Quem nunca ouviu que mãe e pai não devem ser jovens demais, pois não têm responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança? Ou que perto dos 40 anos mulher e homem já estão “muito velhos” para serem pais? Será que existe mesmo uma idade ideal para se ter filhos? A idade dos pais tem influência relevante sobre a educação e a relação com os filhos? Vamos então discutir sobre este polêmico assunto, tendo em vista os aspectos emocionais e relacionais envolvidos. Quando se é jovem demais, algumas preocupações logo aparecem. A tendência inicial é acreditar que a mãe e o pai não darão conta de sua função porque ainda não têm maturidade nem experiência suficiente para cuidar do filho. E que ainda querem “viver a vida” ou realizar alguns projetos que os impedem de assumir sozinhos a responsabilidade pela educação da criança. Assim, é natural, em alguns casos, que as “avós de plantão” apropriem-se desta função e os jovens pais biológicos não tenham a oportunidade de exercitarem seu papel e viverem as experiências próprias da maternidade/ paternidade. Por outro lado, acreditase que os pais jovens têm disposição para brincar com seus filhos, entendem sua linguagem e suas necessidades, o que os aproxima mais. No entanto, há também uma tendência de se acreditar que, quando os pais são muito jovens, irão se misturar com os filhos, o que significa dizer que seriam três crianças e, como tal, falam de igual para igual. Desta forma, o filho fica sem referência de autoridade, sendo um sério candidato a crescer desconhecendo regras e limites. Quanto aos pais mais velhos, estes também são alvo de pré-conceitos... e de contas. Sim! Logo perguntam: “Que idade terão quando seu filho for adolescente?”. Quando a maternidade/paternidade acontece após os quarenta anos de idade principalmente, existe a tendência de se acreditar que mãe e pai não terão “pique” para brincar com o filho. Ou então que não terão mais paciência para lidar com os conflitos próprios da infância e da adolescência, pois seus gostos, prazeres e estilo de vida estão em defasagem. Com isso, a criança pode sofrer com excesso de exigências e cobranças. Partindo destes princípios, poderíamos dizer que não se deve nem ser jovem, nem velho demais para ter filhos? Ora, assim estaríamos desconsiderando os aspectos que efetivamente estão em jogo quando falamos da função dos pais e do desenvolvimento das crianças. Um filho precisa de cuidados, proteção, amor e afeto e de pais que se responsabilizem por ele e assumam sua função. Isto, certamente, independe da idade com que se tornaram pais. É necessário, e também muito bom, brincar com o filho, entrar por alguns momentos em seu mundo mágico, assim como saber falar sua linguagem, aproximarse da criança, criando laços afetivos fundamentais para seu desenvolvimento. Mas, para isso, não faz diferença a idade dos pais, o que conta é a idade da criança que habita cada pai e mãe. Ou seja, a capacidade de entregar-se às brincadeiras e ao mundo infantil. Contudo, este não deve ser um espaço permanente. É importante que os pais mantenham seu próprio grupo de relações e realizem as atividades que lhes dêem prazer, seja jogar carta ou surfar. Da mesma forma, deve ser dada à criança a possibilidade de conviver com outras de sua faixa etária e, assim, os dois mundos interagem e se respeitam mutuamente. Enfim, o que de fato está em jogo é o desejo de ser mãe e pai, o que pode acontecer em qualquer idade. Tanto pais jovens ou os nem tanto têm condições de educar seus filhos com responsabilidade, uma vez que não é a idade o fator determinante para qualidade da relação entre pais e filhos, mas o envolvimento afetivo que os unirá e permeará suas relações. O importante é saber que algumas mudanças ocorrem na vida dos pais com a chegada do filho. E estar disposto a encarar estas mudanças como prazer e não como fardo é essencial para enfrentar os desafios relativos à educação deste outro ser. Desta forma, se os pais estão comprometidos emocionalmente e dispostos a oferecer o essencial para o desenvolvimento saudável do filho, a idade tornase um mero detalhe.