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Criança é dada em casamento em troca de cesta básica

Criança é dada em casamento em troca de cesta básica

Redação

12/09/2010 - 14h58
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Osvaldo Júnior,
especial para o Correio do Estado

Ana (nome fictício) abre um sorriso tímido e, numa resposta mecânica, como se fosse a única resposta possível, diz: “quero ser professora”. A menina, que “sonha ser professora”, já foi, compulsoriamente, “esposa”, apesar de sequer ter alcançado uma década de vida. Ana é guarani kaiowá e tem nove anos, completados em março. Em meados do ano passado, ainda com oito anos, foi entregue a um homem, também indígena e com cerca de 50 anos, para ser “esposa” dele. O caso, que aconteceu no território indígena Ñanderu Marangatu, em Antônio João, mostra uma face pouco notada da exploração sexual na fronteira: a ocorrência dessa violência entre indígenas.
A menina passou, pelo menos, três dias na casa do autor da violência. O período foi suficiente para a criança ficar muito machucada – na ocasião de sua retirada da casa, Ana não conseguia se sentar e precisava de ajuda para poder andar.
A denúncia da violência foi feita por vizinhos a um agente de saúde, informa a psicóloga Vivian de Souza Quadros, coordenadora do Creas (Centro de Referência Especial da Assistência Social) de Antônio João. O agente comunicou a situação a uma enfermeira, que trabalha na aldeia; essa profissional retirou a menina da casa e a encaminhou para o Conselho Tutelar.
Ana chegou ao Conselho Tutelar e se deparou com um universo estranho. Ela falava guarani e os profissionais do órgão não compreendiam esse idioma. O Creas também participou desse primeiro atendimento. Para se comunicar com a menina, os profissionais dos dois órgãos pediram ajuda a um tradutor.
Sem compreensão exata da violência, a menina afirmou, através do intérprete, que o violador era bom e cuidava dela. Em companhia de uma conselheira tutelar, a psicóloga Vivian buscou, com a menina, informações sobre a violência. “Ela contou que teve [relação sexual] nos três dias que esteve na casa. Disse que doía, mas, como ele dava roupa e comida, ela fazia”.  Ana via na violência, na dor, sua contrapartida para agradecer ao “bem” que o homem lhe fazia.
Depois do primeiro atendimento, a criança foi levada para a delegacia. Apenas no dia seguinte, fez o exame de corpo de delito, pois esse procedimento é realizado em Ponta Porã. O intervalo não apagou as evidências da violência. Relatório do Conselho Tutelar afirma: “No dia do exame, a mesma apresentava sangramento, que, segundo o médico, seria resultado do estupro”.
Após o atendimento inicial, a menina foi levada para o abrigo da cidade, onde ainda permanece.

Histórico de violência
A dor sofrida por Ana em seu corpo de criança na relação sexual com um adulto somou-se às dores sentidas desde o Paraguai. Pelos relatos dos profissionais do Conselho Tutelar e do Creas, a menina carrega um histórico de violência, iniciada na sua família de origem. “No Paraguai, ela passava fome, a família era muito pobre. E a mãe judiava muito dela, espancava ela. Aí um tio dela a trouxe para o Brasil”, conta a coordenadora do Creas.
Não só a menina, mas também a violência, atravessaram a fronteira – divisão territorial conforme convenção não indígena. Ana, do lado brasileiro, permaneceu entre os guarani; não estava em terra estrangeira. Ela passou a residir na casa do tio, no território Ñanderu Marangatu.
A menina continuou apanhando e passando necessidades materiais. A família, igualmente pobre, resolveu dar a criança para um homem interessado em tê-la como mulher. Era o autor da violência sexual, o qual permanece foragido, possivelmente no Paraguai. Em agradecimento, o homem “presenteou” os tios da menina com uma cesta básica e algumas peças de roupa.

Tristeza profunda
Para os profissionais do Conselho Tutelar e do Creas, a menina estaria feliz no abrigo. “É a melhor fase da vida dela”, chegou a sugerir a coordenadora do Creas.
No entanto, Ana, recentemente, tentou o suicídio no abrigo. Conforme a psicóloga, a menina se entristeceu muito com a morte de um menino indígena, de três anos, que também estava abrigado e tinha muitos problemas de saúde. Ana se afeiçoou a ele, conforme Vivian.  
A dor da perda foi, supostamente, mais profunda que as dores das outras violências. A menina dizia, no abrigo, que sentia muita falta do menino que morrera. Muito entristecida, ela pegou uma faca e tentou se matar. Foi impedida a tempo de não se machucar.
Na ocasião, a psicóloga conversou sobre o episódio com Ana. “Ela disse: ‘eu só queria morrer’. Ela não tem noção do que seja a morte”, disse a coordenadora. “Eu perguntei por que pegou uma faca e ela contou que uma vez o irmão dela enfiou uma faca aqui nele [apontando para a barriga] e morreu”.
Futebol e professora
Com os olhos voltados para o chão e ainda não muito segura em seu português, Ana falou à equipe de reportagem em uma sala do Conselho Tutelar. Não foi perguntado à menina nada que fizesse referência às violências sofridas.
Sem demonstrar entusiasmo, a criança disse gostar do abrigo. Também não se fez convincente ao falar da escola. Os olhos brilharam um pouco ao apontar sua diversão preferida: “Eu gosto de jogar futebol”. Contou, ainda, que quer ser professora.
A tudo ela respondeu com falas baixas, tímidas e, aparentemente, receosas, mas entremeadas de sorrisos. Suas respostas foram dadas em português e sem intérprete, pois se institucionalizou e já não é a mesma criança falante do guarani.

Pesquisa

Extrema pobreza cai a nível recorde; dúvida é se isso se sustenta

O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300

19/04/2024 18h00

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Foto: Favela em Campo Grande - Gerson Oliveira/Correio do Estado

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A expressiva alta da renda em 2023 reduziu a pobreza extrema no Brasil ao seu nível mais baixo da série histórica, a 8,3% da população. O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300. Apesar da queda, isso ainda equivale a praticamente a população do Chile.

O cálculo é do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), do IBGE.

Em relação a 2022, 2,5 milhões de indivíduos ultrapassaram a linha dos R$ 300, numa combinação de mais transferências pelo Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e queda do desemprego. A grande dúvida é se o movimento —e mesmo o novo patamar— seja sustentável.

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Todas as classes de renda (dos 10% mais pobres ao decil mais rico) tiveram expressivos ganhos; e o maior deles deu-se para os 5% mais pobres (38,5%), grandes beneficiados pelo forte aumento do Bolsa Família —que passou por forte expansão nos últimos anos.

Entre dezembro de 2019 (antes da pandemia) e dezembro de 2023, o total de famílias no programa saltou de 13,2 milhões para 21,1 milhões (+60%). Já o pagamento mensal subiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 14,2 bilhões, respectivamente.

Daqui para frente, o desafio será ao menos manter os patamares de renda —e pobreza— atuais, já que a expansão foi anabolizada por expressivo aumento do gasto público a partir do segundo semestre de 2022.
Primeiro pela derrama de incentivos, benefícios e corte de impostos promovidos por Jair Bolsonaro (PL) na segunda metade de 2022 em sua tentativa de se reeleger. Depois, pela PEC da Transição, de R$ 145 bilhões, para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse gastar mais em 2023.

Como esta semana revelou quando governo abandonou, na segunda-feira (5), a meta de fazer superávit de 0,5% do PIB em suas contas em 2025, o espaço fiscal para mais gastos exauriu-se.

A melhora da situação da renda dependerá, daqui para frente, principalmente do mercado de trabalho e dos investimentos do setor privado. Com uma meta fiscal mais frouxa, os mercados reagiram mal: o dólar subiu, podendo trazer impactos sobre a inflação, assim como os juros futuros, que devem afetar planos de investimentos empresariais e, em última instância, o mercado de trabalho.

Apesar do bom resultado em 2023, algumas análises sugerem que o resultado não deve se repetir. Segundo projeções da consultoria Tendências, a classe A é a que terá o maior aumento da massa de renda real (acima da inflação) no período 2024-2028: 3,9% ao ano. Na outra ponta, a classe D/E evoluirá bem menos, 1,5%, em média.

Serão justamente os ganhos de capital dos mais ricos, empresários ou pessoas que têm dinheiro aplicado em juros altos, que farão a diferença. Como comparação, enquanto o Bolsa Família destinou R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de domicílios em 2023, as despesas com juros da dívida pública pagos a uma minoria somaram R$ 718,3 bilhões.

A fotografia de 2023 é extremamente positiva para os mais pobres. Mas o filme adiante será ruim caso o governo não consiga equilibrar suas contas e abrir espaço para uma queda nos juros que permita ao setor privado ocupar o lugar de um gasto público se esgotou.

Voos em queda

Aeroportos de Mato Grosso do Sul enfrentam desafios enquanto Aena Brasil lidera crescimento nacional

No acumulado do ano de 2024, o volume de passageiros chegou a mais de 395 mil passageiros em Mato Grosso do Sul, com um aumento de 4,8% no número de operações realizadas nos três aeroportos do Estado

19/04/2024 17h41

Os três aeroportos de Mato Grosso do Sul mantiveram um desempenho estável no acumulado do ano, com um aumento significativo nas operações. Foto/Arquivo

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A Aena Brasil revelou hoje os números da movimentação nos aeroportos até março de 2024, destacando-se como a empresa com a menor redução de passageiros no país. No entanto, o aeroporto de Ponta Porã, sob sua administração, enfrentou uma redução significativa de 42,4% no fluxo de passageiros em março deste ano.

Esta tendência também foi observada na capital sul-mato-grossense, onde o volume de passageiros em Campo Grande caiu 5,5%, totalizando 118.529 passageiros, e no aeroporto de Corumbá, com uma redução de 14,3%.

Além disso, as operações aeroportuárias também estão em declínio, com quedas de 15,9% em Ponta Porã, 10,6% em Corumbá e 8,7% na capital, no volume de operações.

Apesar desses desafios, no acumulado do ano, a Aena Brasil aponta que o aeroporto internacional de Campo Grande registrou uma redução de 3,0% no fluxo de passageiros e de 3,5% no número de operações aeroportuárias.

Já o aeroporto de Ponta Porã apresentou uma queda de 27% no fluxo de passageiros, mas com um saldo positivo de 4% no número de operações. Além disso, o aeroporto de Corumbá, considerado a capital do Pantanal, registrou um aumento de 4,9% nas operações.

No total, a movimentação nos três aeroportos de Mato Grosso do Sul alcançou 395.388 passageiros e 5.043 operações realizadas.

Veja o ranking nacional:

Aena tem crescimento de 6,3% na movimentação em todo o Brasil

Enquanto isso, em nível nacional, a Aena Brasil experimentou um crescimento impressionante de 6,3% na movimentação. Os 17 aeroportos administrados pela empresa no Brasil registraram 10,4 milhões de passageiros no primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 6,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em relação ao número de pousos e decolagens, nos três primeiros meses houve alta de 5,4%, com um total de 115,5 mil movimentos de aeronaves. Considerando somente o mês de março, o crescimento chega a 6,1% no total de passageiros (3,4 milhões), em relação ao mesmo mês de 2023, e a 1,7% no volume de pousos de decolagens (38,9 mil).

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