O brasileiro hoje lê menos livros, visita
menos exposições de arte e assiste a menos
espetáculos de dança que em 2007. A
queda foi detectada em uma pesquisa feita
pela Fecomércio do Rio de Janeiro, cujo
objetivo é o de mensurar os hábitos de
lazer relacionados à cultura. Em compensação,
as pessoas aumentaram sua ida ao
cinema e mantiveram o mesmo índice de
visita ao teatro e aos shows de música.
O levantamento teve alcance nacional
e foi realizado em mil domicílios situados
em 70 cidades, incluindo 9 regiões
metropolitanas. As apurações, em dezembro
tanto do ano passado como em 2007,
buscavam entender a visão da população
sobre atividades culturais de lazer e os
motivos que a levam a procurar por essas
atividades. Também interessou descobrir
a avaliação dos consumidores sobre sua
participação no ambiente cultural.
As conclusões não foram animadoras.
Para a questão a respeito do hábito cultural,
como ler um livro, assistir
a um filme
no cinema, visitar
exposições,
i r ao teatro e
a espetácu los
de dança, 60%
d a s p e s s o a s
responderam
não ter praticado
nenhuma
daquelas
atividades
(em 2007, a
cifra era de
55%). Mo -
tivo: falta
de hábito
ou gosto.
J á e n -
tre aqueles
qu e d e s -
frutaram
ao menos
um dos
hábitos,
a maioria
(ou
seja,
23%)
disse
ter
lido
um
livro.
A leitura,
porém, parece estar
cada vez mais em desuso pois,
dois anos antes, a mesma atividade era
confirmada por 31% das pessoas consultadas.
A partir dessas cifras, a pesquisa
buscou dissecar os motivos daquela queda:
60% das pessoas responderam não ter
o hábito da leitura, enquanto 22% foram
diretas, afirmando não gostar de ler. A
restrição econômica não aparece como
determinante, uma vez que apenas 6%
confessaram não ter como pagar pelos
livros.
O teatro enfrenta situação semelhante,
pois 38% das pessoas disseram não ter o
hábito de frequentar as salas de espetáculo,
enquanto 27% garantiram não gostar
de assistir a uma peça teatral.
Quais seriam, então, os hábitos culturais
dessas pessoas? As respostas não
foram surpreendentes – 68% dos entrevistados
declararam-se espectadores da TV,
enquanto 14% preferem ir à igreja ou a
algum culto religioso. Encontrar amigos
e parentes em um churrasco ou em um
almoço é o hábito de 12%. Ir a barzinhos
foi a resposta de 9%, enquanto futebol é
a preferência de 8% dos entrevistados. Finalmente,
ir a restaurantes foi a resposta
dada por 4%.
Se pudessem escolher entre as atividades
apresentadas, a maioria das pessoas
(22%) preferiria ir ao cinema, acompanhada
de perto por aqueles que ambicionam
ir a um show musical (21%). Curiosamente,
17% dos consultados revelaram desinteresse
por todas as opções. Depoi s de
ana l isar os dados,
Orlando
Diniz, presidente do Sistema Fecomércio-
RJ, respondeu às seguintes questões.
Para resolver o problema do baixo
índice de leitura no País seria preciso
uma política pública ampla, que ataque
várias questões relacionadas ao tema?
Ou seja, mais incentivos do Governo
na educação e na construção de mais
bibliotecas?
A opção “ler um livro” aparece no topo
do ranking de preferências dentre a minoria
que usufruiu de pelo menos uma
das atividades culturais listadas na pesquisa.
A preferência pelo livro encontra
justificativa pelo fato de ele estar mais
ao alcance da população e ter o benefício
de permitir uma ampla circulação de
um mesmo produto. Pelo levantamento da
Fecomércio-RJ, se compararmos a parcela
de brasileiros que lê com aqueles que vão
ao teatro, ao c i nem a , a
um espetácu
lo de da nça, uma
exposição ou a um show é
possível observar que, apesar
de baixo, o brasileiro opta pela
leitura dentre todas atividades de
lazer cultural citadas na pesquisa.
A pesqu isa nos i ncl i na a pensar
que as ações devem ser desenvolvidas no
sentido de criar o hábito e desenvolver o
gosto das próximas gerações por atividades
culturais. Segundo o IBGE, 89,1% dos
municípios brasileiros possuem bibliotecas
públicas. A meta é repensar o papel da
cultura numa sociedade moderna que não
considera lazer cultural como uma forma
de entretenimento.
Sobre o preço, a reclamação do leitor
reflete a tese de que o livro não ocupa
um papel fundamental na nossa cultura
e economia? O levantamento mostra que
há uma inércia em relação à cultura que
não passa necessariamente pela questão
do preço, mas pela falta de hábito. Tanto,
que o porcentual de brasileiros que não
leem porque é caro (2%) aparece como o
quinto motivo, bem depois de “não tenho
o hábito” e “porque não gosto”. Isso nos
leva a crer que a questão é intergeracional
– em geral, os pais não têm o hábito
de frequentar “ambientes culturais”, como
museus, cinema ou teatro, e, por isso, não
estimulam os filhos.