Thiago Andrade
Como ajudar crianças e adolescentes de uma das regiões mais carentes e com maior índice de risco social para a população infanto-juvenil de Campo Grande? Esta questão norteou Elza Barbosa Coelho e um grupo de amigos voluntários, que há cerca de nove anos começaram a visitar, semanalmente, o Bairro Taquaral Bosque, promovendo atividades socioeducativas, culturais e de assistência social. “Tudo começou pequeno. Nos reuníamos com os moradores embaixo das árvores. A sede própria veio somente em 2005”, lembra Elza, presidente da Associação Amigos da Criança e do Adolescente (ACA). Com capacidade para atender até 100 crianças e adolescentes, de idades entre cinco e 15 anos, a instituição funciona de segunda a sexta-feira, conta com vasto espaço e atende moradores do Taquaral Bosque, Residencial Arco-Íris, Bosque da Esperança, Jardim Tainá e outras regiões próximas.
“Nossos alunos ficam conosco no contraturno da escola. Eles recebem ajuda para fazer as tarefas além de duas refeições”, detalha Elza. Também são promovidas atividades como oficinas de capoeira, vôlei, futebol, redação, literatura infanto-juvenil, iniciação musical, entre outras.
A casa em que a instituição está localizada fica em uma rua de terra, próxima da BR-163. O espaço é grande. Além da casa que funciona como sede, existe ainda um terreno de 1.750 metros quadrados, onde foi improvisado um campo de futebol. “Queremos construir a quadra poliesportiva neste espaço, que ampliará o atendimento da associação a todos os moradores dos bairros”, explica a presidente da instituição. Neste sábado, será promovido um jantar beneficente com o intuito de arrecadar dinheiro para o início das obras. (Leia box).
História
“Sou espírita e acredito que devo ajudar o próximo sempre que possível. Assim também pensam outros 15 amigos e, por esse motivo, decidimos nos organizar e trabalhar no bairro com maiores riscos e problemas sociais. Na época, essa região ainda era um assentamento, por isso a escolhemos”, conta Elza.
Os voluntários fazem parte da Casa Espírita Teresa de Ávila, que sempre apoiou o projeto. “Em razão da falta de espaço físico, nos reuníamos com as crianças aos sábados e domingos. A ideia, a princípio, era ajudar na educação e promover atividades artísticas”, lembra.
Quando o bairro foi reconhecido e a Prefeitura Municipal passou a agir no local, construindo casas populares, escolas, praças e pavimentando ruas, os amigos passaram a atender dentro do Centro Comunitário da região. “Embora a situação dos moradores tenha saído da precariedade, ainda existiam riscos para os menores. Por meio da assistência social, estamos tentando afastá-los das drogas e da violência”, aponta.
Em 2005, ao ser reconhecida como associação civil sem fins lucrativos, os membros decidiram adquirir um terreno e construir o espaço do Amigos da Criança e do Adolescente. Mantida atualmente por meio de doações daqueles que abraçaram a causa e da promoção de jantares beneficentes e rifas, além de uma verba da Secretaria de Assistência Social (SAS), a casa conta com estrutura exemplar, além de professores e uma cozinheira contratados.
Educação e cidadania
As atividades do ACA acontecem em dois turnos. No período da manhã, as crianças e adolescentes entram às 7h, horário em que é servido o café da manhã. Em seguida, dividem-se por faixa etária, em dois grupos. Quem tem de cinco a oito anos vai para a sala de atividades junto a um dos professores. Já os mais velhos, de nove a 15 anos, ficam em outro local e podem fazer as tarefas da escola. O almoço é servido às 10h30min.
No período vespertino, as atividades começam às 13h, com um lanche, e o jantar é servido às 16h30min. Nos dois turnos há aulas semanais de capoeira e futebol, além de outras oficinas.
“Queremos evitar que as crianças e os adolescentes fiquem ociosos em casa ou perambulando pelas ruas. O tempo deles é preenchido com atividades que vão somar à sua condição de cidadãos. Uma de nossas preocupações é oferecer educação espiritual, que não se prende a nenhum credo, para os jovens que atendemos”, ressalta Elza. Ela acredita que todos os atendidos pela associação se tornarão multiplicadores do que lhes foi ensinado, promovendo a cidadania e melhorando as condições de vida na comunidade.
A presidente alega que os resultados já são sentidos. “Houve uma considerável melhora da qualidade de vida por aqui, as crianças e os adolescentes já estão muito mais conscientes de sua importância para o futuro deste local. Os pais também estão se fazendo mais presentes, integrando a vida comunitária”, pontua.