As pressões sazonais se intensificaram e houve maior espalhamento da alta dos preços, segundo a inflação medida pelo IGP-10 (Índice Geral de Preços-10) da FGV (Fundação Getúlio Vargas). A perspectiva, de acordo com o coordenador de análises econômicas da instituição, Salomão Quadros, é que o movimento de alta se mantenha, ainda que sem uma “pressão explosiva”, como definiu o economista. “Há sinais de que a inflação, embora não vá disparar, aparentemente está com movimento um pouco mais acelerado do que se imaginava. Já há sinais de que a inflação ultrapassou e talvez se afaste um pouco do centro da meta”, afirmou. Quadros avaliou que o BC fatalmente vai elevar a taxa de juros para conter a pressão inflacionária, já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Para o economista, o BC não vai deixar para agir no segundo semestre. BRASÍLIA O crédito habitacional da Caixa Econômica Federal mais que dobrou nas primeiras semanas deste ano. De acordo com os dados divulgados ontem, referentes até o dia 9 de fevereiro, os recursos concedidos somaram R$ 5,399 bilhões, 116% acima do registrado no mesmo período de 2009. “O mercado tem apresentado uma condição de resposta muito melhor do que a esperada”, comentou a presidenta da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, durante a coletiva com a imprensa para divulgar o balanço de 2009. Segundo ela, os recursos concedidos até agora já representam 10% do orçamento da Caixa para o ano, de R$ 50 bilhões. A projeção do banco federal é de um crescimento de 26,3% na carteira de habitação neste ano, chegando a um saldo de R$ 89,072 bilhões. Em 2009, a Caixa bateu recorde de contratações,quando foram concedidos R$ 47,3 bilhões com recursos do banco, o que inclui poupança e FGTS, dobrando (105,2%) o volume contabilizado em 2008. O estoque da carteira atingiu R$ 70,5 bilhões, com alta de 56,5%. O número de unidades financiadas pela instituição no ano passado chegou a 896.762, das quais 275.528 como parte do programa federal Minha Casa, Minha Vida. A inflação pelo IGP-10 subiu 1,08% em fevereiro, ante elevação de 0,20% em janeiro. A alta foi puxada pelos preços no atacado, que, de acordo com o IPA (Índice de Preços por Atacado), ficaram 1,15% mais caros. Um indício de que os preços permanecerão mais aquecidos é a elevação dos preços dos produtos industriais, especialmente os insumos para a produção. Os materiais para manufatura, por exemplo, registraram alta de 2,36% em fevereiro, após subirem 0,65% no mês anterior. Isso representa bem, segundo Quadros, o aquecimento da demanda brasileira e mundial. “A alta dos insumos sinaliza possível elevação futura também dos bens de consumo. Não significa que haverá pressão imediata, esses preços ainda estão baixos em relação ao ano passado, mas estão em fase de retomada. Acho que isso vai se repetir ao longo dos próximos meses”, observou o economista da FGV. Os fertilizantes, por exemplo, tiveram avanço de 10,09% em fevereiro, após variação negativa de 0,05% no mês anterior. No acumulado dos últimos 12 meses, há recuo de 33,57%. Os consumidores já começam a sentir mais diretamente a alta no atacado, nos produtos finais. O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) subiu 1,09%, maior variação desde abril de 2003, quando a elevação havia sido de 1,22%. Os preços dos transportes variaram 3,38%, impactados pelas tarifas de ônibus urbano (7,16%) e pelos combustíveis – o álcool ficou 13,32% mais caro, e a gasolina subiu 2,10%. O açúcar segue em alta, com aumento de 18,89%, depois de subir 7,22% em janeiro. Já o arroz, influenciado pelas chuvas, ficou 6,09% mais caro em fevereiro. O IGP-10 é calculado com base nos preços coletados entre os dias 11 do mês anterior e 10 do mês de referência.