Para o segundo semestre, os especialistas preveem uma criação inferior de empregos ao apurado entre janeiro e junho, o que está vinculado ao fato de que a geração de postos no primeiro semestre normalmente é superior ao apurado nos seis meses seguintes. A indústria, por exemplo, reduz o contingente de trabalhadores em dezembro, dado que o pico da produção ocorreu nos meses imediatamente anteriores, em função da fabricação de mercadorias para serem vendidas nas festas de final de ano.
Romão tem uma avaliação um pouco mais cautelosa sobre a geração de empregos no segundo semestre, pois ele acredita que as empresas já recuperaram o estoque de funcionários registrados em relação ao período pré-crise internacional. Mas para Luiza Rodrigues, há uma boa dose de confiança dos agentes econômicos, inclusive dos empresários, sobre as perspectivas favoráveis da economia no longo prazo que permitem prever que a geração de empregos no segundo semestre deve chegar perto de um milhão de vagas.
Ele destacou que a Sondagem Industrial realizada pela FGV apontou que em março, 45,1% dos dirigentes de companhias tinham intenção de contratar funcionários nos três meses seguintes. “Essa marca alta ocorreu quando o País estava num nível muito forte de expansão”, ressaltou. Em junho, ela ponderou, mesmo com a desaceleração do nível de atividade a pesquisa mostrou que aquele indicador baixou pouco, pois atingiu 44,4%. “Ou seja, a confiança dos empresários está muito favorável para a geração de empregos. Para os dirigentes de empresas, este fator esta relacionado diretamente com a estabilidade da economia, com inflação sobre controle, processo que já ocorre há vários anos”, afirmou.
Alta dos juros
A redução do ritmo da economia no segundo trimestre, o que foi exibido por vários indicadores, como o recuo de 5% da produção de veículos em junho na margem, segundo a Anfavea, e a queda de 3,83% das vendas de papelão ondulado no mesmo período, promove um debate indireto entre os especialistas sobre a necessidade de o aperto monetário ser muito mais vigoroso no último trimestre do ano. Para Fábio Romão, a Selic deve aumentar 0,75 ponto porcentual na próxima semana e mais 0,75 ponto porcentual no dia 1º de setembro. “Não há necessidade de maior elevação dos juros devido à clara redução da velocidade do nível de atividade”, disse. A LCA estima que o PIB deverá crescer 6,6% neste ano, taxa inferior à alta de 7% manifestada pelo presidente Lula.
Para Pochmann, a alta dos juros deve cessar já, pois a inflação recuou nos últimos meses, o IPCA não se manifesta como um perigo forte no curto prazo e adicionais elevações da Selic podem prejudicar os investimentos, que já são baixos. De acordo com o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo atingiu 18% do PIB no primeiro trimestre, patamar bem inferior à marca de 23% do Produto Interno Bruto vista por vários especialistas como necessária para que o potencial de crescimento do País saía de uma marca ao redor de 4,5% para um patamar mais próximo a 5,5%.
Na avaliação de Rafael Bacciotti e Luiza Rodrigues, os juros precisam ficar acima de 11,75% neste ano para que a inflação fique mais próxima da meta de 4,5% em 2011. Para atingir aquele objetivo, a Tendências acredita que a Selic deve subir mais 0,50 ponto porcentual em outubro, enquanto o Santander avalia que será necessário mais um incremento de 0,50 ponto porcentual também em dezembro, o que levaria a taxa para 12,75%. Mesmo com tais aumentos de juros, a consultoria acredita que o IPCA deve variar de uma alta de 5,4% em 2010 para 4,7% no ano que vem, enquanto o banco espanhol pondera que o índice chegará este ano em 5,5% e atingirá 5% no ano que vem. “O ritmo de atividade está muito intenso e é preciso reduzir sua velocidade para que a inflação atinja um patamar mais sustentável no ano que vem”, disse Luiza. (RL)