As dúvidas continuam sendo uma constante na mente humana, especialmente naquela que se propõe grandes ideais, grandes obras ou grandes empreendimentos. São situações que exigem muita perspicácia em saber administrá-las e interpretá-las.
Isso porque o ser humano não pode se contentar com as conquistas realizadas, ou com os conhecimentos adquiridos. Precisa ir a fundo a cada e qualquer questão. Precisa encontrar meios para se realizar o mais plenamente possível. Não pode se contentar com o comum. Não pode se sentir seguro em seus argumentos se ainda persistirem dúvidas em sua mente.
Precisa esclarecer, argumentar e convencer. Caso contrário permanecerá nesse mundo de indecisos e medíocres por não se determinarem a abrir novos e ousados caminhos tanto no campo do conhecimento científico quanto no campo do conhecimento espiritual.
Especialmente no campo espiritual o ser humano é constantemente solicitado a fazer alguma opção, a assumir alguma posição e a encaminhar alguma definição profundamente pessoal e que assegure sua fé ou sua crença.
Facilmente pessoas menos preparadas confundirão nesse campo da espiritualidade o sentido do "crer" com o sentido do "admitir". É comum ouvir: "Eu creio em Deus". "Eu creio em Jesus Cristo". "Eu creio na Bíblia Sagrada". E muitas outras expressões como essas.
Se analisar em maior profundidade esses fenômenos certamente se constatará que a maioria não crê. Simplesmente admite. E admite intelectualmente. Admite como um modo de se sentir bem com o sobrenatural. Admite para poder assegurar uma convivência mais amena e menos conturbada com os demais.
Admite como um valor, como algo importante, mas que nada muda em sua vida e em suas atitudes. Admite por uma questão de segurança pessoal, mas não se compromete e não se impõe absolutamente nada para se responsabilizar.
E então, quem realmente crê? A partir da atitude em admitir a existência de Deus, a existência de Jesus Cristo e o valor da Bíblia Sagrada é possível passar para um ato de fé. E esse ato de fé se manifestará na medida em que o ser humano consiga penetrar nesses mistérios e consiga se sentir comprometido com os mesmos.
Não apenas os assume para si como alimento a saciar sua fome, ou como conteúdo para garantir sua estabilidade na fé. Mas principalmente como um compromisso de vida, de testemunhar corajosamente em palavras e em atitudes esse valor ou esse mistério que o envolveu e o transformou.
Crer é ir além do admitir. É comprometer-se em assumir aquilo que a inteligência não consegue explicar. É fazer-se expressão viva do amor que se manifesta nos gestos de quem se dedica ao cuidado dos pobres e dos doentes, de quem reparte seus bens com os necessitados, de quem defende os direitos dos pequenos, de quem compromete suas capacidades em defesa da justiça e da verdade.
Assumir essa fé é assumir a solidariedade global pela paz e pela vida, superando o império da guerra e da morte.
Frei Venildo Trevizan