Carreira política,
como todos
sabem, é
construída com base
em grupos de apoio
e alianças. Qualquer
político busca aliados,
mas sempre de
olho nas vantagens
que ele próprio terá ao
incentivar determinadas pessoas. Ou seja, dificilmente
um “político profissional” dá espaço para alguém que é
ou pode vir a ser seu concorrente direto, mesmo que uma
possível adesão possa significar reforço para o partido.
As vagas para cargos eletivos são fixas e por isso os dirigentes
das maiores agremiações literalmente fazem o
rateio das vagas antes de qualquer disputa. Então, neófitos
com efetivo potencial eleitoral só conseguem espaço
em partidos nanicos. O conhecido Doutor Enéas, que
ficou famoso por conta de seu pitoresco jeito de fazer
campanha eleitoral, é um destes casos. Após disputar três
vezes a Presidência da República, conseguiu notoriedade
e fez uma montanha de votos em 2002 para deputado federal,
1,57 milhão, recorde nacional, e levou consigo para
o Congresso outros cinco integrantes do Prona, sendo
que o último deles obteve apenas 275 votos. Uma vez no
Congresso, o folclórico deputado foi literalmente patrolado
pelos grandes partidos e ele “desapareceu”, tanto que
na eleição seguinte, em 2006, foi reeleito com “apenas”
387 mil votos, o quarto mais bem votado em São Paulo.
O médico cardiologista faleceu vítima de leucemia em
maio de 2007, aos 68 anos.
Guardadas as devidas proporções, Mato Grosso do
Sul está diante de situação semelhante agora. O juiz
federal Odilon de Oliveira, conhecido por sua atuação
contra o narcotráfico, lavagem de dinheiro e outras
formas de crime organizado, está disposto a aposentar-
se voluntariamente e entrar na vida política. O
voto em Enéas, para muitos, significava uma espécie
de protesto, ou desilusão com a política brasileira. O
magistrado, porém, certamente seria visto como uma
alternativa ao que está aí, uma terceira via com potencial
para atrapalhar os interesses de muita gente.
Partidos de significativa expressão até chegaram a
convidá-lo, mas logo na sequência deixaram claro que
não lhe dão garantia de que terá legenda para disputar
vaga ao Governo estadual ou ao Senado, já que é esta,
inicialmente, sua pretensão. O juiz certamente não é
o primeiro nem o último novato com forte potencial
eleitoral disposto a entrar na política que é barrado ou
rapidamente expurgado pelos “profissionais”. Isto não
significa que estes neófitos sejam necessariamente muito
mais corretos ou competentes que os antigos, mas
sempre existe a possibilidade, a esperança, de que algo
poderá mudar para melhor. Esperar que algum destes
faça milagres seria ingenuidade. Porém, o simples fato
de as “velhas raposas” perceberem que existe gente disposta
a destroná-las faz com que fiquem atentas e percebam
o alto grau de insatisfação da população. O juiz,
por mais respeitado que seja hoje, assim que deixar seu
cargo passará a ser visto como um concorrente a mais e
com toda a certeza não faltarão interessados em cortar
sua carreira pela raiz.