Silvia Tada e Nadyenka Castro
José Aparecido Bispo da Silva, o "Cido" foi condenado a 26 anos pela morte do ex-enteado dele, Luiz Eduardo Martins Gonçalves, o Dudu, ocorrida no dia 22 de dezembro de 2007. Do total da pena, 24 anos foram pelo homicídio e dois pela destruição e ocultação de cadáver. "Nós acreditávamos e continuamos a acreditar na Justiça. O que tiraram de nós jamais a gente vai recuperar, mas tivemos a certeza da punição", diz Roberto Gonçalves, de 63 anos, pai da vítima, comemorando o resultado do julgamento que durou quase nove horas.
O júri começou por volta das 8h30min, com o plenário da 2ª Vara do Tribunal do Júri lotado. Os pais da vítima, Roberto e Eliane Martins, acompanharam a sessão, vestidos com camiseta que estampava a foto de Dudu — imagem amplamente divulgada na mídia, em cartazes e botijões de gás. Amigos, parentes e vizinhos do Bairro Aero Rancho e Jardim das Hortênsias também estiveram presentes.
Fizeram parte do conselho de sentença três homens e quatro mulheres. José Aparecido, que está preso desde o dia 13 de março do ano passado, respondeu às perguntas feitas pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos e pelo advogado de defesa José Roberto Rodrigues da Rosa, e negou qualquer participação no caso. Disse conhecer "de vista" os adolescentes e o jovem que confessaram o crime e que tinha bom relacionamento com Dudu. Também afirmou não ter nenhuma ligação com magia negra ou espiritismo. "Acredito em Deus", declarou. Ele voltou a negar envolvimento na morte do menino.
Acusação
O promotor do caso, Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, falou durante 1h30min, apresentando aos jurados trechos dos depoimentos de acusados e testemunhas. Foram ouvidas durante o processo mais de 55 pessoas, que prestaram 120 declarações — segundo ele, foram lidos apenas fragmentos de afirmações feitas na presença de advogados.
Em alguns momentos, o promotor se emocionou. Na plateia, muitas pessoas choraram, principalmente nos relatos de detalhes sobre as circunstâncias da morte da criança. "Nunca vi nada tão bestial. Nunca foi reportado algo tão bestial", enfatizou Douglas Oldegardo. E, dirigindo-se aos pais: "Hoje, seus corações serão rasgados, vou contar a verdade sobre o que aconteceu com seu filho. Não posso supor que eu tenha esperado o dia de hoje mais do que os senhores, mas a expectativa é a mesma".
De acordo com a acusação, José Aparecido Bispo foi o mandante do crime, tendo pago R$ 100 para cada um dos três adolescentes e para o jovem que confessaram ter espancado até a morte e depois enterrado o corpo do menino Dudu, além de também ter participado das agressões físicas, em sua própria casa.
Passados alguns dias, o acusado, acompanhado de mais duas pessoas, foi ao local onde o corpo estava escondido e o desenterrou. Com golpes de machado, os ossos foram partidos em pedacinhos e depois queimados e novamente enterrados, disse o promotor.
Sobre o argumento de que não ficou comprovado que se trata da ossada de Dudu, o representante do Ministério Público foi incisivo: "Não são ossos de cachorro. Acreditar nisso é nefasto, é desumano, anticristão. Depoimentos de envolvidos levaram ao local exato onde a ossada estava enterrada". E concluiu: "Esse menino espera pela libertação; está pedindo para ser enterrado".