A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul suspeita que a menina Gabrielly Ximenes de Souza, 10 anos, morreu por condição clínica anterior às agressões sofridas por uma colega da Escola Estadual Lino Villachá, no Nova Lima, região norte de Campo Grande.
A criança foi velada e enterrada nesta manhã, no Cemitério das Palmeiras, região norte, em caso ainda apurado. Pelo lado da família, a certeza de que houve negligência na série de atendimentos médicos recebidos desde a agressão, no dia 29 de novembro, até a morte, na manhã da última quinta-feira (6).
Só que a delegada Fernanda Félix, responsável pelo caso, as mochiladas nas costas apontadas como a causa da morte, podem só ter sido um agente que agravou uma condição clínica pré-existente. E descobrir isso passou a ser o objetivo primordial no rumo das investigações pelo lado criminal.
"Impossível. A causa do óbito não é condizente com os três golpes de mochilas recebidas. Ainda mais que dentro só havia cadernos, não livros, como se foi falado", disse a delegada.
A certeza de Fernanda veio após o depoimento da criança que brigou com Gabrielly, de 9 anos. Falou junto de duas colegas, de 14, que apenas presenciaram a confusão. Outros depoimentos, até de adultos, tornam o parecer mais sólido. A delegada desmente a informação de que a briga, física, se iniciara dentro da escola. Houve a troca de ofensas e a possível ameaça da menina.
O motivo, corretamente apontado pela delegada, pouco importa em um primeiro momento onde se descobrir o que matou Gabrielly é o mais prudente para se evitar falsas acusações populares we buscar uma elucidação correta dos fatos.
A família, por enquanto, nega que Gabrielly tivesse algum problema de saúde e aponta o descaso médico como a causa da morte (leia a seguir).
FAMÍLIA
Para familiares de Gabrielly, houve descaso e erro médico. Além da investigação da Polícia Civil, a família também promete ir à Justiça. "Não vai trazer ela de volta, claro. Mas vai impedir que outras crianças morram do mesmo jeito. Não tem como uma briga na escola terminar em morte", disse o comerciante Célio Vilela, 42 anos, tio da vítima.
Vilela atendeu a imprensa durante o velório de Gabrielly, ocorrido na manhã desta sexta-feira (7), no Cemitério das Palmeiras, região norte da Capital.
Lotada, a despedida da menina descrita como "gentil, educada e prestativa" foi marcada pela comoção, de uma vida tão promissora ser retirada de maneira brutal, e revolta, pelo que os familiares e amigos consideram uma sucessão de erros médicos, descaso, que não identificaram a real condição clínica de Gabriela a tempo de evitar a sua morte.
Por conta disso, Vilela diz que percorrerá todos os hospitais e pronto-socorro onde Gabriela foi atendida afim de buscar os laudos e prontuários. Quer comprovar a tese de descaso desde que a menina foi agredida por duas colegas na porta da Escola Estadual Lino Villachá, no Nova Lima, região norte.
O tio, Vilela: família promete ir à Justiça "para que ouras crianças não morram" (Fotos: Valdenir Rezende)
Para o tio, os erros começaram logo no atendimento. Acionada, a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) teria demorao mais de uma hora e meia para chegar. O motivo, contaram aos familiares: a ausência de maca, retida com outra equipe.
Levada à Santa Casa naquela quinta-feira, Gabriela ficou em observação e recebeu alta sem, segundo os familiares, receber qualquer tipo de medicação ou exame mais aprofundado.
Liberada mesmo com reclamando de constantes dores nas pernas e virilha, Gabrielly foi levada na segunda-feira (3) à Unidade de Pronto Atendimento do Coronel Antonino, onde recebeu uma dosagem de dipirona, na tentativa médica de suavizar as dores.
Gabrielly foi encaminhada então à Central de Especialidades Médicas da prefeitura no dia seguinte. Já dizia não sentir as pernas e tinha dificuldades em andar. Teve então os membros imobilizados com uma tala, novamente sem nenhum exame mais detalhado, conta o tio.
Sem nova melhora, Gabrielly voltou à Santa Casa na quarta (3). Foi quando começou a apresentar as paradas cardíacas. A última, às 6h, foi fulminante.
MOTIVAÇÕES
Nem mesmo a escola estará livre de ação, garante Vilela. Segundo ele, as circunstâncias são estranhas. E há testemunhas que garantem que a briga começara dentro da unidade educacional.
Mas qual a motivação. Vilela suspeita de inveja. Dias antes encontrara a sobrinha na porta de uma loja do bairro. Estava triste. Tinha apenas R$ 4 em mãos e queria comprar um presente para a professora. "Mas tudo nessa loja custa mais de R$ 10 tio", disse ao familiar, que de imediato lhe deu a autorização para que escolhesse o que quisesse pois ele iria pagar.
O relato faz Vilela se emocionar. Descrente que algo tão brutal possa ter ocorrido com uma criança bondosa. Que há seis meses se convertera junto dos familiares ao evangelho e tinha na sua religião os dogmas para uma vida de bondade e carência. Sem dúvida qualidades que os presentes no velório tentaram levar em um mundo a cada mais brutal e não digno de esperança.