Carnaval Naiane Mesquita
Não é não. Ao menos essa é a mensagem que os blocos e coletivos de Campo Grande querem perpetuar durante o Carnaval deste ano. Com a proximidade das festas carnavalescas, as campanhas de combate ao assédio e ao preconceito surgem nas redes sociais com o intuito de tornar a celebração mais segura e alegre para todos.
Nessa linha, o Coletivo de Brechós, composto apenas por mulheres, lançou uma campanha fotográfica que uniu moda e ativismo. As proprietárias dos brechós se transformaram em modelos e posaram com frases que costumam surgir com mas frequência nesta época do ano. De “são só fantasias, não convites” a “minhas roupas não determinam meu consentimento”, o Coletivo pretende mostrar de forma clara que o Carnaval é uma época de festa, mas que deve ser realizada com respeito.
“A gente tem visto isso o tempo todo: o crescimento do assédio, da violência contra a mulher. O coletivo já trabalha nessa questão do empoderamento feminino o ano todo”, explica Val Reis, coordenadora do Coletivo de Brechós. Das 20 participantes do coletivo, sete mulheres de todas as idades participaram do ensaio.
Bloquinhos
Um dos blocos mais antigos da cidade, o Cordão Valu escolheu homenagear as mulheres em 2020, durante os desfiles nos dias 22 e 25 de fevereiro, a partir das 14h, na antiga Estação Ferroviária. “Este ano nós viemos com essa proposta. Vamos homenagear as mulheres e lutar contra a violência que elas sofrem todos os dias, seja física ou psicológica. Estamos produzindo algumas artes e começando a publicar, justamente falando sobre respeito e combatendo o assédio”, explica Silvana Valu, uma das fundadoras do bloco.
Segundo Silvana, além das mulheres, o bloco prioriza o respeito a todos os indivíduos que participam do Carnaval. “Estamos falando sobre isso durante todos os pré-carnavais, de janeiro até agora. É muito importante respeitar as mulheres durante o Carnaval, e não só elas, mas a comunidade LGBT também”, indica.
Ao lado do Cordão Valu, o bloco Capivara Blasé também promete investir na tranquilidade dos foliões durante os desfiles dos dias 23 e 24 de fevereiro, também na Esplanada. “Na medida em que temos controle do público, pedimos a interferência de seguranças quando necessário nesses casos.
Capivara é lugar de liberdade, temos como meta deixar nossas folionas à vontade e sem perturbações.
Acreditamos nas campanhas, [que] sempre apresentam bons resultados”, explica uma das organizadoras, a atriz Angela Montealvão.
Para Silvana, há alguns avanços. “Eu acho que a gente está conseguindo mudar a cabeça das pessoas. Claro que a gente conversa muito com as pessoas que estão próximas da gente, mas vejo os homens se questionando sobre os comportamentos que são considerados assédio”, frisa.
Angela explica que, infelizmente, durante as festas de pré-Carnaval, houve um episódio de assédio contra uma mulher. “Durante os esquentas, uma foliona reclamou da insistência para mim: o segurança abordou e convidou [a pessoa] a se retirar.
O bom é que essas atitudes se espalham como ‘notícias’ facilmente entre os grupos e quem já tem essa intenção, ou hábito de perturbar, não volta nos eventos”, acredita Angela.
Para a organizadora, o importante é perceber que as mulheres estão tomando coragem de reclamar e procurar ajuda. “Mais legal é ver que as folionas se sentem seguras e empoderadas para virem reclamar nessas situações. Sinal de que são acolhidas de fato, porque nós mulheres muitas vezes não reagimos pelo medo do não apoio, ou, ainda pior, pelo medo de sermos acusadas como culpadas pela situação”, explica Angela.
Serviço – Os desfiles dos blocos de Campo Grande ocorrem neste fim de semana. O Cordão Valu faz a festa na Esplanada Ferroviária nos dias 22 e 25 de fevereiro, a partir das 14h, e o Capivara Blasé anima os foliões em 23 e 24 de fevereiro. A entrada é gratuita.