Quatro dias depois de dois adolescentes invadirem uma escola estadual de Suzano (SP), matarem oito vítimas e se suicidarem na sequência, Mato Grosso do Sul viu uma menina de 11 anos ser encontrada morta em sua casa, em Mundo Novo, ao lado da pistola calibre ponto 40 do pai, um policial militar.
A própria polícia confirma que a principal linha de investigação do caso é a de suicídio (leia mais abaixo).
Além da tragédia da criança, outros casos chamaram a atenção após a tragédia de Suzano, como um menino de 15 anos apreendido após denúncias de que estaria ameaçando a escola onde estuda, em Terenos, e mensagens com promessa de repetir o que aconteceu na cidade paulista em Nova Andradina (veja ao lado).
Consequência direta? Para especialistas ouvidos pelo Correio do Estado, sim. Psicológos das principais universidades de Campo Grande explicam que um fato de grande proporção pode sim servir de motivação, evidentemente não positiva, para outras crianças e adolescentes que estejam passando por problemas emocionais.
"Toda a sociedade está em uma condição pós-traumática depois do ocorrido. E crianças e adolescentes são mais suscetíveis aos reflexos", resumiu o professor André Veras, da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
"Crianças e adolescentes precisam de identificação com algum grupo , senão se sentem excluídas, principalmente no ambiente escolar, onde acabam sendo marginalizadas. É importante que as escolas tenham essa primeira observação e combatam esse afastamento", apontou o professor.
REGULAÇÃO SOCIAL
Para Aline Reis, professora da cadeira de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a sequência de casos evidencia um problema chamado na área como a dificuldade das novas gerações em encontrar estratégias saudáveis de regulação social. Ou seja, buscar meios saudáveis de solucionar e superar fristrações pessoais da vida.
O diagnóstico foi obtido justamente após pesquisas com crianças e adolescentes, que, segundo a especialista, "não tem desenvolvimento cerebral maduro o suficiente" para entender as consequências daquilo que estão fazendo.
De forma resumida, crianças e adolescente estão cada vez mais afastado de um convívio social saudável para buscar soluções práticas aos problemas e meios eficazes de superar adversidades e frustações. E as respostas não são tão saudáveis, como a auto mutilação e o suicídio.
"O que chamamos de estratégia permanente (o suicídio) para problemas passageiros. É a falta de domensão do que sigbifica aquele ato com um problema solucionável a curto ou médio prazo", explicou a professora da UFMS.
ARMAS, BULLYING E EXEMPLOS: RECEITA DA TRAGÉDIA
Claro que a psicóloga se refere a um quadro habitual do cotidiano. E que o cenário pós-tragédia de Suzano agrava, e muito, as coisas. Ainda mais se a criança possui fácil acesso às armas, como a filha do PM.
Pesquisas feitas por Aline apontam que meninas buscam mais o suicídio que os meninos. Porém são eles que conseguem os resultados práticos, pois buscam a forma mais letal, as armas de fogo, em comparação com overdoses de remédios e afins usados por elas.
"Se a gente pensar que arma de fogo está disponivel, acessivo, isso é extremamente negativo. O cérebro do adolescente tem dificuldade em adiar a gratificação, em esperar que algo venha a acontecer, como também a busca de solução imediata e um comportomanto mais impulsivo, por si só desenvolvimento cerebral tem dificuldade de controlar os impulsos", explicou a professora. "A existência de uma arma pode desencandear uma tragédia."
E se falta a coragem, casos como de Suzano podem sir serem exemplos de motivação para a consumação do ato. Os especialistas concordam que é quase impossível de não se trazer esses casos a público, pela brutalidade e comoção que geram. E nisso que os pais precisam prestar atenção.
Veras destaca que principalmente os adolescentes são mais irritadiços. E que mudanças de comportamento não são apenas com os sintomas habituais clássios de depressão, como tristeza, choro e perda de interesse na rotina. Aparecem muito mais na forma de irritabilidade. Muito fácil de serem confundidas com questões clássicas e habituais dos dilemas da adolescência.
"O adolescente pede ajuda, a nossa sociedade, nossa cultura tem promovido a rivalidade, a questão do ser o melhor, um corpo saudavel, perfeito, a gente vê um incejo para que o bullying aconteça. Quem não se enquadra ou se encaixa na aparência, forma física, inteligência, tende a uma certa intolerância na conjuntura atual da sociedade, de promover a intolerancia em várias formas", completou a professora Aline.
Por isso, mais uma vez responsáveis pelos círculos sociais do jovem, como escola e família, devem ficar atentos com casos de maior isolamento entre jogos e o mundo virtual que com as interações sociais. Geralmente a família tende a considerar normal e até saudável a presença do adolescente em seus dominios, não distingue o isolamento, o pouco tempo junto e sua vida em uma realidade paralela, sem detectar o problema em curso. Como no caso de Suzano, onde imagens tiradas de fóruns que incentivam o suicídio entre jovens mostram eles sendo cultuados pelo tiroteio promovido.
"Não é uma questçao apenas de confiança, de dizer para não mexer nas armas da casa, é necessário cumprir as regras, de armazenamento, de segurança, cofres, separar a munição. Um caso grave como essa gera empatia a jovens que esteja sofrendo", resumiu o coronel aposentado da PM paulista José Vicente da Silva, secretário nacional da Segurança Pública na gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).