O perfil do consumo de
energia no País está mudando
e deve demandar alterações
na política de investimentos
das distribuidoras. A avaliação
é do consultor Eduardo
Bernini, ex-presidente da
Eletropaulo, reforçada por
dados divulgados esta semana
pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE). Segundo a
estatal, o consumo médio
por residência atingiu recorde
para um mês de janeiro, de
165 kilowatts-hora (kWh) por
mês, depois de quatro anos
seguidos de crescimento.
“Trata-se de um reflexo
direto do aumento da renda
e da mobilidade social verificada
nos últimos anos”,
comenta o especialista, que
observa um novo padrão de
consumo na população brasileira,
com aparelhos mais
sofisticados que demandam
maior qualidade no fornecimento
de eletricidade. “Acabou
o radinho de pilha, agora
todo mundo tem TV a cabo.
Além de mais geladeiras, aparelhos
de ar condicionado...”,
exemplifica.
Agravado pelo calor, o
grande consumo de eletrodomésticos
já gerou um fenômeno
diferente na curva
de demanda diária de energia,
segundo observou em
entrevista recente o diretorgeral
do Operador Nacional
do Sistema Elétrico, Hermes
Chipp. Em vez de um único
horário de pico, no início da
noite, o sistema elétrico vem
apresentando neste verão um
segundo, no início da tarde,
quando há grande números
de aparelhos de ar-condicionado
ligados.
Bernini, no entanto, demonstra
preocupação com
o impacto do aumento de
consumo residencial sobre
a qualidade da distribuição
da energia nas grandes cidades.
“São áreas com grande
densidade populacional, e
o aumento da intensidade
energética vai demandar
mudança nas estratégias de
investimento das distribuidoras.”
Ele cita como exemplo
a necessidade de se aumentar
a relação entre número de
transformadores e número
de residências, uma vez que
cada unidade residencial tem
consumo bem superior ao verificado
no passado.
“É necessária uma mudança
na frota de transformadores
e circuitos, que
estão hoje sobrecarregados,
com maior risco de falhas”,
afirma Bernini, que propõe
ainda investimento em medidas
de isolamento de conjuntos
de consumidores, com
a implementação de uma segunda
fonte de suprimento.
Assim, em caso de queda de
energia, o religamento se
torna mais fácil, como é feito
hoje nos grandes sistemas
de transmissão.
Bernini reconhece que
os investimentos podem se
refletir em algum repasse
para a tarifa, mas diz que
o debate precisa ser levado
à sociedade. “Há um grande
tabu entre distribuidoras e
Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) para enfrentar
essa situação. O consumo
vem mudando consideravelmente
nos últimos, mas
parece que a ficha ainda não
caiu.”
Além dos transtornos
à sociedade, os blecautes
provocam prejuízos econômicos.
Levantamento feito
pela Associação Brasileira
dos Grandes Consumidores
Industriais de Energia (Abrace)
após o apagão de novembro,
que atingiu dez Estados,
aponta que sete associadas
tiveram um prejuízo de R$
35 milhões, entre queima
de equipamentos ou perda
de produção.