LIDIANE KOBER
A participação da população mundial nas eleições independe da obrigatoriedade do comparecimento às urnas no dia do pleito. No Brasil, a razão principal da adoção do voto obrigatório, em 1932, foi o temor de que a presença diminuta dos eleitores pudesse tirar a legitimidade do processo. Contudo, levantamento do Correio do Estado mostra os países onde o voto é facultativo que o índice de participação no pleito praticamente se equivale à média de comparecimento às urnas e, em alguns casos, é até superior, à dos países onde votar é obrigatório.
De acordo com dados da Central de Inteligência Americana (CNI), em 205 dos 232 países do mundo o comparecimento às urnas é facultativo. A maioria deles, inclusive, figura na lista das nações mais desenvolvidas. É o caso dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Japão, considerados os sete países mais ricos do mundo.
Enquanto isso, o voto é obrigatório em 24 nações, sendo que 13 delas são da América Latina, como o Brasil, Argentina, Paraguai, Chile e Uruguai. Na Áustria, o voto é misto: facultativo para todos os cargos políticos, menos para presidente.
Nas últimas eleições presidenciais brasileiras, em 2006, a participação no pleito, no segundo turno, foi de 81%. Na Argentina, em 2008, quando Cristina Kirchner foi eleita com 44% dos votos, compareceram às urnas 72,7% dos eleitores. Enquanto, no último pleito paraguaio, em 2007, participaram da votação 65,7% dos eleitores, que garantiram a vitória ao ex-bispo Fernando Lugo.
Na Alemanha, onde o voto não é obrigatório, o percentual da presença dos eleitores no pleito de 2008 superou o número alcançado no Paraguai. No total, foram às urnas 72,5% dos eleitores, índice, inclusive, inferior ao da eleição anterior, quando o patamar de participação foi de 77,5%.
Na França, onde o voto também é facultativo, o índice de comparecimento às urnas bateu recorde em 2007, superando o patamar alcançado nas últimas eleições argentinas e paraguaias. Participaram do pleito 73,8% dos eleitores.
Já nos Estados Unidos, onde o nível de participação nas eleições dificilmente ultrapassa a 50%, o índice de comparecimento no último pleito, em 2008, foi de 66%, quando os americanos elegeram o primeiro presidente negro de sua história, Barak Obama.
Polêmica
Diante das evidências de que a obrigatoriedade do voto pouco influencia no comparecimento do eleitorado às urnas, o assunto constantemente vira tema de debates e divide a população.
Pesquisa Datafolha, feita em 20 e 21 de maio, revela que o voto obrigatório realmente divide o eleitorado: 48% dos entrevistados no País são favoráveis e 48% são contrários. Já levantamento mais recente, realizado neste mês pelo DataSenado, mostra que 62% dos 1.315 entrevistados afirmaram que votariam nas eleições de outubro mesmo que o voto não fosse obrigatório no País.
O doutor em sociologia e professor de política da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), David Tauro, é um dos que defende o voto facultativo. “Alegam que em países como o nosso a obrigatoriedade do voto é necessária para o povo ir às urnas, mas é óbvio que não”, declarou. Para ele, políticos temem o voto facultativo por acreditar que correm o risco de perder o voto das pessoas desinteressadas, que, consequentemente, se tornam mais manipuláveis.
De forma mais objetiva, especialistas entendem ser mais fácil comprar o voto daqueles que, sendo livres, não iriam nem sequer votar. Normalmente são pessoas com nível de escolaridade inferior, que trocam seus votos por migalhas ou promessas utópicas. “Tem gente que vende seu voto por R$ 20: R$ 10 agora e R$ 10 no final do pleito”, disse David.
Para ele, manter o voto compulsório não interessa aos indivíduos que preferem não ter que votar, mas aos políticos que praticam o jogo sujo da compra de votos.
“O eleitor deve ir às urnas não por obrigação, mas por ter consciência da importância do seu voto”, frisou. “Na Suíça, todo sábado e domingo as pessoas estão votando em plebiscitos sobre projetos de lei”, completou para exemplificar casos de países onde o eleitor é politizado.