O ser humano, mais do que nunca, está sentindo em seu íntimo certo vazio,
alguma inquietude, ou até algum medo. Falta-lhe a serenidade e a segurança
naquilo que assumiu como tarefa, como profissão, ou como ideal em sua vida.
Faltam-lhe momentos de reflexão e de oração para ver em profundidade algo
que possa lhe assegurar clareza e firmeza em suas convicções.
Esse período quaresmal é muito propício para se fazer exercícios no campo
da espiritualidade dedicando tempo e espaço para uma reflexão mais profunda e
mais convincente. Não pode apenas usar o tempo que lhe é disponível em obras
e tarefas materiais. É importante o trabalho. É importante a luta por melhores
salários e por empregos mais rendosos.
Mas não pode ficar só nisso. Há uma necessidade mais séria e mais profunda
em cultivar os valores sobrenaturais e as atitudes do espírito. Uns pensam em
deixar isso para mais tarde, ou para quando não tiverem tantos compromissos
ou tantas atividades. Talvez esse tempo não chegue a acontecer. Talvez essas
oportunidades morram pelo caminho.
É bem melhor organizar o tempo e as oportunidades enquanto tiver consciência
desses valores e dessas grandezas. Não há como refazer. Não há como
recomeçar. Não há como voltar atrás. Às vezes pode acontecer certo arrependimento
por não ter aproveitado melhor. Isso pouco ou nada resolve. Pois, cada
dia é um novo dia, cada momento é um novo momento.
Não se percorre duas vezes o mesmo caminho. O caminho pode ser o mesmo
fisicamente. Mas espiritualmente cada passo é um novo passo. Cada olhar é
um novo olhar. Cada sentimento é um novo sentimento. Cada gesto é um novo
gesto. Cada maneira de interpretar é uma nova maneira. O ser, o pensar e o agir,
tudo é sempre novo.
Não se vive sempre da mesma forma, da mesma maneira. São novos sentimentos,
novas maneiras de ver, de julgar e de agir. Não há como ser repetitivo.
Tudo é novo. Tudo é diferente. O tempo não se repete. Os gestos não são mecânicos.
As expressões não são estáticas. Os pensamentos não são fixos. Tudo se
renova. Tudo é maleável. Tudo muda diante da realidade. Triste e deprimente
seria a monotonia.
Mas um coração que ama renova tudo o que houver ao seu redor. Um coração
que crê transforma e dá novo sentido a todos os projetos e a todos os sonhos. Um
coração que confia descobre maneiras sempre novas e convincentes de conviver
e de partilhar.
Principalmente desenvolve motivos e razões cada dia mais nobres de se relacionar
com Deus. Terá a alegria em abrir espaço para o olhar de Deus. Um Deus
sempre disponível no silêncio e no aconchego da consciência. Não perturba. Não
inquieta. Aguarda pacientemente a oportunidade que possa lhe ser dada para
um encontro íntimo e prazeroso.
Não é de muitas palavras. Apenas um olhar que leve a contemplar. Apenas
um silêncio que permita ouvir. Apenas uma atitude que signifique partilha e
comunhão. Deus é assim: incansável em seu amor, gratuito em suas bênçãos e
generoso em suas graças.
Por isso, os momentos de oração e de reflexão são sagrados. São eles que
garantem a serenidade e fortalecem o entusiasmo, sustentam a fé e solidificam
o amor.