Cenas

Oswaldo Barbosa de Almeida: "Uma noite alegre"

Oswaldo Barbosa de Almeida: "Uma noite alegre"

28 SET 2017 • POR • 07h30

Era a noite do Réveillon de 1959. O tradicionalíssimo e seleto baile do Rádio Clube estava bastante animado. Salão completamente lotado, a alegria contagiava a todos, sob a animação da orquestra do maestro Lalo.

Em meio à multidão uma jovem loura, lindíssima, vestida de branco, chamava a atenção de todos. Dançava sozinha e parecia muito alegre, pois um maravilhoso sorriso não deixava o seu rosto perfeito.

Ninguém sabia quem era a moça e os comentários corriam soltos, principalmente entre a rapaziada, ávida para dançar com ela.

Diversos se aproximaram dela com esse intento, mas a beldade apenas alargava o sorriso e se afastava, deixando frustrado o pretendente. Porém, eis que de repente um galã se aproxima e, energicamente, a enlaça pela cintura e o par sai rodopiando pelo agitado salão.

Ela se deixa levar docilmente e assim passam a formar um par que segue o baile todo junto. Os comentários então passam a girar em torno do casal, que bailava animadamente, assim prosseguindo até o final da festa. Antes, fizeram uma pausa e se dirigiram ao bar do clube, onde sentaram-se junto ao balcão, beberam cuba libre e conversaram animadamente.

Encerrado o evento, o galã se ofereceu para levá-la em casa, tendo a jovem aceitado a ajuda sem ressalvas. Saíram e logo tomaram o luxuoso carro do rapaz, estacionado do outro lado da rua sem asfalto, junto a um terreno baldio, um quadrilátero com vegetação rasteira, típica de nossos cerrados, cortado por dois caminhos de pedestres, que cruzavam o espaço unindo seus cantos.

Ele pediu a indicação do rumo a seguir e ela disse para que descesse até a Rua Treze de Maio e continuasse por ela no rumo sul da cidade.

Essa via, desprovida de pavimentação abaixo da Quinze de Novembro, estava em mau estado de conservação, com muitas pedras e buracos, levando-o a preocupar-se com eventuais danos ao seu valioso carango.

Cruzaram a precária ponte de madeira sobre o córrego Prosa, passaram em frente ao novo Grupo Escolar “Vespasiano Martins” e adentraram uma região de pequenas chácaras e casas isoladas.

Prosseguiram pelo precário caminho de terra, iluminado apenas pelos faróis do carro, até chegar ao cemitério “Santo Antonio”, cerca de quatro horas da madrugada. Viraram à direita, quando ela pediu que parasse, pois estavam bem próximos de sua moradia. embora ele não avistasse nenhuma edificação no local, até onde a luz do carro alcançava.

Ficaram algum tempo conversando dentro do carro, naquele lugar ermo e completamente escuro. Ele quis saber mais sobre a jovem, sua família, o que fazia, tendo ela respondido com evasivas, desviando a conversa para outros assuntos, falando de futilidades, etc.

Quando ele quis beijá-la, ela se afastou, abriu a porta e disse que precisava ir, pois já passava da hora de chegar em casa, saindo rapidamente do veículo. Ele ligou os faróis para orientá-la, tendo ela cruzado à frente do carro e rumado em direção ao cemitério. Antes de sair da área iluminada, ela desapareceu como se evaporasse no ar. 

*Escritor, coxim.oab@gmail.com.