Campo Grande – 1913
Certamente o aniversário de emancipação político-administrativa de Campo Grande, no dia 26 de agosto de 1913, não foi nada festivo...
O número 13, àquela época, foi realmente fatídico e não deixou dúvidas quanto a sua influência negativa, principalmente por ter caído numa sexta feira de agosto. Sim, senhores e senhoras superticiosos; aconteceu e ninguém mais ousou duvidar de escadas, gato preto e figueiras velhas.
O ano de 1913 já começara carregado de suspeitas e tensões em virtude de uma reviravolta na política local entre liberais e conservadores, ambos republicanos não sei por que. Um ano antes, durante visita do governador Costa Marques a Campo Grande, as rixas com os liberais já cheiravam sangue.
A verdade é que o governo do Estado em Cuiabá, não engolia a nova situação aqui no sul, onde partidários do líder Amando de Oliveira, não digeriam a situação de guerra que a polícia do governador impusera na latejante e progressista “Villa de Santo Antônio de Campo Grande” .
Todo um festival de opressão, humilhação e violência era desfechado contra a população, principalmente àqueles que sabidamente eram contrários aos conservadores.. Essa truculência toda era comandada por um tal Tenente Espíndola, comandante do destacamento policial , homem violento e rude, protegido do caudilho coronel Gomes.
À época, um dos aliados de Amando de Oliveira era um abastado comerciante mineiro de nome José Mendonça, um dos coronéis que liderava o grupo dos mineiros aqui residentes e que representavam um terço da população da Villa.
Em seu importante estabelecimento comercial trabalhavam homens trazidos por ele desde as Minas Gerais e, em sua casa dava sempre acolhida a novos conterrâneos que aqui chegavam. Uma acirrada discussão do comerciante com o tenente, por causa de um protegido do coronel, que teria sido preso por motivos fúteis e submetido a humilhações, serviu para que o tenente passasse a perseguir todos aqueles que gravitavam em torno do coronel mineiro.
No dia 12 de agosto de 1913, uma quinta-feira, fazia sua estreia um circo mambembe de um espanhol de nome Gómes, cuja troupe era composta de elementos aventureiros sem a menor queda para espetáculos. Mesmo assim, a população, por falta de outros atrativos, lotou o circo que era armado na esquina da Rua Treze com Barão do Rio Branco, onde hoje se encontra o edifício Rachid Neder.
Dezenas de funcionários do estabelecimento do coronel lá estavam e, diante do fraco espetáculo apresentado, promoveram pequena arruaça vaiando os pseudoartistas e promovendo gritarias contra o dono do circo, que fazia o papel de um palhaço muito sem graça e que não provocava a menor reação no público.
No outro dia, já 13 de agosto, uma sexta-feira, lá estavam os moços na porta do circo quando chegou a força policial...O tenente Espíndola já foi direto aos jovens e avisou que se fizessem qualquer ruído, durante espetáculo, ele fecharia a boca do desobediente à bala!...Tem início aí uma discussão acalorada e um caixeiro amigo do coronel, corre a chamá-lo...Sabendo da possibilidade de confronto com os policiais, o coronel Mendonça com o amigo Germano e outros que convocou pelo caminho, chegam ao circo e defrontam-se com mais uma cena de arbítrio do tenente que revistava os homens de Mendonça, agredindo-os como se fossem bandidos e pistoleiros que por aqui sobravam, tendo até proteção do comandante policial.
O coronel intervém e inicia-se nova discussão com o tenente que, sem ninguém perceber, manda um praça buscar reforço no quartel. Mais quinze homens vieram, armados e engatilhados, prontos para cumprir a ordem de fuzilamento que certamente o tenente daria...Enquanto discute o tenente vai se afastando até sair da linha de tiro e inicia uma fuzilaria dos dois lados. O mais visado, Coronel Mendonça é o primeiro a cair, em seguida seu amigo Germano é também ferido e morrem também três outros funcionários do coronel, além de três policiais alvejados. Na confusão formada à porta do circo, algumas pessoas correm desesperadas sem saber para onde ir e muitas recebem balaços dos policiais que obedecendo a fúria assassina do tenente Espíndola, não param de atirar...Morre também o comandante do reforço policial e uma mulher vinda de Miranda, saindo feridas três crianças, por bala e atropeladas pela multidão.
Terminado o morticínio, os policiais fogem e aquartelam-se temendo vingança da população. Pedem proteção a guarnição do exército, cujo barracão ficava onde é hoje o Fórum. Não podendo permanecer na guarnição por mais tempo, fogem durante a madrugada indo para Bela Vista onde gozariam da proteção de seu chefe, o caudilho Gomes. De lá embrenharam-se no Paraguai e nunca mais se soube do tenente Espíndola e seus auxiliares...
Quem ainda duvida que sexta-feira 13 é um dia aziago, observe:
A carnificina aconteceu no dia 13 de agosto, sexta-feira, ano de 1913, num circo montado na Rua 13, faltando 13 dias para o aniversário da cidade.
Querem mais?...pé de pato, mangalô, treze vezes!!
Edson C Contar, Jornalista DRT/MS 43, Pesquisador e escritor