O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, ficou em 0,23% no mês de junho; em maio, Campo Grande teve deflação de 0,57%, a maior da Capital desde o início da série histórica. A alta foi registrada após duas sequências negativas. A inflação reflete o comportamento do consumidor, que já voltou a comprar, e a alta nos preços de gasolina, alimentos e artigos para residência.
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, o IPCA acumula alta de 0,34%. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, quatro tiveram deflação em junho. Os grupos que tiveram o maior aumento foram: transportes (1,08%), ante a queda de 2,51% de maio, com impacto de 0,22 ponto porcentual (p.p.) sobre o índice; artigos de residência (1,27%, maior que os 0,87% de abril), com 0,05 p.p. de impacto; comunicação (0,77%); alimentação e bebidas (0,12%); e saúde e cuidados pessoais (0,11%).
De acordo com a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias, a reação no consumo, o aumento da gasolina e de alguns alimentos foram os principais fatores que levaram o índice a inflacionar.
“Entramos na entressafra de alguns produtos e isso interfere diretamente na capacidade de oferta e, consequentemente, nos preços. Outra questão que nos chama a atenção foi a parte dos transportes. Isso pode sinalizar que as pessoas, com medo maior do contágio, podem ter optado por outras formas de transporte e isso pode ter contribuído [para o índice]. Outra questão foi o aumento do preço dos combustíveis, principalmente da gasolina [3,17%]. Uma tendência que deve permanecer no pós-pandemia é a de higienização maior, por isso, percebemos alta em saúde e cuidados pessoais. Se formos destacar alguns produtos específicos, tivemos aumento do arroz [2,87%], farinha de trigo [2,33%], com mais de 12% de valorização no ano”, contextualizou Daniela.
Os preços de itens como leites e derivados (1,97%), carnes (0,69%) e alimentação fora do domicílio (0,41%) foram os que tiveram maiores impactos positivos no grupo alimentação e bebidas. Já em saúde e cuidados pessoais (0,11%), o destaque foi para o subitem produtos farmacêuticos e ópticos, que apresentou variação mensal de 0,78%.
Para o economista Marcio Coutinho, a alta é um ajuste natural dos preços dos produtos. “Isso não quer dizer, necessariamente, que há um aumento de consumo. Parece que maio melhorou em relação a abril, mas não dá para afirmar que a inflação aumentou e que a economia está melhorando. A nossa inflação anual está abaixo do que o Banco Central está prevendo”, disse.
COMPORTAMENTO
O grupo que registrou a maior variação positiva no IPCA de junho foi o de artigos de residência (1,27%), em função da alta dos eletrodomésticos e equipamentos (4,11%) e dos artigos de TV, som e informática (4,12%). Neste grupo, os itens de mobiliário seguem em queda (-1,58%), embora a variação tenha sido menos intensa que a observada em abril (-4,54%).
A economista do IPF-MS ressalta que o comportamento das pessoas influenciou em diversos setores. Com as pessoas ficando mais em casa, aumentou o consumo por e-commerce e compras pelos correios (18,31%), de celulares e computadores, e os consertos em aparelhos eletrônicos etc.
“Por que as pessoas estão consumindo mais? Temos dois grupos de consumidores: o que teve um impacto significativo sobre a renda e o grupo que não teve grandes mudanças na renda, mas, sim, na parte comportamental, com home office, por exemplo. Ao mesmo tempo, já tivemos melhora dos indicativos: a intenção de consumo ainda está aquém do esperado para a recuperação da economia, mas a gente já percebe que as pessoas estão com mais tendência a comprarem. Tivemos uma perda da velocidade com que as demissões estão acontecendo, e, agora, a gente já está falando em oportunidades de emprego. Mesmo que estejamos em um cenário bastante caótico e conturbado”, reforçou Daniela.
QUEDAS
Em contrapartida, o maior impacto negativo do mês, 0,09 ponto porcentual no índice, veio do grupo vestuário (-1,83%). As maiores quedas foram para os subitens roupa masculina (-3,12%), roupa feminina (-2,91%) e calçados e acessórios (-1,62%). No lado das altas, apenas os subitens tecidos e armarinho (1,62%) e joias e bijuterias (0,93%) apresentaram variação positiva.
A segunda contribuição negativa mais intensa veio do grupo despesas pessoais (-0,21%), com impacto de -0,02 p.p. No subgrupo serviços pessoais, os destaques foram os subitens manicure (0,89%) e depilação (0,38%). No lado das quedas, os destaques foram para os subitens cabeleireiro (- 0,16%) e sobrancelha (-0,14%).
Já o grupo habitação manteve a tendência de queda em relação a maio (-0,22%), tendo em junho variação de -0,11%. Entre os itens, é possível destacar a alta em aluguel e taxas (0,56%), com impacto de 0,03 p.p., e queda na energia elétrica residencial (-0,73%).
Entre as 16 cidades pesquisadas, Campo Grande teve a oitava maior inflação do País.