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Procuradores orientam Incra a anular memorando que rompeu com MST

Procuradores orientam Incra a anular memorando que rompeu com MST

FOLHAPRESS

25/02/2019 - 19h00
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O Ministério Público Federal recomendou ao ouvidor nacional agrário do Incra, o coronel da reserva do Exército João Miguel Maia de Sousa, que anule o memorando da última quinta-feira (21) pelo qual orientou os chefes do órgão a não receber representantes de entidades "que não possuem personalidade jurídica", como é o caso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), e "invasores de terras".

Os procuradores afirmam que a orientação contém "ilegalidades e inconstitucionalidades".

No memorando, revelado pela Folha de S.Paulo na sexta-feira (22), o ouvidor disse agir "em consonância com as diretrizes emanadas pela presidência do Incra", ocupada pelo general da reserva do Exército João Carlos de Jesus Corrêa.

Na prática, o documento formalizou o rompimento de diálogo com o MST. Durante a campanha eleitoral à Presidência, o então candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ) disse que atos do MST deveriam ser classificados como terrorismo.

No ofício encaminhado ao Incra nesta segunda-feira (25), um grupo de procuradores da República recomendou ao ouvidor tornar sem efeito o ofício que havia sido dirigido a todas as superintendências do Incra no país e orientá-los a proceder "o atendimento amplo e integral de todos os usuários do serviço público, sem discriminação de qualquer natureza, o que deve abranger movimentos sociais e quaisquer entidades".

"Advirta-se que a presente recomendação deve ser cumprida a partir de seu recebimento, sob pena das ações judiciais cabíveis, sem prejuízo da apuração da responsabilidade civil e criminal individual de agentes públicos", diz o documento encaminhado pela PFDC (Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão), que funciona na PGR (Procuradoria Geral da República), em Brasília.

A peça é subscrita pela subprocuradora-geral da República Deborah Duprat, que ocupa a PFDC, e os procuradores do Grupo de Trabalho Reforma Agrária Julio José Araujo Junior, Jorge Luiz Ribeiro de Medeiros, Ivan Claudio Marx, Michele Diz y Gil Corbi e Raphael Luis Pereira Bevilacqua.

"As orientações adotam posição de acirramento de tensões sociais e conflitos no campo, em contrariedade ao papel mediador e de busca de pacificação, prevenção e resolução de tais antagonismos conferido à Ouvidoria Nacional Agrária pelo ordenamento jurídico", diz a peça do MPF dirigida ao Incra.

Os procuradores mencionam o artigo 7º do decreto 8955/2017, que estabelece, segundo o MPF, o papel da Ouvidoria como "espaço administrativo de interlocução, mediação e resolução de conflitos sociais no campo".

Os membros do MPF citaram 26 pontos a serem considerados para a revogação do memorando.

A respeito de o MST não ter "personalidade jurídica", pois o grupo não dispõe de número de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), os procuradores afirmam que "não há, seja no direito interno, seja no âmbito do direito internacional dos direitos humanos, norma que exija a formalização de coletivos para habilitá-lo à luta por direitos, inclusive porque toda concepção associativa regula-se pela ideia central de ausência de ingerência estatal".

Os procuradores mencionam "o mais importante precedente sobre o tema", um caso que tratou de interceptação telefônica de duas organizações sociais "ligadas ao MST na luta pela reforma agrária no país e sua posterior divulgação na imprensa".

O caso, segundo a PFDC, tramitou no âmbito da Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada na Costa Rica, que concluiu pela "ofensa ao direito de reunião ou associação, com previsão no artigo 16 da Convenção Americana de Direitos Humanos ('Pacto de San José de Costa Rica')".

"Os potenciais beneficiários da política nacional de reforma agrária não podem ser prejudicados ou discriminados por cumprirem dois desígnios constitucionais, quais sejam, buscar a reforma agrária e se associarem livremente para tal fim", diz a peça dos procuradores da República.

A PFDC afirma ainda que "a ocupação de imóveis que não cumprem a função social da propriedade situa-se dentro das liberdades de manifestação, protesto e expressão" e que apenas uma lei "pode criar obrigação e/ou extinguir direitos tanto na seara cível quanto na penal ou administrativa".

Procurado nesta segunda-feira, o Incra não se manifestou até a publicação deste texto. Na semana passada, a assessoria do órgão encaminhou uma resposta do próprio ouvidor agrário.

Segundo o coronel, "o interessado" que procura o Incra "só representa a si mesmo, desde que devidamente identificado, na defesa de seus interesses, a não ser que possua procuração para fazê-lo em nome de outrem". Os interessados, segundo o ouvidor, "poderão ser recebidos e ouvidos, conforme previsão contida na legislação específica".

O ouvidor afirmou ainda, por meio da assessoria de comunicação do Incra, que "pretende regulamentar, no mais curto prazo, os procedimentos de audiência concedidas a particulares por agentes públicos em exercício na autarquia".

Por fim, o ouvidor afirmou que "a manifestação do interesse do cidadão é livre e deve ser feita pelos canais que os órgãos públicos mantêm para a comunicação direta e a manutenção do diálogo com a população".

As mesmas expressões encaminhadas pelo ouvidor na resposta à Folha de S.Paulo constam de um segundo memorando que foi distribuído às superintendências na sexta-feira (22), após a reportagem que revelou o primeiro memorando.

Para o grupo de procuradores da República, o segundo memorando "em nada altera a orientação anterior, reforçando, ao contrário, as ilegalidades e inconstitucionalidades aqui ressaltadas [na recomendação encaminhada ao Incra]".

Também procurado pela Folha de S.Paulo desde sexta-feira (22), o presidente do Incra, general Jesus Corrêa, não se manifestou até o momento sobre o assunto.

Pesquisa

Extrema pobreza cai a nível recorde; dúvida é se isso se sustenta

O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300

19/04/2024 18h00

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Foto: Favela em Campo Grande - Gerson Oliveira/Correio do Estado

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A expressiva alta da renda em 2023 reduziu a pobreza extrema no Brasil ao seu nível mais baixo da série histórica, a 8,3% da população. O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300. Apesar da queda, isso ainda equivale a praticamente a população do Chile.

O cálculo é do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), do IBGE.

Em relação a 2022, 2,5 milhões de indivíduos ultrapassaram a linha dos R$ 300, numa combinação de mais transferências pelo Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e queda do desemprego. A grande dúvida é se o movimento —e mesmo o novo patamar— seja sustentável.

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Todas as classes de renda (dos 10% mais pobres ao decil mais rico) tiveram expressivos ganhos; e o maior deles deu-se para os 5% mais pobres (38,5%), grandes beneficiados pelo forte aumento do Bolsa Família —que passou por forte expansão nos últimos anos.

Entre dezembro de 2019 (antes da pandemia) e dezembro de 2023, o total de famílias no programa saltou de 13,2 milhões para 21,1 milhões (+60%). Já o pagamento mensal subiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 14,2 bilhões, respectivamente.

Daqui para frente, o desafio será ao menos manter os patamares de renda —e pobreza— atuais, já que a expansão foi anabolizada por expressivo aumento do gasto público a partir do segundo semestre de 2022.
Primeiro pela derrama de incentivos, benefícios e corte de impostos promovidos por Jair Bolsonaro (PL) na segunda metade de 2022 em sua tentativa de se reeleger. Depois, pela PEC da Transição, de R$ 145 bilhões, para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse gastar mais em 2023.

Como esta semana revelou quando governo abandonou, na segunda-feira (5), a meta de fazer superávit de 0,5% do PIB em suas contas em 2025, o espaço fiscal para mais gastos exauriu-se.

A melhora da situação da renda dependerá, daqui para frente, principalmente do mercado de trabalho e dos investimentos do setor privado. Com uma meta fiscal mais frouxa, os mercados reagiram mal: o dólar subiu, podendo trazer impactos sobre a inflação, assim como os juros futuros, que devem afetar planos de investimentos empresariais e, em última instância, o mercado de trabalho.

Apesar do bom resultado em 2023, algumas análises sugerem que o resultado não deve se repetir. Segundo projeções da consultoria Tendências, a classe A é a que terá o maior aumento da massa de renda real (acima da inflação) no período 2024-2028: 3,9% ao ano. Na outra ponta, a classe D/E evoluirá bem menos, 1,5%, em média.

Serão justamente os ganhos de capital dos mais ricos, empresários ou pessoas que têm dinheiro aplicado em juros altos, que farão a diferença. Como comparação, enquanto o Bolsa Família destinou R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de domicílios em 2023, as despesas com juros da dívida pública pagos a uma minoria somaram R$ 718,3 bilhões.

A fotografia de 2023 é extremamente positiva para os mais pobres. Mas o filme adiante será ruim caso o governo não consiga equilibrar suas contas e abrir espaço para uma queda nos juros que permita ao setor privado ocupar o lugar de um gasto público se esgotou.

Voos em queda

Aeroportos de Mato Grosso do Sul enfrentam desafios enquanto Aena Brasil lidera crescimento nacional

No acumulado do ano de 2024, o volume de passageiros chegou a mais de 395 mil passageiros em Mato Grosso do Sul, com um aumento de 4,8% no número de operações realizadas nos três aeroportos do Estado

19/04/2024 17h41

Os três aeroportos de Mato Grosso do Sul mantiveram um desempenho estável no acumulado do ano, com um aumento significativo nas operações. Foto/Arquivo

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A Aena Brasil revelou hoje os números da movimentação nos aeroportos até março de 2024, destacando-se como a empresa com a menor redução de passageiros no país. No entanto, o aeroporto de Ponta Porã, sob sua administração, enfrentou uma redução significativa de 42,4% no fluxo de passageiros em março deste ano.

Esta tendência também foi observada na capital sul-mato-grossense, onde o volume de passageiros em Campo Grande caiu 5,5%, totalizando 118.529 passageiros, e no aeroporto de Corumbá, com uma redução de 14,3%.

Além disso, as operações aeroportuárias também estão em declínio, com quedas de 15,9% em Ponta Porã, 10,6% em Corumbá e 8,7% na capital, no volume de operações.

Apesar desses desafios, no acumulado do ano, a Aena Brasil aponta que o aeroporto internacional de Campo Grande registrou uma redução de 3,0% no fluxo de passageiros e de 3,5% no número de operações aeroportuárias.

Já o aeroporto de Ponta Porã apresentou uma queda de 27% no fluxo de passageiros, mas com um saldo positivo de 4% no número de operações. Além disso, o aeroporto de Corumbá, considerado a capital do Pantanal, registrou um aumento de 4,9% nas operações.

No total, a movimentação nos três aeroportos de Mato Grosso do Sul alcançou 395.388 passageiros e 5.043 operações realizadas.

Veja o ranking nacional:

Aena tem crescimento de 6,3% na movimentação em todo o Brasil

Enquanto isso, em nível nacional, a Aena Brasil experimentou um crescimento impressionante de 6,3% na movimentação. Os 17 aeroportos administrados pela empresa no Brasil registraram 10,4 milhões de passageiros no primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 6,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em relação ao número de pousos e decolagens, nos três primeiros meses houve alta de 5,4%, com um total de 115,5 mil movimentos de aeronaves. Considerando somente o mês de março, o crescimento chega a 6,1% no total de passageiros (3,4 milhões), em relação ao mesmo mês de 2023, e a 1,7% no volume de pousos de decolagens (38,9 mil).

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