Morando na Europa há muitos anos e com uma carreira bem desenvolvida no teatro de lá, as novelas brasileiras pareciam distantes para a atuação de Roberto Cordovani. No entanto, ao fazer uma turnê pelo Brasil, acabou com um convite para viver um vilão em “Novo Mundo”, novela exibida originalmente em 2017. “Gostei tanto do papel que acabei adiando compromissos e ficando no Brasil para fazer a novela. Foi uma das melhores decisões da minha vida”, garante o intérprete do maléfico traficante escravista Sebastião. O que era para ser um papel secundário, acabou se tornando um dos destaques da aventureira trama assinada por Thereza Falcão e Alessandro Marson que, por conta da pandemia de coronavírus, voltou à faixa das seis em uma edição especial. “Os autores conseguiram equilibrar fatos históricos em uma trama recheada de ação e romantismo. Está todo mundo em casa. Então, a novela é um ótimo convite para o público conhecer melhor a própria história”, analisa.
Na época das gravações, Cordovani estava com 60 anos e pique de iniciante. Por ser uma novela épica e Sebastião ser um papel com alguns exageros, o ator resolveu seguir pelo tom mais teatral que está acostumado. Sua grande preocupação, entretanto, foi estudar as marcações e movimentos de câmera dentro do estúdio e na imensa cidade cenográfica erguida nos Estúdios Globo. “Chegava para gravar, vestia o figurino e o personagem já começava a aparecer. Fiquei impressionado com o poder de reconstituição de época da Globo. Era a novidade que eu precisava naquele momento. Então, acho que estreei na tevê no momento certo”, brinca. A maior empolgação do ator residia no fato de interpretar alguém que realmente existiu. Nos primeiros anos da Corte Portuguesa no Brasil, Sebastião Quirino foi próximo de Dom Pedro I, vivido por Caio Castro. Para não pagar impostos e traficar escravos sem grandes problemas, acabou por oferecer a Quinta da Boa Vista à Família Real. Por baixo dos panos, vivia articulando contra o governo vigente. “O caos era lucrativo para o Sebastião. Na novela, ele representa a corrupção da época. Frequentava todos os núcleos e exercia grande influência sobre as decisões do país”, explica.
Com tantas cenas densas por conta das vilanias do personagem, uma em especial é mais marcante na memória de Cordovani. “Estou ansioso para ver de novo a cena em que Sebastião leva Idalina (Dhu Moraes) para ser chicoteada em praça pública. Foi uma cena dificílima e longa, que envolveu muita gente do elenco. Foi tão comovente que no final todo mundo se abraçou e chorou”, conta. Para o ator, além de ficar conhecido do público brasileiro, sua presença em “Novo Mundo” acabou o tornando mais popular também em Portugal, onde foi exibida pela emissora SIC, parceira da Globo no país. “Estava caminhando em um shopping de Lisboa e fui parado por uma multidão querendo fotos. Isso nunca tinha acontecido comigo. É o poder da tevê!”, avalia.
Natural de São Paulo, desde os anos 1980 que Cordovani se divide entre Portugal e Espanha, onde faz residências artísticas junto com a Companhia Internacional de Teatro Arte Livre. “Sou um cara do teatro. Montamos clássicos e peças autorais e viajamos bastante. Nunca tive nada contra fazer televisão e fiquei muito feliz com a oportunidade de fazer um folhetim na Globo, que é uma emissora conhecida pela excelência em teledramaturgia”, valoriza. Atualmente, ele está passando uma temporada em sua cidade natal por conta dos ensaios de um novo espetáculo teatral. Com a pandemia de Coronavírus, a peça teve de ser adiada. Apesar dos planos de voltar para Portugal para ficar com a família, Cordovani teve de se fixar no Brasil por conta do cancelamento de voos e fechamentos de aeroportos ao redor do mundo. De olho na novela durante a quarentena, o ator admite que tem ficado com saudade dos estúdios de tevê e não descarta uma volta às novelas. “Só depende do personagem. Se tiver as complexidades e nuances que experimentei com o Sebastião, será um prazer retornar à tevê”, avisa.