O Correio do Estado, na sua edição de 2 de agosto, trouxe para os seus leitores, uma interessante lição política sob o título – poder sem pudor -, em que o seu autor, de uma forma sucinta, que não ultrapassa a meia dúzia de linhas, narra o diálogo entre dois políticos brasileiros.
De um lado, Otávio Mangabeira, de outro, o senador João Candido Ferraz.
Na conversa, o primeiro chega à residência do segundo, e vê logo na parede da sua sala de visita, a fotografia emoldurada do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato derrotado à presidência da República, nas duas últimas eleições em que concorreu, em 1946 e 1950. Otávio Mangabeira, pergunta para o senador, como é que ele ainda guardava na redoma a foto do brigadeiro depois de tanto tempo. Por respeito e gratidão, disse o senador. Otávio Mangabeira, então, replicou, dizendo ao senador que em política a – gratidão – tem tempo certo para viver, e emendou dizendo que dura apenas seis meses, findos os quais, ela prescreve.
Otávio incorreu em erro imperdoável, incompreensível, ingênuo mesmo, para um político de prestigio em todo o território nacional.
A gratidão é imprescritível.
Ela cabe em qualquer circunstância em que o ser humano resulta envolvido. Não precisa ser evidenciada apenas na área política em que abunda com mais generosidade, embora os seus beneficiados não consigam entender o caráter engrandecedor da ajuda, da orientação, do conselho, da palavra suave, que receberam, para ultrapassar as dificuldades que o destino reserva para cada qual.
Na vida pessoal ela não é diferente, porque não pode existir para o ser humano nada mais desolador, angustiante, do que receber uma acusação infundada.
É que ela, pela sua gravidade, ultrapassa a pessoa física do ofendido, e alcança, indubitavelmente, todo o grupo familiar. O desequilíbrio emocional, as discussões, as desavenças, passam a ser uma constante no recesso do lar, a ponto de levar o cidadão aos atos mais extremos, que a sua consciência pode ditar.
É o retrato mais amargo da difamação, da injúria, da calúnia, que se pode imputar a alguém, porque, a toda evidencia, é ele, o alicerce da inimizade, da discórdia, da mágoa, e sua ação é tão avassaladora, que nos remete ao entendimento de que é como se o mundo tivesse desabado sobre a nossa cabeça, e com ela, tudo o que construímos, todos os sonhos que acalentamos, as emoções que vivenciamos, ruíssem, esboroassem.
Quando o ofendido tem uma família bem estruturada e possui amigos confidentes com quem pode desabafar, é claro, ameniza um pouco o sofrimento, anima na ultrapassagem da vicissitude, mas não faz desaparecer o ressentimento instalado no coração.
É muito difícil explicar isso tudo apenas em palavras. A pessoa precisa passar por esse momento de angústia, que parece não querer ter fim, para dar o seu testemunho.
Não que as palavras não representam nada, nem que os especialistas no assunto, não possuem a autoridade para convencer as pessoas que se socorrem de seus ofícios para melhor compreender essa apreensão humana.
Não, não é isso que pretendo dizer. Aqui, as expressões para retratar o fato transcendem o aspecto pessoal de cada qual, e evidenciam fortemente que as explicações estão no campo da moral, da ética, ciências que cuidam do nosso relacionamento com Deus.
É essa a nossa sina. Dela ninguém está livre. Precisamos apenas estar atentos e preparados para uma ação digna, quando o fato acontecer.
A gratidão enobrece os nossos sentimentos, eleva o nosso espírito, torna-nos grandes como seres humanos, e é um dos caminhos para uma rápida aproximação com Deus.
Antônio Carlos Siufi Hindo, promotor de Justiça aposentado