ACONTECEU EM 1976...
"Japonês do Campo Limpo pode estar morto e polícia já busca cadáver."
A chamada de capa do extinto e folclórico jornal paulistano 'Notícias Populares' no final de 1975 escancarava o assunto que dominou as conversas populares na cidade de São Paulo naquele dezembro: o sequestro de um comerciante de descendência oriental, que tera sido levado por bandidos armados ao fechar seu posto de gasolina no bairro da zona sul paulistana.
'O crime' daquele fim de ano, com contornos trágicos e amplamente noticiado pela imprensa de todo Brasil foi solucionado de maneira, digamos, infantil.
Um investigador da Polícia Civil em Campo Grande, então uma cidade do interior mato-grossense, voltara de férias da capital bandeirante com um exemplar do histórico 'NP' para mostrar a amigos.
Como sua casa era pequena, a solução foi abrigar alguns dos familiares que vieram com ele afim de conhecerem o Mato Grosso então unificado em um hotel do Centro.
E aí veio a surpresa: o comerciante de traços nipônicos que estampava a capa do periódico como vítima era o gerente do estabelecimento.
Caso solucionado.
"Japonês 'sequestrado' localizado em Campo Grande", apontou a chamada da página dois da edição do dia 28 de janeiro de 1976 do Correio do Estado.
CASO DE POUCA COMPLEXIDADE
"Kasuo Hatanabe Saito, 36 anos, casado, residente à rua "A" nº 20, Campo Limpo, São Paulo e que desde o mês de novembro vinha sendo procurado pelas autoridades policiais com a versão de que havia sido sequestrado por elementos desconhecidos, foi localizado ontem, tranquilamente, trabalhando como gerente do Hotel Presidente, em Campo Grande."
Assim abria-se a reportagem do Correio que esclareceu o que chegou a ser chamado de 'crime do ano' em São Paulo no ano anterior.
Ainda de acordo com o texto, Saito foi levado à delegacia central de Campo Grande, onde em interrogatório contou que no dia 16 de novembro de 1975, já à noite, saía do seu posto após fechar com 2 mil cruzeiros, um mil no sapatgo e um mil no bolso, quando foi abordado por quatro bandidos e foi colocado no porta-malas de um veículo, que não soube distinguir a marca e modelo.
No seu relato (ou conto de ficção), disse que foi levado de estrada para longe de São Paulo e liberado no meio do mato, onde pediu carona a um caminhoneiro e chegou a Campo Grande. Se hospedou no hotel onde foi localizado e, depois de ganhar a confinça do dono, conseguiu o emprego de gerente.
As dúvidas da polícia se mostravam verdadeiras. Na única carta que mandou à família, a despachou de Corumbá. A informação fez com que a imprensa paulistana errôneamente informasse que ele fora levado para o Paraguai (a cidade pantaneira faz fronteira com a Bolívia).
O comerciante se justificou, disse que visitava a Cidade Branca à passeio. E ainda acrescentou que o objetivo era juntar dinheiro para ir ao Paraná, onde moravam seus pais. Estava com vergonha e medo de voltar para São Paulo.
Bastou ler os jornais paulistanos da época para se tocar de toda a tramóia. Os tais sequestradores deixaram um bilhete à família no posto de gasolina, com a mesma caligrafia da 'vítima.
Ainda completaram que Saito vivia problemas com agiotas e dívidas com empréstimos bancários. Motivo pelo qual o delegado Licínio Moreira, da delegacia de roubos, definiu que o caso não passava de invenção para se livrar dos problemas.
Deu ruim para o japonês.
Esse escriba, migrante da Paulicéia Desvairada, só espera que como o amigo nipônico não seja confundido com algum eventual fujão da capital bandeirante, visto que o motivo de sua vinda de mala e cunha para fixar pilar na Cidade Morena foi motivada mais pelo coração do que pelo bolso.
Abraços e até semana que vem pessoal.
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