CRISTINA MEDEIROS
Ah, o chocolate! Deliciosa tentação da qual dificilmente escapamos. Principalmente nesta época, na qual ele é um dos principais símbolos, preenchendo prateleiras ou formando verdadeiros telhados doces nas lojas. O delicado sabor do cacau atrai de tal forma, pois são poucos os que não gostam de chocolate. Basta constatar os registros dos tantos chocólatras que não conseguem parar de comer enquanto não se vai o último pedaço.
O pó de cacau é um alimento considerado completo e equilibrado em proteínas, carboidratos e gordura. Seu sabor é amargo, daí a necessidade de se acrescentar outros componentes para transformá-lo no chocolate delicioso que conhecemos. Essa adição de outros produtos na sua composição é que acaba por torná-lo um alimento calórico, rico em gordura e açúcar.
Atualmente, mesmo quem apresenta algum distúrbio alimentar – intolerância à lactose, ao glúten, à cafeína – já tem à disposição chocolates especiais, tão saborosos quanto os outros e que, igualmente, proporcionam aquela sensação de bem-estar. E isso não ocorre à toa, tem explicação científica. O chocolate contém substâncias – como o triptofano – que aumentam os níveis de serotonina no cérebro, a mesma que provocam os exercícios físicos e a relação sexual e que nos dá a sensação de bem-estar. Daí muita gente se dizer viciada em chocolate.
Mas, calma lá, não é por isso que, na Páscoa, você vai abandonar os exercícios físicos e passar o dia se entupindo de chocolate para ficar calmo. "O chocolate é bom, gostoso, mas também engorda. Tem várias propriedades nutritivas, mas, como qualquer outro alimento, tem que ser consumido adequadamente, pois o excesso pode causar obesidade, enxaqueca, irritações na pele, por exemplo", observa a nutricionista Maruska Dias Soares, professora da UCDB.
E também não é qualquer chocolate que traz todos esses benefícios, conforme alertam os profissionais. Há chocolates e chocolates, e quanto mais amargo melhor, já que o cacau, no qual se concentram os nutrientes, está mais evidente. Por isso, atenção ao rótulo dos ovos, barras e caixas de bombons dispostos nas prateleiras dos supermercados. "Grande parte do chocolate vendido e consumido no Brasil contém muita gordura e o consumo inadequado pode elevar o nível de colesterol, triglicérides, prejudicando a saúde".
Como comprar
Como tudo na vida, o equilíbrio na hora de comer também vale para o chocolate. E qualidade, diga-se de passagem, é um item importantíssimo. Um chocolate de qualidade, segundo Maruska Soares, tem que apresentar mais cacau e menos gordura, além dos flavonoides – uma substância antioxidante que faz um bem enorme ao coração. "O flavonoide ajuda no combate aos problemas nas membranas das células, é como se não as deixassem ficar enferrujadas". E alerta para o fato de que não é só o chocolate que tem esta substância. "Podemos encontrá-la também em frutas e vegetais".
Quanto comer
O chocolate tem mais ou menos sete calorias por grama. Quanto mais açúcar, mais leite, mais gordura, mais calórico é. Maruska dá uma notícia ruim àqueles que comem fácil uma caixa de bombons. "O ideal são 30 gramas (equivale a dois tabletes de uma barrinha) por dia, preferencialmente do amargo", diz. Ou seja, 30 míseras graminhas de cada vez.
Para aqueles que compram os do tipo diet (sem açúcar) achando que podem comer mais por isso, a nutricionista desconstrói o mito. "A produção do chocolate diet troca o açúcar pelo adoçante, que modifica a textura. Por isso, os fabricantes colocam mais gordura para obter uma textura melhor". E faz um alerta: "O diabético tem tendência a problemas cardiovasculares, portanto, não é aconselhável consumir grandes quantidades do chocolate diet por causa da gordura. Para o diabético que é consciente, que mantém a glicemia e a dieta realmente equilibradas, é até melhor consumir, ocasionalmente, o chocolate comum, com menor teor de gordura", explica Maruska.
Grupos diferenciados
Há também o grupo com intolerância à lactose (proteína do leite) e os celíacos, que têm alergia ao glúten, proteína encontrada nos cereais. Como se tratam de doenças graves, Maruska recomenda leitura redobrada nos rótulos, já que hoje existe toda sorte de chocolates com recheios variados. Para este grupo, já existem no mercado chocolates sem lactose, sem glúten e sem cafeína, além dos chocolates feitos à base de pó de soja e alfarroba, todos encontrados em lojas especializadas.
Para os que gostam do chocolate branco, uma péssima notícia. Sim, ele é muito rico em sabor, mas vazio em nutrientes, porque, em vez do cacau, que contém a maioria dos nutrientes, é usada a manteiga de cacau, o que o faz muito calórico.
Crianças
Atraída não só pelo gosto, mas pelo visual da embalagem, a criança merece atenção redobrada nesta época de grande consumo de chocolate. "Os pais precisam entender que o chocolate é considerado um doce e, portanto, funciona como uma sobremesa. Assim, não poderá ser consumido em lugar das refeições e nem do lanche, do qual pode fazer parte", explica Maruska. Segundo ela, o adulto é quem deve dar o exemplo, ao consumir apenas as 30 gramas diárias e mostrar para a criança que esta é a quantidade ideal. "É possível quebrar o ovo em pedacinhos e negociar o consumo de um pedaço ao dia".