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Mulheres 'alugavam' crianças para pedir esmola nas ruas de Campo Grande

Denúncia evidenciou surgimento de problemas sociais na nova Capital

RAFAEL RIBEIRO

16/08/2018 - 00h05
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Aconteceu em 1979...

Campo Grande ainda ostentava o frescor do título de mais jovem capital de estado no Brasil quando, dois anos após sua emancipação administrativa, já exibia problemas típicos das grandes metrópoles.

"Falsos mendigos alugam crianças. Dá Bom lucro", foi o chamativo destaque de capa do Correio do Estado da edição dos dias 11 e 12 de agosto daquele 1979. O resumo não poderia ser mais direto.

"Crianças estão sendo objeto de um "negócio" que está rendendo um bom lucro tanto para as mães que cedem os filhos como para os mendigos profissionais que vivem, espertamente, da piedade do povo que passa pelas ruas da Capital", alertava a legenda da foto de capa, de uma senhora, de braço esticado implorando por ajuda e cercada por cinco crianças ao seu redor.

Em tom crítica, a reportagem que ocupou metade da página cinco daquela edição e gerou grande repercussão, cobrava as autoridades policiais do recém-desmembrado Mato Grosso do Sul para que investigassem os responsáveis pela exploração das crianças.

"Quanto maior o número de supostos filhos que estariam passando fome e vivendo na miséria, mais aumenta o faturamento desses mendigos profissionais, alguns deles até portadores de chagas que, em absoluto, desejam ver curadas pois isso os obrigaria a trabalhar e perder uma renda diária apreciável, até dez vezes maior do que a que normalmente é obtida por um trabalhador braçal", diz o texto.

Comércio da mendicância: jornal denunciou aluguel de crianças para ajudar a pedir dinheiro

Ainda de acordo com a reportagem, o cenário se tornou habitual da paisagem da região central de Campo Grande. Tratava-se de uma maioria de mulheres, moradores de bairros suburbanos, que alugavam filhos de casais desempregados. Montava-se o cenário da mendicância espalhando comida velha e até estragada ao redor das crianças, vestidas com roupas sujas e rasgadas, "que, embora muito pequenas, já foram devidamente orientadas na sua inocência para participar da chantagem emocional aos transeuntes", completa o texto.

Em dois meses de apuração - período em que o número de falsos necessitados aumentou drasticamente, diz o jornal -, são relatados alguns percalços dos repórteres na apuração. Em um deles, após confirmar a denúncia de que seus filhos eram 'alugados', passou a ficar agressiva com as perguntas. "Aliás a mesma agressividade que normalmente usa para destratar os que não acreditamn no engodo e recusam-se a dar a esmola que pedem e que em consequência são insultados, com a 'profissional' rogando pragas contra os filhos daqueles que não acreditam na situação", aponta o texto.

Em outro caso, o Correio do Estado viu recusada a proposta para levar um dos pedintes a um hospital particular para que examinassem a 'chaga' que tinha em uma das pernas. Diante da recusa, o jornal garante que a "sua 'ferida brava' pode ser curada, mas a ele não interessa tal cura porque depois ele terá que trabalhar para ganhar a vida."


Cobrado pela reportagem, o então secretário de Estado da Segurança Pública, João Batista Ferreira, afirmou que organizava uma ação conjunta com a Secretaria Municipal de Promoção Social, inclusive "prendendo quantas vezes fossem necessárias" aqueles que exploravam as crianças, até que decidissem "trabalhar ou mudar de cidade."

O resultado prático da tal operação conjunta não se sabe o resultado, já que o assunto não voltou às linhas do Correio naquele ano. Mas a reportagem garantiu seu local no rol das maiores apurações jornalísticas já feitas em Campo Grande. Não à toa, exatos 62 dias de publicada foi citada nominalmente pelo programa 'Fantástico' da TV Globo, que retomou o assunto a nível nacional. Ou seja, por dois meses, as medidas energéticas das autoridades ficaram, como quase sempre, nas promessas.

MISÉRIA

Já atingindo o posto de maior cidade do Mato Grosso unificado nos anos 1960, não demorou para Campo Grande sentir os reflexos do crescimento - e os consequentes problemas dos grandes centros urbanos brasileiros.

Dois anos antes da divisão, em 1975, o Correio do Estado se dedicou pela primeira vez ao problema social ocasionado pela falta de planejamento urbano adequado. "População favelada cresce 11% ao mês", é a manchete da edição do dia 13 de agosto daquele ano.

O barracão abandonado usado como abrigo por famílias vindas do interior

Em um texto analítico exposto logo na capa, o jornal expunha o primeiro levantamento do tipo feito pela Secretaria Municipal de Promoção Social, a mando do então Governo de Mato Grosso, após pedido de verbas e provimentos à gestão federal de Ernesto Geisel (1974 a 1979), o quarto e penúltimo dos presidentes militares.

No texto, é destacado que os então seis núcleos habitacionais de condições ínfimas (nome pomposo à época para favela) cresceram 89% no período entre dezembro do ano anterior e aquele mês.

Segundo estimativa da própria prefeitura, Campo Grande tinha 2.212 favelados em dezembro de 1974. Nove meses depois a população em, situação de caos social já chegava a 2.622, faltando a contagem em dez dos 16 núcleos ínfimos que já contabilizavam a cidade. Em dezembro daquele ano, seguindo o ritmo de crescimento, a população em favelas era estimada em cerca de 5.100.

Só para efeito de comparação, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimava a população da Cidade Morena em 140.233 habitantes naquele ano (a então capital Cuiabá tinha 103.427 moradores). Ou seja, em 1975, um a cada 36 campo-grandenses viviam abaixo da linha da pobreza nas favelas. O mesmo índice era considerado nulo no início daquela década.

Para tentar brecar esse crescimento, o então prefeito Levy Dias prometia usar o censo municipal para pedir ao governo federal da ocasião, mais precisamente ao Ministério do Interior, a construção de 1.000 moradias populares em algumas das favelas. Não haveria tempo com a divisão do Estado e muitos dos projetos habitacionais da Capital só seriam construídos nos anos 1980.

E quem formava a população de favelados da cidade, segundo o jornal? É o que uma série de reportagens naquele mês tratou de desvendar. Descobriu-se que a maioria eram camponeses desabrigados do interior de todo o Mato Grosso unificado, além da região oeste do interior de São Paulo e também Paraná e Goiás. 

Em um dos relatos mostrados pelo Correio, no dia 18 daquele mesmo agosto, é mostrada a vida de uma família do sul do Estado que se abrigou em um barracão abandondano às margens da BR-163, na saída para Cuiabá, região norte de Campo Grande. "Completamente esfomeados, tremem de frio nas noites pela falta de agasalho e paredes no local, sem a mínima idéia (sic) de onde poderão arranjar um novo sustento", emocionava o texto, sem saber que mais de 40 anos depois a situação só se agravaria.


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Encontro Internacional

Conservação no Pantanal vira pauta mundial durante encontro de exploradores em Nova Iorque

Presidente do IHP, Ângelo Rabelo, foi indicado junto com outros brasileiros para tratar temas nacionais nos Estados Unidos

23/04/2024 18h25

A entidade existe há 120 anos e reúne mais de 3,6 mil pessoas de referência global que desempenharam ou realizam ações para transformar positivamente o mundo Divulgação IHP

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O grupo The Explorers Club, que reúne autoridades e pessoas com reconhecimento global que desempenham medidas que envolvem promoção da ciência e da conservação, discutiu em um de seus encontros a situação do Pantanal. O presidente do IHP, sediado em Corumbá (MS), Ângelo Rabelo, participou das reuniões realizadas em Nova Iorque, durante o encontro anual do clube. Ele apontou que é preciso haver atenção mundial com relação à conservação do Pantanal e da riqueza cultural do território.

A entidade existe há 120 anos e reúne mais de 3,6 mil pessoas de referência global que desempenharam ou realizam ações para transformar positivamente o mundo. Os encontros ocorreram entre sexta-feira (19) e domingo (21). Foram realizados diversos encontros e reuniões entre os participantes do clube, bem como ocorreram discussões sobre temas globais a serem trabalhados para promoção da conservação do Planeta.

 

Ângelo Rabelo, que atua em ações de conservação no Pantanal há cerca de 40 anos, pontuou que há diferentes esforços em andamento para prevenir incêndios florestais e promover desenvolvimento sustentável. Na semana passada, os governos de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, junto com o governo federal, assinaram termo de cooperação visando a união de esforços na defesa, proteção e desenvolvimento sustentável do Pantanal. Além disso, um fundo foi criado para financiar ações que ajudam a proteger o bioma, porém até hoje somente o governo de MS fez aporte de recursos (R$ 40 milhões) e o setor pública busca outras linhas de subsídio para essas ações. A promoção do Pantanal para o exterior pode contribuir nesse propósito, como já ocorre com a Amazônia, por exemplo.

“A maior área úmida do mundo, o Pantanal, está no mapa sobre as grandes explorações e os relatos que indicam locais que são desafiadores no Planeta. Por esse caminho cheio de desafios temos, primeiro, os povos originários que ainda habitam o território, como é o caso dos Guatós. Depois vieram as pantaneiras e os pantaneiros, que também seguem no Pantanal sabendo lidar com a ocupação e a conservação. Depois, temos os registros de outros esforços de pessoas que também se dedicam pela conservação desse Patrimônio Natural da Humanidade”, comentou Rabelo.

O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do Planeta e apesar de ser o menor em extensão territorial no Brasil, abriga 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos, conforme dados do Ministério do Meio Ambiente. Além disso, o Programa de Monitoramento dos Biomas Brasileiros por Satélite – PMDBBS, realizado com imagens de satélite de 2009, mostrou que o Pantanal mantêm 83,07% de sua cobertura vegetal nativa. Mais de 90% do bioma está em propriedades privadas, enquanto 4,6% estão classificadas como unidades de conservação, dos quais 2,9% correspondem a UCs de proteção integral e 1,7% a UCs de uso sustentável.

A participação de Rabelo na reunião do The Explorers Club ocorreu porque ele foi nomeado, neste ano, como uma das 50 pessoas a fazer a diferença no Planeta. A escolha foi feita por integrantes do The Explorers Club e o presidente do IHP entrou na lista do EC50 2024. Concorreu com mais de 200 pessoas indicadas. Seus apoiadores na nomeação foram Dereck Joubert e Beverly Joubert, exploradores que atuam diretamente pela conservação da vida selvagem e desenvolvimento sustentável em países africanos. O casal convidou, neste mês, o governador Eduardo Riedel (PSDB) para conhecer iniciativas que são realizadas no continente africano.

Além do presidente do IHP, os brasileiros nomeados nesse grupo chamado EC50 deste ano foram a geóloga Fernanda Avelar Santos, o ictiologista Luiz Rocha, o designer naturalista Lvcas Fiat e o paraquedista profissional Luigi Cani. Além dos brasileiros recém-nomeados, personalidades mundiais fazem parte do Clube, como a ex-astronauta e géologa Kathryn Sullivan, veterana de três missões a bordo de ônibus espacial; o geneticista e biólogo nuclear James Dewey Watson, um dos autores do modelo de dupla hélice para estrutura da mólecula de DNA; bem como o explorador que fez parte do primeiro voo solar ao redor do mundo, concluído em 2016, André Borschberg; e Dominique Gonçalves, criadora do Programa de Ecologia de Elefantes no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, entre outras pessoas.

Também em Nova Iorque, a diretora-executiva do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, localizado em Corumbá (MS), Márcia Rolon, participou dos eventos abertos do The Explorers Club para divulgar o trabalho de diminuir a vulnerabilidade social de crianças e adolescentes da região de fronteira do Brasil por meio da arte.

 

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Cotidiano

Com 300 doses disponíveis, vacinação contra dengue deve acabar nesta semana

Aproximadamente 130 doses estão sendo aplicadas por dia; segundo a expectativa da pasta é que a vacinação se encerre até o final desta semana.

23/04/2024 18h15

Gerson Oliveira/

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As vacinas contra a dengue com prazo de validade até 30 de abril e que estão disponíveis pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) devem ser aplicadas até o final desta semana. A expectativa da pasta é que nenhuma dose deve ser descartada em Campo Grande. 

De acordo com a secretária, cerca de 130 doses estão sendo aplicadas por dia nos postos de saúde da cidade. Por causa disso, a expectativa é que todas as doses que estão perto do vencimento sejam aplicadas até sexta-feira (26).

A baixa procura do imunizante em Mato Grosso do Sul levou o Ministério da Saúde a informar aos municípios para ampliar a idade de vacinação. Segundo a pasta, pediu para todas as cidades priorizar a faixa etária entre 6 e 16 anos, mas com imunização ampliada para pessoas entre 4 e 59 anos. 

A medida foi tomada para reduzir a perda de doses que estão perto do vencimento, cabendo a cada município definir a estratégia de aplicação.  As doses que estão sendo utilizadas vencem no dia 30 de abril. 
 
Segundo a Sesau, em Campo Grande tem cerca de 300 doses estão espalhadas pelos postos de saúde da Capital. 

 

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