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Nuvem de gafanhotos vindos da Argentina ameaça lavouras

Ministério da Agricultura monitora a entrada dos insetos no Brasil

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Uma nuvem de gafanhotos fez estragos nas lavouras do Paraguai há alguns dias, país que faz fronteira com Mato Grosso do Sul. Os insetos migraram para a Argentina durante o fim de semana, e agora podem chegar ao Brasil. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recebeu o alerta da Argentina, pois a nuvem está próxima da fronteira entre os países. Mas quais os riscos com a chegada da nuvem? O principal risco para Mato Grosso do Sul, assim como todo o território nacional é com a destruição das lavouras de milho, que seguem em período de desenvolvimento e início de colheita.

Segundo o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) , os gafanhotos não causam danos diretos aos seres humanos, mas podem danificar pastos e culturas. “As nuvens de gafanhotos podem passar por vilas ou cidades, mas não causam danos diretos aos seres humanos. Podem causar danos às culturas e aos pastos, mas não constituem um risco para as pessoas”, explicou o comunicado.

O Mapa recebeu informações do serviço argentino sobre a nuvem de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata. De acordo com o monitoramento climático realizado pelos especialistas argentinos, a praga deve seguir em direção ao Uruguai. Pelas redes socias a ministra Tereza Cristina Dias disse que o ministério monitora o avanço. “Montamos agora um plano de monitoramento para acompanhar o deslocamento desses gafanhotos, a gente espera que eles não cheguem ao Brasil, mas já temos um grupo de acompanhamento e definidas as ações que podem ser tomadas caso isso aconteça”, ressaltou.

Considerando a proximidade com a fronteira do Brasil, o Mapa emitiu alerta para as Superintendências Federais de Agricultura, com vistas aos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária para que sejam tomadas as medidas cabíveis de monitoramento e orientação aos agricultores da região, em especial no Rio Grande do Sul, para a adoção eventual de medidas de controle da praga caso esta nuvem ingresse em território brasileiro.

ESTADO

Mato Grosso do Sul começou a colher a segunda safra 2019/2020 na região norte, mas em grande parte do Estado as lavouras seguem em desenvolvimento. Os produtores já estavam apreensivos com a possibilidade de geada, a chegada dos gafanhotos poderia interferir ainda mais na colheita do milho. Levantamento do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (SIGA-MS), aponta  que a área estimada caiu de 1,977 milhão de hectares para 1,9 milhão. A área consolidada na safra anterior foi de 2,173 milhões de hectares.

Além da redução na área plantada, há uma frustração quanto à produtividade, que na safra passada superou 90 sacas por hectares. A expectativa, agora, é de 72 sacas por hectare. A colheita na safra 2019/2020 será 32,5% menor que no ciclo 2018/2019.  O volume de produção de grãos do ciclo anterior foi de 12,157 milhões de toneladas, neste ano a estimativa é que 8,208 milhões de toneladas sejam colhidas.

Questionada sobre a possibilidade da praga atingir as lavouras do Estado, a Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Produção e Agricultura Familiar (Semagro) informou que está monitorando a situação, “com reuniões agendadas com a Iagro e o Mapa, para elaborar um protocolo de ações preventivas para o Estado”, informou ao Correio do Estado.  

A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) reforçou o anúncio feito pela ministra Tereza Cristina, que todas as providências cabíveis de monitoramento e orientação aos agricultores da região fronteiriça estão sendo tomadas para adoção, se necessário, de medidas para minimizar os efeitos de um eventual surto da praga no Brasil. “O Sistema Famasul mantém monitoramento constante nas lavouras de Mato Grosso do Sul e, até o momento, não registrou a incidência desta praga em propriedades do Estado, tampouco prejuízos causados pelos gafanhotos”.  

PRAGA

De acordo com a Coordenação-Geral de Proteção de Plantas do Mapa, as autoridades fitossanitárias brasileiras estão em permanente contato com argentinos, bolivianos e paraguaios por meio do Grupo Técnico de Gafanhotos do Comitê de Sanidade Vegetal (Cosave), o que tem permitido um acompanhamento do assunto em tempo real, com o objetivo de adotar as medidas cabíveis para minimizar os efeitos de um eventual surto da praga no Brasil.  

Esta praga está presente no Brasil desde o século XIX e causou grandes perdas às lavouras de arroz na região sul do País nas décadas de 1930 e 1940. Desde então, tem permanecido na sua fase “isolada” que não causa danos às lavouras, pois não forma as chamadas “nuvens de gafanhotos”. Recentemente, voltou a causar danos à agricultura na América do Sul, em sua fase gregária (formação de nuvens).

Segundo o Mapa, os fatores que levaram ao ressurgimento desta praga em sua fase mais agressiva na região estão sendo ainda avaliados pelos especialistas, e podem estar relacionados a uma conjunção de fatores climáticos, como temperatura, índice pluviométrico e dinâmica dos ventos.