Anderson Silva caiu. Desabou na luta em que poucos esperavam ver aquela cena. Chocou o mundo ao ser nocauteado no UFC 162, em julho. E surpreendeu mais, ainda no octógono, ao dar indícios de que iria se aposentar. Não precisava tanto: o que Anderson tinha que fazer era buscar mudanças. E depois de agendar a revanche contra seu algoz Chris Weidman, ele realmente tomou atitudes para voltar a vencer. Resolveu se aperfeiçoar e ficar mais forte. Não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Não foram mudanças radicais. Anderson e sua equipe, não se sabe o porquê, tentam sempre dizer que a preparação foi normal. Mas nas entrelinhas ficam as dicas do que aconteceu de verdade: o brasileiro se afastou de membros da equipe que o atrapalhavam, reencontrou suas raízes em treinos de muay thai e tomou cuidado para ficar mais próximo da família.
Este último item citado é o mais importante. Afinal, a ameaça de se aposentar, após a derrota, aconteceu porque Anderson queria ficar mais perto dos filhos. E ele montou uma programação para que isso realmente acontecesse. "Agora ele viajou mais cedo, ficou mais tempo com a familia e foi bom para a cabeça dele. Ele se dedica 100% para a família", explicou Cesário Bezerra, um dos treinadores de boxe de Anderson, apoiado por Rogério Camões, preparador físico: "ele está com a família dando todo o suporte em sua casa, que fica muito próxima do local de treinos. Isso faz uma grande diferença no final", reforçou Camões.
Anderson provou inclusive no Twitter, durante os últimos cinco meses, que a família estava sendo importante, já que publicou diversas fotos com os filhos. Ele inclusive teve que superar um problema com uma das filhas, Kaory - ela disse que nunca gostou do pai ser lutador. Mas de acordo com Anderson, agora ele está com todo apoio em casa. "Treinei muito, principalmente a parte mental. Passei mais tempo com meus filhos e minha esposa. Vencer essa luta é muito importante para mim, para minha família, para meus treinadores e para o meu legado", afirmou recentemente.
Com a intenção de passar mais tempo perto dos filhos, uma das táticas usadas por Anderson foi administrar melhor as viagens que ele precisa fazer. Desta vez, claramente optou por agendá-las mais cedo, no começo da preparação, e ficar mais relaxado e concentrado na reta final. Em agosto e setembro, por exemplo, ele participou de diversos programas e eventos pelo Brasil, gravou propagandas e treinou nos Estados Unidos. Foi neste período também que aconteceu uma viagem especial: de forma sigilosa, Anderson foi para a Tailândia, país onde nasceu o muay thai. É um esporte que sempre foi uma das melhores armas do brasileiro, mas ele queria reencontrar alguns mestres e se aperfeiçoar. "Ele fez uns treinos, mas não acredito que pode mudar muita coisa. Não é nada demais. O muay thai dele é muito bom, é um lutador completo", explicou Cesário, que recomenda a luta em pé para Anderson: "na hora da luta tudo é muito imprevisível, mas acredito que não seria uma boa levar a luta para o chão".
Outra forma de reforçar o treino de muay thai foi reatar a amizade com Fabio Noguchi, um de seus primeiros treinadores, de quem recebeu a faixa-preta do esporte. Eles tinham se desentendido por causa de um programa da Rede Globo, no ano passado, mas agora está tudo bem. A participação dele nos treinos foi pequena, mas já pode ajudar o equilíbrio mental de Anderson. E a mudança na equipe não foi apenas essa. Anderson tinha sido muito criticado por ter muitas pessoas ao seu redor durante a preparação para a primeira luta contra Chris Weidman. Cesário, que foi quem disparou essa polêmica no passado, afirma que a equipe diminuiu e agora está tudo bem. Mas não acredita que isso aconteceu só por causa dos seus conselhos: "ele mudou porque achou que tinha que mudar. Era muita gente que nem era treinador, tinha muita gente de fora e por isso ele diminuiu. Mas não posso citar os nomes", escondeu.
Os mistérios não param por aí: Cesário não quis sequer revelar quem vai ficar no córner de Anderson durante a luta. Serão as pessoas responsáveis por orientar o brasileiro durante os rounds e nos intervalos. As provocações do brasileiro a Weidman, que podem acontecer de novo, podem ser controladas por esses treinadores. Mas ainda não se sabe quem terá essa missão. É uma das poucas mudanças que ainda não foi possível encontrar nas entrelinhas.