Picareta. Visionário. Talentoso. Imprescindível. Organizado. Farejador de talentos. Criador de confusões. Poucos puderam passar pelo mundo artístico e ganhar, ao mesmo tempo, adjetivos tão opostos como inglês Malcoln McLaren, morto na quinta-feira, aos 64 anos, vítima de câncer. Talvez o público mais novo não reconheça nele a responsabilidade de muitos fenômenos, mas, com certeza, Malcoln é quem está por trás, ou participou ativamente, de formulações de vários emblemas da cultura pop nos últimos 40 anos.
A faceta mais famosa foi a de criador da estética punk, na década de 1970, quando juntou garotos que perambulavam por Londres e frequentavam a loja Sex, mantida por Malcoln, criando a banda Sex Pistols, que provocou verdadeiro tsunami na música, moda e comportamento. Se hoje existem Green Day e Fresno e um dia existiram Nirvana e Dead Kennedys, agradeça aos Pistols e, a reboque, Malcoln. Ele não criou o som com poucos acordes e despejadas de forma nervosa e, muito menos, inventou o jeans rasgado, mas formatou tudo de tal maneira que era impossível não perceber a existência desses elementos. Tornou tudo sedutor e fácil e consumir.
Nos anos seguintes, farejou a cultura hip hop e lançou uma das primeiras obras marcantes do gênero, "Duck rock". Mais adiante, mesmo sem sucesso comercial, produziu peças musicais instigantes – detalhe: não tocava nem um instrumento, muito menos cantava. Em um álbum trouxe valsas; em outro, celebrou sons franceses misturando eletrônica e orquestra. Simplificando: Malcoln McLaren tornou a música popular planetária muito mais divertida e isso não é pouco. (OR)