SCHEILA CANTO
Houve um tempo em que as pessoas que decoravam a casa com artesanato corriam o risco de entrar na lista do “gosto duvidoso” ou de serem rotuladas com a palavra em inglês kitsch. Ou então enquadravam-se no rótulo do rústico, criando um clima superdespojado para abrigar peças feitas à mão, ainda que morassem na selva de pedra.
A situação agora é outra. Aos poucos, até designers de interiores passaram a conjugar o visual clean ditado por Milão com a autenticidade das peças artesanais, tanto as “made in Brasil”, como as estrangeiras, que entram na moda étnica.
A boa notícia para quem vibra com a criatividade do artesanato é que não é mais preciso montar um visual rústico para abrigá-lo, nem deixar as peças confinadas nas casas do sítio ou da fazenda. Hoje, ele é valorizado nos ambientes urbanos, dentro de projetos sofisticados, servindo, inclusive, para “aquecer” esses espaços. “O contemporâneo admite que o estilo clean conviva com objetos feitos à mão”, diz a arquiteta Milene Estrela, coordenadora do Curso Superior em Design de Interiores do Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande.
É justamente para mostrar esta nova proposta que a professora e mais cinco alunos do 2º ano do curso montaram na Feira do Empreendedor, aberta ontem, no Pavilhão Albano Franco, três espaços (1 sala de estar, 1 ambiente corporativo e 1 área de lazer corporativa) onde os produtos de artesanato estejam inseridos, valorizando e fomentando a aplicabilidade de peças no contexto dos projetos de interiores.
Segundo Milene Estrela, as pessoas estão cansadas de todo esse clima hi-tech. “O artesanato aquece com seus tons de terra, e contrasta com as cores frias dos móveis contemporâneos”, defende.
Na Feira do Empreendedor 2010, organizada pelo Sebrae/MS, os artigos regionais estão sendo privilegiados. Objetos feitos com chifre de boi, fibra de taboa, cabaça, entre outras matérias-primas ganharam destaque na ambientação.
Aposta certeira
A escolha de peças artesanais para decoração deve ser criteriosa. Em primeiro lugar, observe se você realmente se identifica com a peça. “O ideal é escolher um objeto mais leve, que não seja muito rebuscado e que tenha tons amenos”, recomenda Milene. Muitas vezes, os amantes do artesanato pecam pelo excesso: sobrecarregam a casa com as peças feitas à mão, correndo o risco de deixá-la entulhada de cacarecos, que, às vezes, não têm a menor harmonia entre si.
E aí, o que fazer? “Tudo depende da personalidade dos moradores: quando se trata de um casal mais conservador, o ideal é ter um fundo neutro, se há muito artesanato colorido”, responde a arquiteta. “Mas um jovem pode aproveitar e fazer uma parede colorida, combinando com os objetos”, acrescenta.
Boas combinações
Se bem dosadas, as peças artesanais podem combinar com qualquer estilo de decoração, do contemporâneo ao clássico. Para a professora e arquiteta, o segredo é valorizá-las, dando contraste e um toque final aos ambientes.
Para evitar a cafonice, não misture peças de cerâmica com fuxico ou palha. O ideal é ter um ambiente limpo com alguns trabalhos valorizados. Quando o morador tem muitas peças, deve agrupá-las numa estante, como uma coleção.
Na opinião de Milene, o que está em alta na vasta gama dos produtos feitos à mão são as cerâmicas (nas versões contemporânea e regional); as peças étnicas indígenas e objetos de palha. Mas os modismos pouco devem influenciar na escolha: na hora de comprar peças artesanais, deve prevalecer mesmo o gosto de cada um.