fazer o assalto. Por telefone, o preso faz contato com os marginais. Um não conhece o outro e todos se encontram momentos antes da ação. "Eles visam pagamento de empreiteira, de obra e de empresa em razão da maior concentração de dinheiro, além de casas que tenham cofres e joias. O grupo nunca sabe quanto tem, mas sempre faz estimativa de quanto é possível levantar", garantiu André Novelli.
Disque-assaltante
"Eles compartimentam informação. Cada um sabe uma parte do roubo e essa é uma estratégia em caso de prisão. Um desconhece o outro e como são vários integrantes, a gente só consegue identificar dois ou três. É comum não identificar todos e quem não é preso renova o grupo com outras pessoas", explicou o delegado. Além de impossibilitar o desmantelamento completo da quadrilha, o disque-assaltante dificulta a responsabilização de quem já está preso. Normalmente, o grupo não sabe indicar o nome do contratante, sendo assim, fica praticamente impossível identificar o mandante em meio a cerca de 1,7 mil presos.
O diretor-presidente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), tenente-coronel Deusdete Souza de Oliveira Filho, não foi localizado para falar sobre o assunto.