Quase três
meses deopis da
morte de dois militares
do Exército durante
treinamento em Ladário,
no Pantanal de
Mato Grosso do Sul,
inquérito da própria
instituição atribuiu a
responsabilidade pelas mortes a dois sargentos e dois capitães.
Se foram realmente eles os culpados ou se serão punidos,
somente a Justiça e o tempo dirão. Porém, o simples
fato de a sociedade tomar conhecimento de que as mortes
estão sendo investigadas é motivo de alívio, pois dois óbitos
num único dia (dois outros militares passaram mal no
mesmo dia, mas se recuperaram) com toda a certeza não
podem ser atribuídos a uma "simples" fatalidade.
A cada ano ingressam alguns milhares de jovens para
prestar o serviço militar no Exército Brasileiro. E familiares
de todos estes certamente não ficam tranquilos sabendo
que os jovens ficam sob responsabilidade de homens
que definitivamente não têm as devidas condições para
desempenhar as atividades que lhes foram confiadas. Na
investigação do Exército ficou comprovado que, apesar
da temperatura de quase 40 graus (em Porto Murtinho,
segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, na máxima
do dia 26 de novembro, dia das mortes, os termômetros
marcavam 39,8 graus), um dos responsáveis pelo treinamento
determinou que os militares esvaziassem os cantis
de água. E, entre as razões apontadas para a morte, segundo
o laudo do Instituto Médico-Legal, está a desidratação.
Certamente o sargento que deu a ordem para que os subalternos
ficassem sem água não teve a intenção de matar
ou lesionar alguém. Porém, qualquer pessoa de bom senso
entende que é impossível ignorar as condições climáticas
para qualquer atividade física. Deixar soldados sem água
sob sol escaldante é o equivalente a obrigar uma tropa a
treinar no meio da neve sem agasalhos.
E, além de questionar a metodologia de treinamento,
seria importante que as instituições repensassem a pertinência
de determinadas práticas. Será que existe algum
objetivo específico, ou um fim, quando o Exército obriga
jovens a fazer certas atividades? Todos sabem que em um
ano ou dois deixarão a instituição e neste curto espaço de
tempo certamente ninguém será adestrado ou preparado.
Quer dizer, seria muito mais lógico que os treinamentos
mais pesados e de preparação para a "guerra" fossem dados
àqueles que realmente pretendem seguir carreira. Ou mais
interessante ainda seria que as Forças Armadas preparassem
seus recrutas para atividades que fossem verdadeiramente
úteis não só para o restante da vida destes soldados,
mas para a sociedade como um todo. Na Força Aérea, por
exemplo, existem grupamentos especializados em busca
e salvamento. No Exército, por sua vez, há esquadrões de
engenharia especializados em construção de estradas e
outras obras de infraestrutura. Então, em vez de passar
por treinamentos com sentido questionável, o que a sociedade
espera, com certeza, é que os militares se dediquem
a atividades que tragam algum retorno. Em Ladário, ao
contrário, o que ocorreu foi transtorno, e gravíssimo, que
em hipótese alguma pode ser tolerado ou permanecer impune,
para o bem do Exército.