Foi em maio de 2005 que
a vida de Antônia Aurineide
Maciel, a dona Neide, mudou
completamente. Ela é mãe
de Kelvin Henrique Maciel
Domingues, que hoje tem 18
anos. Quando tinha 13, ele foi
atropelado por um caminhão,
em frente ao posto de saúde
do bairro Aero Rancho. Uma
brincadeira de criança – o
menino saiu da Escola Estadual
Padre Mário Brandini,
onde estudava, para apanhar
a mochila que havia sido pega
por um colega – originou
a tragédia deixando-o em estado
vegetativo. Hoje, Kelvin
vive deitado em uma cama,
emprestada à família pela
Santa Casa de Campo Grande,
e precisa da ajuda integral
da mãe e da irmã, que moram
com ele em uma pequena casa
no Conjunto Aero Rancho,
em Campo Grande. Por dedicar
todo tempo ao filho, dona
Neide não pode mais trabalhar
e vive da solidariedade
das pessoas.
Na semana passada o caso
de Kelvin voltou à tona, devido
à decisão do Tribunal de
Justiça de Mato Grosso do Sul
(TJMS) que condenou o Estado
a pagar indenização de cerca
de R$ 200 mil à família, além
de pensão vitalícia no valor
de um salário mínimo por
mês. A alegação é de que a
escola seria responsável pela
integridade do estudante, que
deveria estar na aula quando
sofreu o acidente. O governo
do Estado recorreu da decisão
e teve o pedido negado pelo
TJMS. Agora, ainda há possibilidade
de recurso no Superior
Tribunal de Justiça (STJ).
Há cinco anos lutando
pela indenização, Aurineide
acredita que o dinheiro será
uma forma de minimizar o
sofrimento e a agonia por que
tem de passar todo mês, sem
saber se terá para oferecer ao
filho o que é necessário. “Tudo
é muito difícil, tudo é muito
caro”, conta dona Neide.
O semblante da mãe só
muda quando ela lembra de
uma decisão que classifica
como “injustiça”. Recentemente,
o TJ/MS condenou o
Estado a pagar pensão mensal
no valor de 60 salários
mínimos, equivalente a R$
30,6 mil, a um advogado baleado
por um policial militar
em 2000, quando ficou tetraplégico.
O valor de apenas um
mês da pensão do advogado,
cuja decisão do tribunal foi
publicada este mês, equivale
a três anos do valor fixado
para Kelvin. “E por que isso?
Só porque a gente é pobre e
não tem influência?”, reclama
a mãe do jovem.
Solidariedade
O quarto onde Kelvin vive
foi construído com material e
dinheiro doados. Atualmente
a mãe recebe pouco mais de
R$ 500 por mês do Instituto
Nacional do Seguro Social
(INSS) e, com esse dinheiro,
precisa cuidar das despesas
da casa. O valor, evidentemente,
não é suficiente para
que todas as necessidades de
Kelvin e despesas da casa sejam
satisfeitas.
O jovem tem de receber
alimentação especial, precisa
de fraldas descartáveis e
roupas de cama, que devem
ser trocadas constantemente.
Kelvin está com dificuldades
de movimentar os braços,
mãos e pernas porque não
tem feito tantas sessões de
fisioterapia quanto necessita.
O tratamento, assim como as
sessões de fonoaudiologia,
acontecem somente quando
algum profissional se prontifica
a ajudar.
Só com a solidariedade de
profissionais da saúde, amigos
e outros desconhecidos é que
dona Neide consegue superar
as dificuldades diárias.