O carnaval é fascinante porque toda festa popular é verdadeiramente arrebatadora. É a fusão da tradição europeia com a batucada africana. Toda essa folia existe há mais de 10.000 anos como expressão de gratidão dos camponeses aos seus deuses pela colheita. Pintavam-se como expressão de alegria e mascaravam-se imitando animais para mais próximos estarem da natureza que muito generosa lhes fora. Eram festas pagãs e traziam um forte conteúdo libidinoso em que o sexo era o objetivo final como expressão de fertilidade, crescimento e progresso. É bom lembrar que primitivamente, poderoso era quem tinha muitos filhos. A festa da colheita sofreu a influência grega transformando-se nos rituais Dionísios e posteriormente os romanos disseminaram os bacanais, saturnais e lupercais pelos seus domínios. Em Roma, no início do ano, comemoravamse as Saturnais. Fechavam-se os tribunais, escolas, escravos eram alforriados e dançavam pela rua em grande e comunitária algazarra. A abertura era um cortejo de carros alegóricos imitando navios (CARRUM NAVALIS), daí o nome Carnaval. Os lupercos, sacerdotes de Pã, alegre deus dos bosques que gostava de assustar os transeuntes, donde deriva o termo pânico, também era tido como deus protetor dos pastores e comemorava-se em 15 de fevereiro. Os Bacanais, homenagem a Baco, variante do deus grego Dionísio, deus do vinho, promotor de festas e o seu cortejo era formado por Sátiros, Silenos, Pãs, Príapos e Centauros, todos avessos aos padrões sociais. Todas essas festas aconteciam separadamente, mas no século VI, a Igreja Católica adotou-as para domesticá-las. Colocou-as todas na véspera da Quaresma, sendo os festejos marcados para 07 domingos antes da páscoa, como uma compensação para a abstinência que antecede a celebração do sacrifício de Jesus Cristo. Fato interessante é que na bíblia também tem carnaval. É a festa do Purin. É palavra persa que significa loteria e provêm de Pur (lançar sorte). Está no livro de Ester capítulo 9. Foi o dia em que o feitiço virou contra o feiticeiro. Ester, rainha de Assuero, decreta feriado nos dias 14 e 15 do mês Adar e é marcado por vinho, folia e carnaval. Dia em que qualquer coisa é possível. É marcado pela celebração da energia completamente aberta para possibilidades e transformação. Suspender julgamentos é crucial para o crescimento e a formação de uma nova identidade. O carnaval envolve a suspensão de todas as hierarquias, mas não das regras e princípios. Usam-se máscaras para experimentar novos papéis e bebe-se para deixar cair o pesado fardo do hábito e da socialização. As pessoas se renovam para novas relações puramente humanas. Esses são os reais motivos e também a razão da popularização do carnaval, mas lamentavelmente, também está sofrendo as influências perniciosas do capitalismo que exalta a riqueza e humilha a simplicidade distanciando os homens, quebrando a fraternidade e corrompendo a solidariedade com consequente embrutecimento social. As poucas oportunidades reais de aproximação e saudável convívio também são contaminados e destruídos pela ambição. O carnaval precisa ser desmistificado como produto do mal. É festa popular em que as mazelas do capitalismo, este sim a raiz de todos os males, pela ineficiência do estado em se fazer presente, permite excessos com prejuízo de alguns, como acontece nos estádios de futebol e outras festas.