Para evitar situações de perigo, algumas medidas são bem conhecidas e recomendadas: deixar as crianças longe de facas, fogão, remédios, produtos de limpeza, materiais tóxicos; não permitir que fiquem desacompanhadas em locais com piscinas descobertas, baldes e banheiras com água; usar protetores nas tomadas e portas, grades ou redes nas janelas e varandas; e nunca transportá-las fora da cadeirinha no carro.
Mas, além desses cuidados, é preciso “pensar em tudo que pode dar errado.” A recomendação é um olhar atento em volta para perceber um fio no caminho, um tapete muito alto, um acesso para lugar perigoso.
Para prevenir acidentes com crianças, principal causa de morte de um a 14 anos de idade, é necessário fazer uma avaliação dos possíveis riscos em casa e na escola para adaptar o ambiente e garantir a segurança em cada fase do desenvolvimento infantil.
Pesquisas comprovam que 90% dos acidentes poderiam ser evitados, reduzindo drasticamente os números de hospitalizações, sequelas permanentes e mortes. A atitude dos pais é apontada como o fator fundamental para mudar essa realidade de dados impressionantes: 5 mil mortes de crianças por ano no Brasil.
Segundo a coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Alessandra Françóia, nada mais comum do que ouvir dos pais após um acidente: “Eu nunca imaginei que isso poderia acontecer! Eu nunca ouvi falar disso.”
Os pais devem ter sempre em mente o jeito de ser do filho e a etapa do desenvolvimento em que ele está. Tomar cuidado com objetos pontiagudos, quebráveis, cortantes e com peças pequenas é importante com as crianças menores, até por volta dos três anos de idade. Deixar na sala de casa uma mesa de centro com tampo de vidro continua sendo “muito errado”, para quem tem um filho de quatro ou cinco anos que pode pular no sofá e cair ali. Andar de bicicleta sem capacete é perigoso em qualquer idade.
Não relaxar com as crianças maiores
Alessandra lembra que as crianças mais crescidinhas, que não mexem mais na tomada, são justamente as que ousam cada vez mais em direção aos perigos. A coordenadora nacional da ONG disse que percebe um relaxamento por parte dos pais e dos profissionais da educação e da saúde conforme as crianças crescem. Na avaliação dela, isso é um grande erro, pois elas deixam de ser vulneráveis pelo despreparado e passam a ser pela ousadia, ficando expostas a riscos de consequências até mais graves.
A criança mais velha passa a exercer algumas atividades de adulto sem maturidade e sem a proteção dos pais. À medida que ganha independência, sai para andar de bicicleta sem os equipamentos de segurança necessários, como capacetes. “É importante que as crianças e os adolescentes tenham oportunidades de fazer as coisas, mas é preciso que cada pai analise se ele tem habilidade e cuidado para fazer”, recomendou.
Atividades domésticas
A ONG Criança Segura incentiva a participação das crianças e adolescentes em atividades domésticas para ter contato supervisionado com os riscos e aprender os cuidados. Os menores podem ajudar a fazer um bolo, mas não colocá-lo no forno. Essa e outras atividades despertam interesse porque são vistas como brincadeiras e abrem espaço para a participação com orientações e restrições.
Alessandra acredita que a criança que cresce orientada sobre os riscos e os cuidados desenvolve a noção de prevenção como um valor e carrega isso para o resto da vida. “Ter cuidado não é não deixar brincar. Criar uma criança com prevenção de acidentes é ter uma qualidade de vida maior. Não pode esperar que ela cuide, isso é só depois dos 18 anos. Quando a família tem esse valor, desenvolve isso nela, a criança cresce com a cultura do cuidado e da prevenção.”