ACONTECEU EM 1982...
Para uns, a obra que marcou a efetivação de Campo Grande como Capital. Para outros, uma piscina morta em meio à via pública que serviu de banheiro para mendigos e prostitutas. Para o folclore popular da cidade, o apelido pelo qual foi imortalizado: Bidezão.
O plano era audacioso. E até certo ponto, o monumento que existiu onde hoje é a rotatória entre pelo menos quatro vias vitais para o trânsito, avenidas Costa e Silva, Salgado Filho, Calógeras e Eduardo Elias Zahran, marcou seu lugar na história, seja lá pelo viés humorístico que se tornou.
Não à toa, o Correio do Estado estampou com destaque em sua capa dos dias 4 e 5 de setembro 1982: "O fim do Bidezão". Depois de planos mirabolantes e investimentos na casa de 3,5 milhões de cruzeiros (R$ 1,2 milhão em valores atualizados), o então prefeito Heráclito de Figueiredo resolveu acabar de vez com o chafariz que deu errado e tornava o cenário em frente ao Cemitério Santo Antônio bucólico, com crianças aproveitando a 'piscina pública' pela manhã e prostitutas e moradores de rua fazendo necessidades fisiológicas e se lavando à noite.
"Ele vai mandar derrubar tudo e aproveitar a área para construir um trevo que deverá descomplicar o trânsito", informa o jornal. "Vai terminar melancolicamente a estória (sic) do Bidezão, que tantos problemas ocasionou durante o período", completou.
OBRA CONDENADA
E quais os problemas gerados pela imponente fonte? Vários, segundo relata o Correio.
A começar pela obra, iniciada no fim de 1974. Comércios já tradicionais da cidade, como um posto de gasolina usado por viajantes que chegavam de São Paulo, e uma churrascaria foram despejados pelo chafariz. No ano seguinte, o Correio já destacava problemas no pagamento da indenização aos proprietários. E os vizinhos sofriam com o maquinário usado na construção.
Na inauguração, em 1976, o chafariz iluminado, pensado pelo então prefeito Levy Dias, foi 'abençoado' como um marco daquela que se tornaria a mais jovem capital de estado no Brasil. Mas foi só. Bastou menos de um ano para a obra se tornar uma bomba à administração pública municipal.
O maquinário responsável pelo encantador jogo de águas quebrou em fevereiro de 1977. E no apogeu do nascimento de Mato Grosso do Sul, a manutenção se tornou uma dor de cabeça: as peças de reposição, japonesas, eram de difícil compra diante das severas taxas de importação do governo militar da época.
Resultado: o chafariz se tornou um piscinão a céu aberto.
O apelido pelo qual foi consagrado veio para ficar em 1979. Conforme o Correio relata, os poucos moradores da então Avenida do Contorno, hoje Salgado Filho, apelidavam maldosamente o local de 'bidê do Levy Dias', pelo aspecto que a obra tinha quando olhada da janela de suas casas.
Não era apenas a semelhança física com a peça sanitária que motivava as piadas. À época, por ser uma área estritamente comercial, sem movimentação noturna, avenidas como Costa e Silva eram repletas de prostitutas, que entre um cliente e outro aproveitava as águas paradas para lavar seu ganha pão.
PEPINO
Em pouco mais de seis anos de vida, o Bidezão se viu abandonado pelas administrações de Marcelo Miranda e Albino Coimbra Filho na prefeitura. "A obra está condenada. O maquinário das bombas destruiu parte da inbfraestrutura. Se houver manutenção, corre o risco de tudo se quebrar e inundar o entorno", decretava Miranda ao Correio.
A argumentação era válida, garantia o jornal. Afinal o projeto foi mal executado e ainda teria ajudado a comprometer o fornecimento de água nos bairros ao arredores.
Levy Dias voltou ao Poder Municipal no início dos anos 1980 e reativar sua obra era questão de honra. Alçou Heitor do Patrocínio, secretário de Obras em 1974 e idealizador do projeto, como o responsável pela reforma. Conseguiu patrocínio privado e até conseguiu fazer com que o chafariz voltasse a ter alguma beleza. mas os dias de funcionamento voltaram a ser raros.
Ao Correio, Figueiredo confirmou os problemas no solo causados pela infiltração de água. Esvaziou o Bidezão dois dias antes da publicação da reportage m e, em 1983, a rotatória que existe ainda hoje foii inaugurada. Enterrando de vez a curta, mas intensa história de um dos mais surreais monumentos da história de Campo Grande.
*Rotineiramente nossa equipe convida você, leitor, a embarcar com a gente na máquina do tempo dos 64 anos de história do jornal mais tradicional e querido de Mato Grosso do Sul para reviver reportagens, causos e histórias que marcaram nossa trajetória ao longo desse rico período. Você encontrará aqui desde fatos relevantes à história do nosso Estado até acontecimentos curiosos,que deixaram nossas linhas para fomentar, até hoje, o imaginário da população sul-mato-grossense. Embarque com a gente e reviva junto conosco o que de melhor nosso arquivo tem a oferecer.
E você leitor, gostaria de relembrar um fato, uma reportagem, uma história de nossa história. Nos envie sua sugestão pelo nosso whatsapp: (67) 99971-4437.