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MEMÓRIA

Gasolina cara? No então sul do Mato Grosso solução era ir até Bolívia

Crise do petróleo levou à procura por combustível mais barato no vizinho

RAFAEL RIBEIRO

25/10/2018 - 00h05
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ACONTECEU EM 1975...

"Gasolina barata e de alta octanagem: vantagens para Bolívia, prejuízos em Corumbá."

Assim, de maneira direta, o Correio do Estado abriu a sua página 3 do dia 22 de outubro de 1975. Em reportagem especial de página inteira, o repórter Montezuma Cruz foi até Corumbá mostrar que no então sul de Mato Grosso, a solução para a alta nos preços de gasolina e outros derivados de petróleo era ir abastecer na Bolívia.

Logo nas primeiras linhas, a reportagem evidencia os benefícios aos motoristas da época: enquanto o preço do litro do combustível beirava os 3,38 cruzeiros nos postos corumbaenses (R$ 0,53 em valores atualizados), no país vizinho o valor pela mesma quantidade chegava a 1,10 cruzeiro (R$ 0,17).

Tá leitor, eu sei que você está aí, "mas Memória, por que ir até a Bolívia para abastecer"?

Como já dissemos anteriromente, economia exige contexto. E a função desse escriba é explicar tudo direitinho para você. Vamos voltar no tempo para falar da famigerada Crise do Petróleo. Se ajeite no sofá, cadeira ou banco do ônibus e embarque com a gente nessa viagem. Eu prometo que não vai ser chato.

PRIMAVERA ÁRABE: O OURO NEGRO NO QUINTAL DE CASA

A região petrolífera do Golfo Pérsico foi descoberta em 1908, no Irã. A partir daí, toda a região começou a ser visada estrategicamente e explorada. Em 1960, na cidade de Bagdá, no Iraque, os cinco principais produtores de petróleo do mundo na época (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Venezuela) fundaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo. A criação da OPEP, sigla que pautou muitos jornais por três décadas, foi uma forma de reivindicar perante uma política de achatamento de preços praticada pelo cartel das grandes empresas petroleiras ocidentais – as chamadas "sete irmãs".

Deu certo, muito certo. Primeiro porque cientistas descobriram o que hoje parece óbvio: petróleo é fonte de energia não renovável. Ou seja, limitado. E tudo que se torna exclusivo, deixa de ter preço baixo. A criação da OPEP foi além de fortalecer os governos árabes frente ao explorador europeu. Tratou de ditar as regras do jogo industrial, impondo de acordo com suas vontades o mercado e as condições, como preço por barril e condições de venda.    

É nesse cenário que surge a segunda condição. Independente financeiramente e adminsitrativamente, os países do Oriente Médio desencandearam uma série de conflitos armados, guerras que tinham como alvo o 'malvado favorito' da primeira Primavera Árabe, Israel, considerado um intruso na região por conta da quesão com a Palestina. 

Foi uma dessas guerras que gerou a segunda das quatro crises do petróleo, a que nos interessa, em 1973. Entre 6 e 26 de outubro de 1973, uma coalizão de estados árabes liderados por Egipto e Síria invadiram Israel, na chamada Guerra do Yom Kippur. O ataque surpresa, realizado durante feriado judaíco de mesmo nome, só foi interrompido com auxílio de tropas dos EUA, o que revoltou os árabes que descontaram inflacionando o preço do petróleo.

Entre novembro daquele ano e abril de 1974, o preço do barril saltou primeiro de 3 a 12 dólares. A especulação financeira fez com que o preço chegasse a 20 dólares. O impacto foi fulminante. A indústria automobilística e de derivados retraiu, provocando longa recessão nos EUA e Europa, desestabilizando a economia mundial.

No Centro de Campo Grande: o recado era claro: faltava combustível (Arquivo/Correio do Estado)

MILAGRE ECONÔMICO, MAS NEM TÃO MILAGROSO ASSIM...

O drama para os brasileiros demorou, mas aconteceu com força no fim daquele 1974. 

Com uma população em êxtase pelo chamado Milagre Ecônomico da Ditadura Militar, período entre 1968 e 1973 em que a economia brasileira cresceu até 14%, com queda de 10,1% da inflação no período, as classes baixas e média foram às compras. E além dos eletrodomésticos da moda à época, como a sonhada TV a cores, a geladeira duplex e o fogão de seis bocas, o automóvel entrou de vez na vida cotidiana.

O eldorado soava extremamente positivo aos militares, que incentivaram esse padrão de vida, sucateando outros meios de transporte, como ferrovias e hidrovias, e privilegiando grandes obras rodoviárias e incentivo fiscais às montadoras. Eram os tempos da Transamazônica, da Ponte Rio-Niterói. E a população vestiu a camisa do regime. Até que a batalha em solo israelense começou.

O Brasil não foi diretamente atingido pela decisão da Opep, o bom relacionamento com as nações produtoras garantiu o fornecimento. No entanto, o aumento das importações afetou nossa balança comercial. O crescimento retraiu. Então, para dar fôlego ao milagre econômico, o governo passou a tomar mais empréstimos no exterior. A dívida externa do País saltou de US$ 17,2 bilhões em 1974 para US$ 43,5 bilhões em 1978.

A alta do barril do petróleo explodiu a ilusão econômica. Já em dois anos, o Brasil viu aumento de preços consideráveis nos bens de consumo, eletrodomésticos e, claro, carros. A alta no custo padrão de vida, que o regime quis esconder com a censura dos números oficiais, não demoraria a chegar nas bombas dos postos de gasolina.

ENFIM, CORUMBÁ...

É nesse cenário que voltamos à nossa reportagem leitor. No segundo semestre de 1975, o País já vivia alta no combustível. Postos fechavam por falta de abastecimento. E a solução no então sul de Mato grosso era ir aos países vizinhos, principalmente a Bolívia, onde o abastecimento era feito por empresas estatais.

Na reportagem (que você pode ler na íntegra abaixo), relatos de como funcionava a facilidade de quem é vizinho de outro país. "Há alguns meses atrás, jogadores de futebol de Dourados chegaram aqui no posto e colcoaram só 20 cruzeiros de gasolina no tanque. Eu perguntei porque eles abasteceram tão pouco. Os homens me responderam que aquela gasolina era só para chegar até a fronteira com a Bolívia", assegurou o dono de um posto de combustível na cidade pantaneira.

O relato reflete com perfeição a angústica local. Segundo o texto, os nove postos de gasolina da cidade viviam dura situação. Alguns fechavam aos domingos para economizar com funcionários. Outros abriam mão da garantia para aceitarem fazer fiado aos fregueses. Valia tudo para tirar a mangueira da bomba. Pudera, em um final de semana, apenas 200 litros eram vendidos na ocasião.

Um contraste e tanto com o lado boliviano. A menos de 22 quilômetros da fronteira se encontrava um posto da Yacimientos Petrolíferos Piscales Bolivianos, a empresa estatal, em Puerto Suarez. Felizes, os frentistas enchiam a boca para relatar ganhos consideráveis com a média de 25 mil litros diários de combustíveis vendidos. As filas, constantes, iam das 6h às 19h, atraindo não só os corumbaenses, mas trambém gente de todo o Estado, além de São Paulo, Goiás, Paraná e até Minas Gerais.

A estimativa era de que mediante a crise, 80% da população de Corumbá com carro atravessasse a fronteira para abastecer na Bolívia.

Não era pouco. E medidas precisaram ser tomadas. Até por conta de um problema de, digamos, honestidade: por conta da falta de fornecimento, muitos dos postos brasileiros não tinham pudor em colocar água na gasolina, fazendo o produto render pouco ao consumidor, mas muito ao bolso do comerciante.

De acordo com a reportagem. houvberam apreensões de perueiros em Campo Grande que estacionavam uma kombi em via pública para oferecer a gasolina boliviana nas ruas. A procura era além do preço ou da falta de estoque: a fama que se espalhou é que o combustível boliviano durava mais por conta da octanagem. O termo, estranho aos ouvidos, diz sentido à sua combustão . Aos sulistão do entçao Mato Grosso unificado, o líquido do país vizinho durava mais para evaporar com o forte calor habitual.

Seja como for, veio a divisão de Mato Grosso e os sul-mato-grossenses mantiveram quase que um ritual: há problema de abastecimento de combustíveis, a solução é atravessar a fronteira. Evidente que com o surgimento de outras fontes, como o etanol, a disputa se tornou menos feroz, até os estoques são mais amplos. Existe um centro de distribuição da Petrobras na Capital, na região oeste. Algo impensável para a interiorana cidade daqueles tempos.

*Rotineiramente nossa equipe convida você, leitor, a embarcar com a gente na máquina do tempo dos 64 anos de história do jornal mais tradicional e querido de Mato Grosso do Sul para reviver reportagens, causos e histórias que marcaram nossa trajetória ao longo desse rico período. Você encontrará aqui desde fatos relevantes à história do nosso Estado até acontecimentos curiosos,que deixaram nossas linhas para fomentar, até hoje, o imaginário da população sul-mato-grossense. Embarque com a gente e reviva junto conosco o que de melhor nosso arquivo tem a oferecer.

E você leitor, gostaria de relembrar um fato, uma reportagem, uma história de nossa história. Nos envie sua sugestão pelo nosso whatsapp: (67) 99971-4437.

Leia outras edições anteriores da seção Memória do Correio.

Pesquisa

Wolbachia reduziu mais de 60% dos casos de dengue em Campo Grande

O cientista brasileiro criador do "bloqueador da dengue", Luciano Andrade Moreira, foi escolhido pela revista Nature como uma das 10 pessoas que moldaram a ciência em 2025

08/12/2025 18h00

Casos de dengue reduzem em MS

Casos de dengue reduzem em MS Divulgação

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Um estudo conduzido pela Fiocruz juntamente com as universidades de Yale, Stanford, Johns Hopkins, de São Paulo (USP) e Monash University, na Austrália, pelo World Mosquito Program (WMP) e pelas secretarias Municipal de Saúde de Campo Grande e Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul, divulgaram uma análise detalhada da soltura em massa dos mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia para frear os casos de dengue em Campo Grande. 

Os resultados da análise mostraram uma redução de 63,2% em 2024 na incidência da doença em áreas onde a Wolbachia atingiu níveis estáveis na população de mosquitos, após a soltura entre 2020 e 2023. 

A liberação dos mosquitos com a bactéria foi realizada de forma contínua pelos três anos, abrangendo seis grandes zonas urbanas e totalizando mais de 100 milhões de insetos liberados. 

A técnica introduz a bactéria Wolbachia, que já é comum em cerca de 60% dos insetos, no mosquito Aedes aegypti. A presença dessa bactéria dificulta a proliferação do vírus dentro do mosquito, o que diminui a sua capacidade de transmitir doenças. 

No ano de 2024, a prevalência média da bactéria nos mosquitos era de 86,4%. Quase 90% das áreas monitoradas alcançaram prevalência igual ou superior a 60%, considerado indicador de estabilidade. 

Ao todo, foram monitoradas as 1.677 ovitrampas distribuídas pela cidade, o que permitiu o acompanhamento do avanço da Wolbachia a cada mês. 

A análise da série histórica de casos de dengue, que começaram a ser monitorados em 2008, mostrou que, após a intervenção da bactéria, a cidade deixou de sofrer grandes surtos como os observados antes da intervenção. 

Antes da implementação, os casos anuais frequentes ultrapassavam 4.700 registros. Nos anos seguintes, os números se estabilizaram em números menores: 

  • Em 2021: 410 casos
  • Em 2022: 8.045 casos
  • Em 2023: 11.406 casos
  • Em 2024 (até setembro): 605 casos

Atualmente, foram confirmados 8.372 casos de dengue em Mato Grosso do Sul até a última sexta-feira (5).

Foram confirmadas 18 mortes em decorrência da doença e outras 7 estão em investigação. 

Esse número é 60% menor que o número de mortes registrado no mesmo período referente ao ano passado, quando o Estado já contabilizava 30 óbitos confirmados. 

O número também é menor que o registrado no mesmo período em 2023, quando foram registrados 43 óbitos pela doença. Em 2022, foram 24 mortes na janela de tempo. 

Além disso, no mesmo período, foram notificados 8 mil casos a menos de janeiro a outubro deste ano com relação ao mesmo período no ano passado. 

O método

O projeto de liberação dos mosquitos do Aedes aegypti com a bactéria da Wolbachia espalhou pelas sete regiões de Campo Grande 102 milhões de mosquitos.

De acordo com o World Mosquito Program (WMP), responsável por implementar o método em Campo Grande,  a prevalência da Wolbachia na população de mosquitos na Capital aumentou constantemente, sendo que em algumas áreas à prevalência deste inseto que impede a fecundação dos ovos do mosquito da dengue varia de 70% a 100%.

Ao longo das liberações, que aconteceram em seis etapas, mais de 2,5kg de ovos de mosquitos foram eliminados, segundo a WMP. As fases realizadas do projeto atingiram aproximadamente 130 mil pessoas por fase. 

Além da liberação dos mosquitos nos bairros, a pesquisa também desenvolveu outros métodos, como a iniciativa “Wolbito em casa” e a instalação de uma biofábrica na sede do Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen/MS), para produzir milhões de mosquitos com a bactéria Wolbachia usados para o enfrentamento da Dengue, Zika e Chikungunya, doenças transmitidas pelo Aedes.

Nature’s 10

O engenheiro agrônomo Luciano Andrade Moreira, cientista estudioso do uso da bactéria Wolbachia para bloquear a transmissão do vírus da dengue, zika e chikungunya no mosquito Aedes aegypti, foi escolhido pela revista Nature como uma das dez pessoas ao redor do mundo que moldaram a ciência em 2025, configurando na lista “Nature’s 10”. 

A técnica desenvolvida a partir de sua pesquisa em parceria com outros cientistas foi chamada de “Método Wolbachia”, mostrando que os mosquitos portadores da bactéria têm menor probabilidade de contrair os vírus. 

Assim, a aplicação do método pode ser decisiva no controle de doenças. 

Os mosquitos infectados com a bactéria, chamados de wolbitos, ao serem liberados em áreas urbanas se reproduzem com outros Aedes aegypti, reinfectando a bactéria para novas gerações de mosquitos. 


 

TEMPO

Pancada de chuva atinge Campo Grande devido a ciclone que passa pelo Sul do Brasil

Em MS, a atuação indireta de ciclone extratropical pode favorecer a formação de chuvas intensas e tempestades

08/12/2025 17h34

Chuvas intensas estão previstas para todo o Estado durante a semana

Chuvas intensas estão previstas para todo o Estado durante a semana Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

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O ciclone que está previsto para atingir a região Sul do Brasil começa a fazer efeito nos municípios de Mato Grosso do Sul. Na tarde desta segunda-feira (8), uma pancada de chuva atingiu Campo Grande, acumulando cerca de 10,8 mm e mantendo a temperatura em 22°C, dando um alívio no calor.

De acordo com o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (CEMTEC), o aprofundamento rápido de um sistema de baixa pressão atmosférica dará origem a formação de um ciclone extratropical no centro-sul do Brasil.

No Estado, a atuação indireta do ciclone extratropical pode favorecer a formação de chuvas intensas e tempestades, que podem vir acompanhadas de raios e fortes rajadas de vento e eventual queda de granizo.

Confira os maiores acumulados de chuvas em MS desde a madrugada

Chuvas intensas estão previstas para todo o Estado durante a semana

Como adiantado pelo Correio do Estado, as chuvas, embora irregulares, devem ser de valor excessivo, podendo acumular volumes de 100 a 200 milímetros em setores isolados. As pancadas devem seguir durante toda a semana.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Mato Grosso do Sul está, novamente, em alerta de perigo para chuvas intensas, especialmente na metade norte do Estado.

Previsão do tempo

De acordo com o CEMTEC, o tempo segue com instabilidade durante a terça-feira (9).  A presença de muita nebulosidade favorece a formação de chuva em diversas regiões do Estado, com acumulados que podem superar os 40 mm em 24 horas em alguns pontos. 

Chuvas intensas estão previstas para todo o Estado durante a semanaEscreva a legenda aqui

As regiões Sul, Cone-Sul e Grande Dourados têm previsões de mínimas entre 20-22°C e máximas entre
24-29°C.

As regiões Pantaneira e Sudoeste marcam mínimas entre 21-23°C e máximas entre 25-31°C.

Regiões do Bolsão, Norte e Leste com mínimas entre 21-23°C e máximas entre 24-29°C.

Na Capital, as mínimas serão entre 20-23°C e máximas entre 22-25°C.

Os ventos atuam entre o quadrante norte e oeste com valores entre 40-60 km/h e, pontualmente, podem ocorrer rajadas de vento acima de 60-80 km/h

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