Em primeiro lugar que fique bem claro que não sou contra o uso da tecnologia na educação, desde que essa ferramenta seja conduzida com maestria. Todavia, a questão de inúmeras instituições de ensino superior utilizarem a web para o ensino da Língua Portuguesa, intriga-me. Também não quero, aqui, externar que outras disciplinas sejam menos importantes. O caso é que, como trabalho há três décadas com a Língua Portuguesa, sinto-me indignado pelo destino duvidoso a que está sendo conduzido o ensino de nossa língua, nos cursos de graduação, sob os mais variados nomes, como se existisse um idioma para Ciências Contábeis, um para Administração, outro para Direito etc. Ora, a Língua Portuguesa é somente uma. Quem é competente, linguisticamente, produz bons textos em todas as áreas do conhecimento, conforme o grande mestre, Napoleão Mendes de Almeida.
Porém, esse não é o foco de minha indignação. Vejamos.
Por que certas disciplinas serem presencias e outras não? Por que alguns cursos como, por exemplo, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, a Língua Portuguesa, com suas nuanças, ser on-line se ela é, essencialmente, o modo pelo qual os futuros profissionais garantirão seus sustentos?
Aulas on-line impedem tantas coisas boas! Às sextas-feiras, após as aulas, os acadêmicos convidavam-me para boas e descontraídas conversas. O interessante é que esses acadêmicos eram os mais prestativos, os mais respeitosos da sala. Os laços, portanto, ficavam mais fortes. E como ficam as interpretações textuais que precisam do repertório do leitor para decodificar o texto? Nesse caso, um bom professor, com habilidade, com envolvimento, com brilho nos olhos é capaz de fazer ótimas intertextualidades.
Lembro-me de uma oportunidade em que determinada instituição proporcionou-me essa interação, por meio de duas horas-aula. Nelas, reunia-me com acadêmicos, a fim de conversarmos sobre os textos deles que seriam disponibilizados no jornal da instituição. A conversa era em particular e eu apontava questões como coesão, coerência e outras. Havia fila para a revisão. Bela contextualização! O estudante encontrava sentido para a produção textual.
Há instituições de ensino, pelo Brasil, que dispensarão muitos professores doutores, mestres das aulas on-line para depois colocar no lugar, sabe Deus quem, já que professores competentes, críticos e conscientes não se sujeitarão a essa manipulação do ensino.
Minha preocupação com nossa última Flor do Lácio reside, pois, na forma como vem sendo ensinada e, sobretudo, com a desvalorização profissional.
Onde está a tal humanização do ensino tão preconizada por Edgar Morin e Mauro Maldonato?
Gílson Demétrio Ávalos, Mestre em Educação