Carlos Henrique Braga
A beneficiadora de couro Braz Peli, de Campo Grande, será a primeira do Estado a produzir a matéria-prima de forma acabada e tingida, própria para fabricação de calçados. Cerca de 40 das 82 indústrias que dependem exclusivamente desse tipo de couro precisam buscá-lo fora, principalmente em São Paulo, o que encarece a operação em até 30%.
O beneficiamento do couro, clamor antigo dos empresários da região, vai gerar 150 empregos. A empresa vai investir R$ 4 milhões na construção de nova unidade para produzir 500 peles acabadas por dia, suficientes para fabricar 8 mil pares de sapatos. Segundo o dono, José Roberto Berger, 80% será vendido a outros estados. “O foco é São Paulo e Rio Grande do Sul, onde estão as maiores fábricas”, afirma.
A construção do empreendimento deve começar em oito meses, tempo necessário para obtenção de licenças de funcionamento. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento (Sedesc), que concedeu incentivos para a expansão, a empresa tem entre quatro e seis meses para apresentar o projeto de engenharia.
A Braz Peli recebeu terreno de 108 mil metros quadrados no Polo Empresarial Oeste, no distrito Indubrasil, além de isenção de Imposto sobre Serviços (ISS) durante a construção e desconto de 30% no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) por três anos. Os incentivos, autorizados em 28 de agosto, fazem parte do Programa de Desenvolvimento Econômico (Prodes).
Atraso
Mato Grosso do Sul ainda beneficia apenas couro em estado primário, o wet blue, que custa, em média, R$ 20 por metro. O material é enviado a outros estados e volta pronto para ser usado na fabricação de calçados ao custo médio de R$ 38. Sobre esse valor, empresários pagam mais 30% por conta de impostos e frete. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) , pago para os governos do estado de origem e de MS, representa 22,2% desse acréscimo, se a compra for feita em São Paulo. No fim das contas, a indústria paga cerca de R$ 49 por metro do couro acabado do boi que, muitas vezes, foi abatido em MS.
O presidente do Sindicato das Indústrias Calçadistas (Sindical), João Camargo Filho, acredita que buscar matéria-prima mais perto trará impulso às empresas do Estado. A região do Bolsão, onde está Três Lagoas, concentra as maiores, como Klin e Pampili, fabricantes de calçados infantis. No Estado, 82 fábricas empregam 3,8 mil pessoas e há necessidade de qualificar mais 500 para as linhas de produção.