Cidades

NOVO GOVERNO

Vélez indica para secretarias do MEC ex-alunos de filosofia sem experiência de gestão

Vélez indica para secretarias do MEC ex-alunos de filosofia sem experiência de gestão

FOLHAPRESS

03/01/2019 - 19h00
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O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, escolheu ex-alunos seus de programas de filosofia, sem experiência em gestão, para metade das secretarias do MEC, algumas consideradas de alta complexidade. Três dos seis secretários estudaram com o novo ministro.

Os nomes foram apresentados nesta quarta-feira (2) na cerimônia de transmissão de cargo para Vélez Rodríguez. O novo ministro não tem experiência anterior em gestão educacional e, em seu discurso de posse, exaltou a igreja, a família e o combate ao que ele chamou de marxismo cultural nas escolas.

O perfil dos escolhidos causou preocupação sobre possíveis dificuldades em manter as ações do MEC. A preocupação é compartilhada, segundo a reportagem apurou, tanto por integrantes do grupo de transição do presidente Jair Bolsonaro (PSL), quanto pela equipe que deixou o ministério e por técnicos de carreira do ministério.

O próprio processo de transição foi abalado por essas escolhas. A insistência de Vélez em manter em posições importantes alguns de seus ex-alunos provocou uma briga e o consequente desligamento de Antônio Flávio Testa da equipe, conforme a Folha de S.Paulo revelou na sexta-feira (28). 

Testa acompanhava a transição no MEC desde antes da indicação de Vélez para a pasta.

Desde o rompimento com Testa membros da equipe de transição têm criticado Vélez por, entre outras coisas, dedicar-se exageradamente nas questões ideológicas sem se dar conta das complexidades das ações do MEC. À reportagem, ao menos três integrantes criticaram a falta de experiência do ministro de Bolsonaro.

Três ex-alunos de Vélez na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) foram indicados. Orientado pelo ministro no mestrado e doutorado em ciência da religião entre 2007 e 2013, Marco Antônio Barroso Faria comandará a Seres (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior) do MEC. 

Considerada uma das posições mais complexas do ministério, essa subpasta é responsável por processos burocráticos de regulação do ensino superior particular. Faria não tem experiência de gestão e é docente da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais). Tem entre seus projetos de pesquisa discussões entre darwinismo e o criacionismo.

Já a Setec (Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica) será ocupada por Alexandro Ferreira de Souza, doutor em filosofia e ex-aluno de Vélez. Também sem experiência em gestão, Souza é professor da rede pública do Espírito Santo.

Outro ex-aluno que chega ao MEC é Bernardo Goytacazes de Araújo, que comandará a nova secretaria de Modalidades Especializadas. Essa subpasta substituirá a atual Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão), conforme a Folha de S.Paulo revelou. A iniciativa foi uma manobra para eliminar as temáticas de direitos humanos e de educação étnico-raciais e a própria palavra diversidade.

Goytacazes foi aluno de Vélez em uma especialização em 2007 e assinou artigos em 2009 e 2011 com o ministro. Em 2016, candidatou-se a vereador pelo PDT na cidade carioca de Três Rios (125 km do Rio), mas não se elegeu. A experiência de Araújo na gestão pública ocorreu na prefeitura de Três Rios, cidade de 101 mil habitantes, onde foi secretário de governo e acumulou interinamente outras pastas.

Já a nova secretaria de Alfabetização será comandada por Carlos Francisco de Paula Nadalim, uma indicação, como a do próprio ministro, do escritor e guru da direita Olavo de Carvalho. Conforme adiantou a Folha de S.Paulo, a experiência de Nadalim é na escola de sua família chamada Mundo do Balão Mágico, em Londrina.

Em vídeos, Nadalim expõe a apostila de seu programa de alfabetização inspirado no método fônico (que concentra atenção na relação entre letras e sons para depois chegar à leitura) e ataca o que seria a tendência nacional de apostar no método construtivista (que, em resumo, alfabetiza já focado na leitura de textos).
No lugar de Testa para a secretaria executiva do MEC, Vélez colocou Luiz Antonio Tozi, que vem do Centro Paula Souza de SP e é engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). 

Tozi indicou para a secretaria de Educação Básica a engenheira Tania Leme de Almeida, também do Paula Souza. Almeida era diretora da Faculdade de Tecnologia de São Carlos (SP).

Quatro indicações do grupo ligado aos militares foram mantidas para o MEC: os professores da FGV Marcus Vinicius Rodrigues e Carlos Alberto Decotelli foram anunciados como, respectivamente, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento à Educação). 

Já a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) será comandada por Anderson Ribeiro Correia, ex-reitor do ITA.

E o general Oswaldo de Jesus Ferreira comandará a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que gerencia hospitais universitários. Ferreira comandou o Departamento de Engenharia e Construção do Exército e colabora com Bolsonaro desde a eleição.

A Secretaria de Educação Superior será ocupada por Mauro Luiz Rabelo, o único remanescente da equipe atual do MEC.

Na posse, Vélez Rodriguez falou do orgulho de ter em sua equipe pessoas influenciadas pelos escritores Olavo de Carvalho, guru da direita e quem o indicou a Bolsonaro, e Antonio Paim. Não citou nenhum educador.

Além de Nadalim, da secretaria de Alfabetização, ao menos outros dois admiradores de Olavo de Carvalho ganharam cargos no MEC. O advogado paranaense Tiago Tondinelli será chefe de gabinete do ministro.

No Inep, Murilo Resende Ferreira foi apresentado como novo diretor de Avaliação da Educação Básica, órgão responsável pelo Enem e pela Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Ferreira é doutor em economia e foi aluno do curso online de Olavo de Carvalho, a quem chama de "o maior amigo".

Desde 2015, é professor universitário em Goiás. A falta de experiência foi apontada como um possível entrave para a atuação na diretoria por servidores do Inep ouvidos pela reportagem.

A Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino do MEC foi extinta pelo novo governo. Na prática, desde 2015 a subpasta já havia sido esvaziada pelo governo Temer.

O Ministério da Educação de Bolsonaro
Ministro: Ricardo Vélez Rodriguez
Chefe de Gabinete: Tiago Tondinelli
Secretário-executivo: Luiz Antonio Tozi
Secretária de Educação Básica: Tania Leme de Almeida
Secretário de Alfabetização: Carlos Francisco de Paula Nadalin
Secretário de Educação Superior: Mauro Luiz Rabelo
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica: Alexandro Ferreira de Souza
Secretário de Regulação e Supervisão e Educação Superior: Marco Antonio Barroso Faria
Secretário de Modalidades Especializadas de Educação: Bernardo Goytacazes de Araújo
Presidente da Capes: Anderson Ribeiro Correia
Presidente do FNDE: Carlos Alberto Decotelli da Silva
Presidente do Inep: Marcos Vinícius Rodrigues
Presidente EBSERH: General Oswaldo de Jesus Ferreira

INCERTEZAS

Gigante da celulose recua e engaveta projeto de R$ 15 bilhões em MS

No fim de novembro a Eldorado informou que ampliaria o plantio de eucaliptos em 2026 de olho da duplicação da fábrica. Agora, porém, diz que esse aumento não sairá do papel

20/12/2025 16h50

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

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Depois de anunciar, no final de novembro, que a partir do próximo ano pretendia ampliar de 25 mil para até 50 mil hectares o plantio anual de eculiptos na região de leste de Mato Grosso do Sul, a indústria de celulose Eldorado deixou claro nesta semana que engavetou, pelo menos por enquanto, o projeto de expansão. 

Com o recuou, a empresa, que produz em torno de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano, deixa claro que está adiando a prometida duplicação de capacidade de produção da Eldorado, o que demandaria investimentos da ordem de R$ 15 bilhões US$ 3 bilhões), conforme anunciado em abril do ano passado pelos irmãos Joesley e Wessley Batista, donos da empresa. 

Em entrevista ao site AGFeed, especiliazado em agronegócio, o diretor florestal da Eldorado, Germano Vieira, afirmou que a empresa tem atualmente 305 mil hectares de pantações de eucaliptos na região, mas precisa de apenas dois terços disso para abastecer a fábrica. 

Ou seja, a empresa tem em torno de 100 mil hectares de eucaliptos sobrando e este excedente está sendo vendido ou permutado com a Bracell e a Suzano, que opera duas fábricas do setor na região, em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. 

Então, caso o comando da Eldorado decida desengavetar repentinamente o projeto da duplicação,  já existe um excedente que seria capaz de abastecer a segunda unidade no período inicial, mesmo que não ocorra o início do plantio extra a partir de 2026, explicou Germano Vieira.

Atualmente são colhidos em torno de 25 mil hectares por ano para abastecer a indústria e o mesmo tanto é replantado, fazendo um giro para que sempre haja florestas "maduras".

São necessários, em média, sete anos para que a planta chegue ao estágio de corte e por conta disso havia a programação de começar o plantio agora (2026) para que houvesse matéria-prima suficiente quando a ampliação da fábrica estivesse concluída. Em três anos é possível fazer a ampliação da indústria, acredita Germando Vieira.  

Uma das explicações para o recuo, segundo a reportagem do AGFeed, é que a Eldorado ainda têm uma série de ajustes financeiros a serem feitos depois que os irmãos Batista conseguiram, em maio deste ano, fechar um acordo e colocar fim a batalha judicial com a Paper Excellence.

Para retomarem o controle total da Eldorado, que funciona em Três Lagoas desde 2012 e havia sido vendida parcialmente em 2017, eles se comprometeram a pagar US$ 2,640 bilhões à canadense Paper, que detinha pouco mais de 49% das ações do complexo industrial.  

Para duplicar a produção, segundo Germando Vieira, serão necessários 450 mil hecteres de florestas. Para chegar a esse montante, a empresa teria que arrendar mais 150 mil hecteres, o que demandaria um investimento da ordem de R$ 180 milhões anuais, já que o arrendamento custa em torno de R$ 1,2 mil por ano por hectare. 

Além disso, somente para o plantio de 25 mil hectares anuais a mais, conforme chegou a ser anunciado, seriam necessários em torno de R$ 220 milhões extras no setor florestal por ano, uma vez que o custo do plantio está na casa dos R$ 8,7 mil por hectare. E isso sem contabilizar os custos com o combate a pragas e combate a incêndios, entre outros. 

No final de novembro, Carlos Justo, gerente-geral florestal da Eldorado, chegou a informar ao site The AgriBiz que 15 mil hectares já haviam sido arrendados para dar início à ampliação do plantiu a partir do próximo ano. 

Preços da celulose

Embora Germano Vieira diga que a demanda mundial por celulose cresça em torno de um milhão de toneladas por ano e por conta disso a Eldorado mantem viva a promessa da duplicação, a empresa pisou no freio em meio à queda nos preços mundiais e ao aumento da oferta. 

Neste ano, o faturamento das três fábricas de Mato Grosso do Sul literalmente despencou. Por conta da ativação da unidade de Ribas do Rio Pardo, que tem capacidade de até 2,55 milhões de toneladas por ano, as exportações de Mato Grosso do Sul aumentaram em 57% nos dez primeiros meses de 2025, passando de 3,71 milhões de toneladas para 5,84 milhões de toneladas. 

Porém, o faturamento cresceu apenas 25,6%, subindo de U$ 2,121 bilhões para U$ 2,665 bilhões. No ano passado, quando a cotação da celulose já não estava nos melhores patamares, o valor médio da tonelada rendeu 570 dólares aos cofres das três indústrias. Neste ano, porém, elas tiveram rendimento médio de apenas 456 dólares, o que representa queda de 20%. 

Em decorrência desta queda nos preços, as indústrias deixaram de faturar em torno de 666 milhões de dólares, ou algo em torno de R$ 3,6 bilhões na moeda local, nos dez primeiros meses deste ano. 

Por conta disso, a Suzano, concorrente da Eldorado, chegou a emitir um alerta no começo de novembro dizendo que os preços internacionais estavam "completamete insustentáveis" e por isso estava reduzindo sua produção em cerca de 3,5%. 

O alerta da Suzano foi feito durante a prestação de contas relativa aos resultados do terceiro trimestre da empresa. E, segundo Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, a situação é crítica e “o setor está sangrando há meses”. 

Mas, apresar deste cenário de apreensão, investimentos da ordem de R$ 25 bilhões estão a todo vapor em Inocência, onde a chilena Arauco está instalando uma fábrica que terá capacidade para colocar 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano a partir do final de 2027. 

Outra empresa, a Bracell, pretende começar, em fevereiro do próximo ano, em Batagussu, as obras de uma fábrica que terá capacidade para 1,8 milhão de toneladas por ano. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 16 bilhões. 


 

MATO GROSSO DO SUL

Em pleno período de chuvas, Hidrelétrica Porto Primavera reduz vazão

Com a barragem mais extensa do País (10,2km), redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciadano último dia 12, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira

20/12/2025 14h14

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera Reprodução/Cesp

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Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, a unidade começou nesta sexta-feira (19) através da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) a redução da vazão, para preservar os estoques de água dos reservatórios da bacia do Rio Paraná. 

Com a barragem mais extensa do País (10,2 km), essa redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciada pela Cesp no último dia 12, prevista para começar ainda em 15 de dezembro, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira. 

"O patamar mínimo defluente será reduzido de forma gradual e controlada, passando dos atuais 4.600 metros cúbicos por segundo para 3.900 m³/s, seguindo diretrizes operacionais do ONS", cita a Cesp em nota. 

Além disso, a Companhia frisa que, durante o processo, será mantido o plano de conservação da biodiversidade que havia sido aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), e teve início em maio deste ano, para monitoramento do Rio Paraná justamente nos trechos da jusante - parte rio abaixo - da Porto Primavera até a foz do Ivinhema. 

Ou seja, entre outros pontos, equipes embarcadas formadas por biólogos e demais profissionais especializados, devem trabalhar como os responsáveis por acompanhar a qualidade da água, bem como a conservação e comportamento dos peixes locais enquanto durar a flexibilização da vazão. 

Importante frisar a redução adotada também ao final de novembro (24/11) e mantida até 1° de dezembro, a partir de quando houve a retomada gradativa aos patamares originais. 

Problemas com a vazão

Em épocas passadas, como bem acompanha o Correio do Estado, o controle da vazão em Porto Primavera já trouxe prejuízo e revolta de produtores que chegaram a culpar a ONS pelas fazendas alagadas por mais de quatro meses em Batayporã no ano de 2023, por exemplo. 

Nessa ocasião, o problema começou com a abertura das comportas de Porto Primavera no dia 18 de janeiro de 2023, com a usina avisando a Defesa Civil de Batayporã da liberação de até 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo. 

Sendo a maior vazão desde o começo do período chuvoso, as águas se somaram ainda à liberação dos cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo do Rio Paranapanema, juntando em torno de 18 mil metros cúbicos por segundo. 

Na linha cronológica em 2023, o problema dos alagamentos começou no final de janeiro, indo até o mês de abril diante do fechamento das comportas em 31 de março. 

Quando a água já havia recuado, saindo de boa parte dos nove mil hectares alagados, as comportas foram reabertas na terceira semana de abril, com vazão máxima de dez mil metros cúbicos.

Depois, o aumento da vazão para até 13 mil metros cúbicos chegou a alcançar 14,7 mil m³, sendo que antes disso o volume anterior já havia sido responsável por invadir casas de moradores locais pela terceira vez no ano. 

Estimativas da Defesa Civil de Batayporã à época apontaram que pelo menos sete mil animais tiveram de ser remanejados na região por causa do mesmo problema. E, mesmo depois que a água baixar, são necessários de dois a três meses para que o pasto cresça e esteja em condições para alimentar os rebanhos. 

 

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