Depois de 13 dias de queimadas intensas e mais de 180 mil hectares do Pantanal transformados em cinzas, os prejuízos para a vegetação e os animais ainda são incalculáveis e o futuro dessa área é incerto, segundo pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal. “Os reflexos dessa situação são difíceis de prever, talvez até impossíveis, dada a extensão das áreas afetadas e a falta de levantamentos do que foi perdido”, garante a instituição, em resposta enviada ao Correio do Estado.
Segundo informações, os incêndios começaram no dia 26 e, em 8 de novembro, o governo do Estado divulgou que o Corpo de Bombeiros e demais envolvidos na situação haviam controlado o fogo, com a ajuda da chuva, que ficou sumida durante outubro. Em uma análise prévia dos pesquisadores, a vegetação pode se recuperar, mas em alguns casos ocorrerão transformações em sua estrutura.
“Várias espécies de plantas que ocorrem no Pantanal são oriundas do Cerrado e apresentam características adaptativas ao fogo (troncos com casca mais grossa e capacidade de rebrota), pois queimadas naturais, em consequências de raios, tendem a ocorrer durante a estação chuvosa. Assim, essas áreas queimadas devem se recuperar, mas as queimadas que ocorrem durante o período seco, geralmente mais intensas, podem resultar em alterações na estrutura e na composição das espécies, principalmente nas matas onde as árvores são mais susceptíveis ao efeito do fogo”, avaliaram.
DANOS
Já para a fauna, esta queimada terá reflexos catastróficos. Insetos e animais com baixa capacidade de locomoção podem ter sido extintos ou deixados à beira da extinção na área afetada pelo fogo. Porém, os especialistas indicam que isso não significa que essas espécies foram extintas do Pantanal, já que a maior parte do bioma foi mantido intacta. “É de se esperar que leve um longo tempo para que a recolonização dessas áreas ocorra e tudo volte ao que era antes. No entanto, é improvável que isso ocorra rapidamente, apesar de a vegetação poder brotar viçosa após o período de chuvas”, responderam. É estimado que cerca de 21% do Pantanal tenha sido devastado neste ano por conta das queimadas.
Durante os trabalhos de combate, uma jaguatirica de pequeno porte foi resgatada, nas proximidades da Fazenda São Paulino, entre Miranda e Corumbá, uma das áreas atingidas pelo fogo. Segundo o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Fernando Carminati, o animal estava muito debilitado, desidratado e com queimaduras.
“Não tinha como trazer [para Campo Grande] ela e autorizaram ir com a aeronave buscar essa jaguatirica”, disse ele, ao Correio do Estado. Equipe de militares da corporação e do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Capital, estavam no local. Conforme o tenente-coronel, foram feitos outros resgates, mas as equipes que trabalharam na região também encontraram muitas carcaças de animais mortos em decorrência do incêndio.
O também tenente-coronel Waldemir Moreira Júnior, chefe do Centro de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros, confirmou a morte da jaguatirica. “Nossa viatura estava transportando o animal silvestre da Fazenda São Paulino para a base da Polícia Militar Ambiental de Rio Negro. Havia muita chuva no local quando a viatura chegou à base. Ela não resistiu”, revelou.
RESCALDO
Na quinta-feira (14), o trabalho de rescaldo na área foi encerrado. “Ressurgiu em alguns pontos o incêndio, no Parque Estadual do Rio Negro, mas foi combatido e extinto. Ontem [nesta sexta-feira], em razão da grande quantidade de chuva no local e a não reincidência de novos focos, foi encerrada a operação”, contou Carminati.
Trabalho de combate ao fogo exigiu o empenho de cerca de 300 pessoas das unidades do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, do Exército e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de funcionários das fazendas.