É muito comum julgar alguém pelo erro cometido no momento presente. E até
condenar sem antes ter feito uma análise mais profunda e mais séria a respeito de tal
comportamento ou de tal atitude. É sabido que ninguém erra sozinho. Sempre haverá
alguém que tenha se omitido em advertir, ou tenha influenciado para chegar a tal
fato.
Nesse tempo de quaresma é importante analisar com mais sinceridade e humildade as
atitudes e os conceitos que se assumem em face de certos fatos e de certos acontecimentos.
E isso para não se precipitar no julgar e ser mais prudente no interpretar.
Enquanto o Mestre dos mestres advertia seus seguidores a esse respeito, eis que um
grupo de fariseus e doutores da lei lhe apresentam uma mulher apanhada praticando
adultério. Pela lei estabelecida por eles tais mulheres deveriam ser apedrejadas, pois era
uma transgressão gravíssima. Mas não passava pela cabeça deles que não seria possível
o adultério sem um parceiro. E onde estaria esse parceiro? Por que só a mulher ser
condenada?
O Mestre, muito atento e extremamente sábio, fitou seu olhar em cada um dos
presentes e penetrou no fundo de suas consciências covardes. Todos estavam ansiosos
aguardando a sentença. Afinal, ela deveria ser apedrejada. Mal sabiam que eles mesmos
estavam sendo julgados e sentenciados. Se essa mulher se encontra no pecado não está
sozinha. E a sentença não será a esperada e não vai satisfazer o desejo de vê-la eliminada
para satisfazer o ego daqueles covardes.
Diante de tal expectativa, vem a sentença: “Quem dentre vocês não tiver pecado atire
a primeira pedra”! (Jo.8,7) E eles, ouvindo o que o Mestre falara, foram se retirando um a
um, a começar pelos mais velhos. Pois no mal que atinge uma pessoa pode-se afirmar
que há, de alguma maneira, uma responsabilidade de todos.
Ninguém permaneceu no local. Ninguém teve a ousadia de presenciar o desfecho,
pois todos tiveram que reconhecer sua própria culpa. Nem tiveram a humildade em
reconhecer e pedir perdão. Só ele permaneceu. O único que poderia condenar e apedrejar.
Mas se recusou. Apenas vê diante de si uma mulher como tantas outras mulheres e tantos
outros homens sendo apedrejados por alguma fraqueza cometida por não terem sido
orientados e esclarecidos para seguirem um caminho mais digno.
O Mestre não aprova o ato daquela mulher ao não condená-la. Ele não aceita o
pecado, mas ama cada ser humano mais do que ninguém. Por isso afirma com todo
seu amor: “Eu não a condeno” nem hoje, nem amanhã, nem nunca. O que ele quer é a
salvação de quem errou. Por isso lhe faz uma séria advertência: “Vá em paz e de agora
em diante não peque mais” (Jó. 8,11). Isto é, não queira estragar a grandeza de sua vida
por um instante de prazer.
Assim se revela a singeleza da bondade e do amor misericordioso do Pai. Não
apenas perdoa, mas mostra também o caminho para uma vida feliz. Mostra que podem
acontecer tropeços e erros na vida e de todo e qualquer ser humano. E mostra também
que é possível assumir e transformar esses tropeços e erros em atitudes mais dignas e
mais de acordo com o desejo amoroso de Deus que deseja salvar a todos sem condenar
ninguém.