Vistos como um mercado
unificado a partir da eliminação
dos impostos de importação
a partir do acordo
do Mercosul, Brasil e Argentina
vivem uma situação para
lá de inusitada em termos de
indústria automotiva. O mercado
menor produz, em sua
maioria, carros mais requintados
e caros. Já o mercado
que vende mais concentra
modelos populares. Ou seja,
a Argentina fabrica modelos
médios – como Ford Focus e
Citroën C4 – e picapes mais
sofisticadas – Volkswagen
Amarok e Toyota Hilux. E o
Brasil absorve a maior parte
das linhas de montagem de
compactos. Uma distribuição
de produções que varia
de marca para marca e que
funciona como uma espécie
de complementação. Mas que
também serve para seguir
uma especialização mais
tradicional de cada país. Ou,
simplesmente, para baratear
custos.
Atualmente esse é o principal
“appeal” para os produtos
feitos no país vizinho.
Apesar de o Brasil ter um
mercado interno seis vezes
maior que o argentino e ter
uma infra-estrutura mais
avançada, produzir por lá
significa muitas vezes um
custo mais baixo. Principalmente
no que diz respeito a
mão-de-obra. “Cada montadora
tem uma estratégia. No
caso do Brasil, o real valorizado
encarece o produto e
a Argentina leva vantagem
pelo custo de mão-de-obra.
Isso favorece na hora de fazer
um cálculo econômico.
E também é preciso ver o volume
de veículos produzido
e para onde serão enviados”,
explica Marcelo Martin, supervisor
executivo da SAE
Brasil - Sociedade dos Engenheiros
da Mobilidade.
Números
Os volumes contam muito.
O Brasil, por ter um parque
industrial maior e mais
estruturado, ganha em escala.
O que explica o fato de a
Argentina se especializar em
alguns tipos de produtos. O
país concentra a fabricação
de muitos médios, como as
linhas Focus, C4, Peugeot
307 e, futuramente, o Renault
Fluence, além de picapes médias,
como Hilux, Amarok e
Ford Ranger. A conta é simples.
Tratam-se de modelos
que vendem menos, tanto no
Brasil como na Argentina, e
exigem menores quantidades
fabricadas. Mas há também
questões “históricas”. “Primeiro
pela vocação. Na Argentina,
as fábricas francesas
sempre estiveram lá, bem
antes de chegarem ao Brasil,
e produziam veículos destes
segmentos. Não faz sentido
produzir os mesmos carros
aqui”, justifica Luiz Carlos
Mello, ex-presidente da AutoLatina
e consultor do CEA
- Centro de Estudos Automotivos.
Existem também razões
“diplomáticas”. Principalmente
dos fabricantes franceses.
A Renault, por exemplo, até
hoje faz o Mégane de primeira
geração na Argentina e este
ano volta a abrigar um novo
médio: o Fluence, que será
lançado no fim do ano. No
Brasil, ficam os produtos da
plataforma B0 de compactos
– Logan e Sandero –, além do
utilitário Master e o Mégane
de segunda geração – e ainda
a veteraníssima Scénic.
Na PSA Peugeot Citroën, na
Argentina ficam os médios
C4, 307, Partner e Berlingo,
enquanto por aqui se concentram
os compactos C3 e 207
– a exceção é o Xsara Picasso.
“Temos fábricas nos dois países
e buscamos um equilíbrio
entre nossas operações. Para
isso, as linhas de produtos
do Brasil e da Argentina são
complementares”, pondera
Vincent Rambauld, presidente
Brasil e América Latina da
PSA e que, em abril, assume a
presidência mundial da marca
Peugeot.
Mas é claro que existem
outras várias exceções. Médios
e picapes também são
feitos aqui, como Chevrolet
Vectra, Volkswagen Golf, Fiat
Stilo, Toyota Corolla, Honda
Civic, Chevrolet S10 e Nissan
Frontier, entre outros. E, na
Argentina, compactos também
são construídos. A Renault
mandou a produção
do Symbol para lá. A Fiat fez
o mesmo com partes dos volumes
do Siena e do Palio e a
General Motors com o Agile.
“Por aqui, as fábricas atuais
não têm como expandir, a
não ser com a construção de
uma nova unidade. Além disso,
foram desenvolvidos fornecedores
na Argentina e até
alguns fornecedores brasileiros
abriram filiais na Argentina”,
ressalta Paulo Roberto
Garbossa, consultor da ADK
Automotive.