DANIELLA ARRUDA
Laudo necroscópico apresentado ontem pela Polícia Civil e Instituto Médico-Odontológico Legal (Imol) comprova que a arquiteta Eliane Nogueira de Andrade, de 39 anos, ainda estava viva depois de ser esganada e ser colocada no próprio veículo, que em seguida foi incendiado, na madrugada de 2 de julho na região do Tiradentes. Os exames periciais, divulgados durante coletiva à imprensa, também constataram que um fragmento de tecido encontrado grudado no corpo da vítima tem o mesmo padrão da camisa utilizada pelo projetista Luiz Afonso dos Santos de Andrade, de 42 anos, durante uma festa em que esteve junto com Eliane, na noite anterior ao assassinato.
Preso há 13 dias como o principal suspeito pelo crime, o projetista foi reconhecido por um taxista que o transportou na madrugada de 2 de julho da Rua Joaquim Murtinho, no Bairro Itanhangá, até as proximidades do Hipermercado Extra, entre as ruas 13 de Junho e Maracaju, próximo do prédio onde o casal morava e da empresa onde o projetista estava residindo após separar-se de Eliane, três dias antes do crime. O taxista prestou depoimento ontem à polícia.
O titular da 4ª Delegacia de Polícia Civil, Wellington de Oliveira, ainda aguarda informações da quebra de sigilos bancário e telefônico do acusado e da vítima, laudos do exame pericial do local do crime, de corpo de delito de Luiz Afonso e outros exames complementares, porém considera que já há elementos suficientes para o indiciamento do acusado. “Ele vai ser indiciado por homicídio doloso qualificado por motivo fútil, com emprego de fogo e também por incêndio”, adiantou. O delegado também vai pedir a conversão da prisão temporária do projetista, que tem duração de 30 dias, para prisão preventiva, assim que relatar o inquérito.
Provas
Conforme o laudo pericial do Imol, a causa da morte de Eliane foi “asfixia por imersão em atmosfera de gases irrespiráveis, seguida a uma asfixia mecânica por constrição incompleta do pescoço do tipo esganadura”. As lesões características de esganadura foram constatadas devido à preservação da parte superior do corpo das chamas (Eliane foi jogada no banco do passageiro com a cabeça pela frente); além disso, exame radiológico mostrou ter havido fratura do osso hióide (da laringe) da vítima, que muitas vezes é lesionado no ato da esganadura. Já os exames internos constataram que um dos pulmões, também preservado no incêndio, apresentava coloração rosa carmim, característica da inalação de fumaça. “A esganadura tirou a consciência dela (Eliane), mas a morte ocorreu por inalação de monóxido de carbono”, explicou o coordenador de divisão do Imol, Marco Antônio Araújo de Melo.
Segundo a versão da polícia, a arquiteta foi esganada e entrou em estado de morte aparente, situação que somente profissionais da área médica conseguiriam constatar. “Até então, o resultado morte poderia ter sido evitado, porém o autor tomou a decisão errada”, disse o delegado Wellington.
O coordenador de divisão do Imol também confirmou que seria possível a vítima sobreviver, caso tivesse recebido socorro médico após sofrer a esganadura. “Agora, se essa asfixia iria gerar lesão cerebral, ou até mesmo coma, só o tempo poderia dizer”, comentou. A perícia conseguiu estabelecer o horário da morte aparente (por esganadura), ocorrida à 1h30min, porém não foi possível definir quanto tempo demorou para a arquiteta ir a óbito por inalação de fumaça, pois isso dependeria do estado físico, psiquíco e até mesmo da influência de bebida alcoólica sobre o organismo dela.
Ainda com base no laudo pericial, Marco Antônio Araújo de Melo classificou o crime como “de alta crueldade”. “Esganar já é considerado um método cruel, porque é uma morte demorada e agônica. O ato de atear fogo a um ser humano também é de crueldade”, classificou.