UMA CRIANÇA VOS GUIARÁ
Seria uma visão equivocada pensar na igreja como terapêutica? Vemos que a cada dia há um reposicionamento das diversas culturas frente aos novos desafios emergentes, e que a sociedade nos seus diversos segmentos força a igreja, e não só ela, a um reposicionamento de sua atuação, que por décadas desenvolve apoio na área de aconselhamento pastoral nas áreas espiritual e social.
O aconselhamento pastoral é um ofício que tem sido cada vez mais exercido pela igreja, que utiliza várias técnicas de apoio aos seus membros – haja vista que também cresce o número de profissionais na área da medicina e psicologia e de tantas outras ciências humanas –, abrindo, assim, a igreja à um diálogo entre a teologia e a ciência, buscando sem preconceito a interface com a ciências humanas para que juntas possam dar respostas a várias patologias, também chamadas doenças deste século. Os conselheiros pastorais são obrigados a buscar na sabedoria científica apoio, sendo reconhecido por nós que Deus na sua soberania dá ao ser humano novos saberes. No aconselhamento pastoral, a igreja busca caminhar com o humano, para elevá-lo como pessoa, influenciando-o no bem estar familiar, profissional e espiritual. O objetivo é dar ao humano condições de viver sabiamente sob a luz de Deus.
A igreja terapêutica busca, através da técnica de aconselhamento pastoral, resignificar a mentira que satanás lançou no coração da criança, e que se perpetua até a sua morte, caso a palavra da verdade de Deus que está na Bíblia não lhe seja ensinada: “o ser humano à luz de Cristo, o rosto perdido no Éden”.
A Bíblia define que o aconselhamento pastoral é um discipulado, uma missão da igreja que, influenciada pela educação exercida na escola, deixou de formar discípulos para informar discípulos sobre a missão da igreja, trazendo sérios prejuízos espirituais ao ser humano, que perde de ter a cura por meio da palavra formativa e adquire apenas uma revisão de conhecimento que atende a um determinado segmento religioso. A proposta de Cristo é a cura da alma, renovar a mente pela palavra é gerar vida através da Vida. Esta Vida só é possível através do outro que caminha junto, como Jesus fez aos discípulos entristecidos no caminho de Emaús, que puderam ver o Cristo ressurreto. Assim começou a igreja de forma distinta, caminhando com outros, vivendo junto as dificuldades da vida. No entanto, nos dias de hoje, onde não temos mais tempo para os outros e nem para os de nossas próprias famílias, descumprimos esta ordem e deixamos de ser terapêuticos.
Como conselheiro, não devemos olhar para o humano a partir de sua saúde mental – embora seja quase impossível a sua exclusão –, pois esta não é a área de atuação do conselheiro cristão e sim o seu bem estar espiritual que perpassa pelo emocional, resultando no seu bem estar, deixando para a psicólogos, psiquiatras, psicanalistas a tarefa da saúde mental. A convivência dos conselheiros cristãos com a psicologia e psiquiatria é fundamental para o bem estar do paciente, que bate às portas de nossos consultórios desesperados buscando solução para sua dor. Assim devemos com humildade reconhecer outras ciências, como divinas, a serviço de Deus.
O foco do conselheiro, como já podemos deduzir acima, tem a ver com cuidado pastoral, um ofício essencial para a igreja, pois seu enfoque é ajudar pessoas a levarem suas cargas e vidas sadias, tendo este cuidado presente focado em Cristo a cada dia. Como conselheiros somos cuidadores que se importam com a cura das pessoas – é importante lembrarmos há várias expressões do cuidado pastoral além do aconselhamento, como unção e oração, ministrações de cura que têm demonstrado serem meios eficazes na cura. Quando penso nas dimensões de cura que as igrejas utilizam em suas práticas, recordo que a palavra grega therapia significa uma relação de cura, serviço; um therapon (palavra da qual deriva o termo terapeuta) é alguém que ajuda, serve e leva a cura. Esta palavra também alcança a tradução latina para therapon é ministerium, origem da palavra ministro.
Quero concluir destacando que as raízes da terapia e do ministério perpassam uma pela outra, possibilitando o mesmo sentido e prática desde do início da prática do aconselhamento, seja pela filosofia clínica como uma relação terapêutica, apesar da igreja e a sociedade atribuí-la somente aos profissionais de saúde mental.
Em resposta a proposição acima pode-se afirmar que a igreja sempre foi terapêutica desde sua fundação. O uso do termo nos ajuda a ampliarmos e aprofundarmos nos desafios existenciais de cada ser humano nas suas relações interpessoais e consigo mesmo.
Um congresso de igreja terapêutica tem como proposta auxiliar a igreja a olhar com profundidade as doenças deste século com discernimento que, sem dúvida é uma obra de Deus, conceder a sabedoria a todos que a buscam e devolver a sociedade o conceito de que a igreja não está omissa às necessidades das pessoas que a ela chegam. Compete a este congresso ainda resgatar a importância do discipulado como forma de cuidar a partir das sagradas escrituras com fundamentação teórica e prática.
Este congresso terá o enfoque na criança, em virtude de sérias dificuldades que esta tem atravessado na sociedade, a criança de hoje precisa ser uma criança saudável, para levar até o fim de sua vida a sua criança: “a criança que todos nós carregamos no peito”.
Nivaldo Didini Coelho, PR. PSC. Mestrando em Teologia